Com 25 anos de carreira, Rodrigo Santoro se prepara para lançar o filme ”O Tradutor” e conversa com a Trip sobre paternidade, exposição e assédio em Hollywood
Com 25 nos de carreira, Rodrigo Santoro, 43, segue transitando em diversos universos da dramaturgia, de produções milionárias, como Westworld, série da HBO, a filmes alternativos como O tradutor, uma coprodução entre Cuba e Canadá, exibida no Festival Sundance, em 2018. O longa chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 4 de abril e narra uma história real envolvendo o pai dos irmãos cubanos Rodrigo e Sebastián Barriuso, que assinam a direção.
Rodrigo vive o protagonista Malin, um professor de literatura russa convocado para ser intérprete entre médicos e vítimas do acidente nuclear de Chernobil (atual Ucrânia), que foram enviadas para tratamento em Cuba nos anos 80. “Todas as relações familiares do personagem mudam depois que ele começa a trabalhar com as vítimas do câncer infantil”, conta o ator.
Em março, ele participou do Circuito Spcine, projeto que tem como objetivo democratizar o acesso ao cinema levando filmes e debates principalmente para bairros da periferia de São Paulo. “É um desejo antigo meu poder falar de cinema em escolas e espaços públicos. Educação é uma questão urgente no Brasil.”
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Em junho, Rodrigo estreia o filme Turma da Mônica – Laços, a primeira live-action da série, em que Rodrigo interpreta o Louco, personagem que aparece em algumas histórias de Maurício de Souza. O ator também se prepara para as gravações da terceira temporada de Westworld (com previsão de estreia para o ano que vem) e para as gravações de Reprisal, uma série de ação que será transmitida pela plataforma de streaming Hulu (sem previsão de estreia). Ainda em 2019, ele participa da série portuguesa Solteira e Boa Rapariga, que será exibida pelo canal RTP1, e de um filme de ação gravado para a Netflix (ainda sem nome divulgado), protagonizado por Joseph Gordon-Levitt (500 Dias com Ela) e Jamie Foxx (Django Livre).
O leonino segue com disposição de viajar “para onde tiver trabalho” e conta que não passa mais de três meses no mesmo lugar, mesmo tendo suas bases em Los Angeles e no Rio de Janeiro, onde mora com a esposa e atriz Mel Fronckowiak e a filha Nina, que completa dois anos em maio. Em entrevista à Trip, ele fala sobre o filme O Tradutor, reflete sobre exposição nas redes sociais, denúncias de assédio em Hollywood e paternidade.
Trip. Quais desafios enfrentou atuando em O Tradutor?
Rodrigo Santoro. Primeiro foi a língua, tive que falar espanhol, com sotaque cubano, e russo. O roteiro também era desafiador, porque é uma história real contada pelo filho do protagonista. O filme toca em vários temas delicados, fala do acidente de Chernobil, que foi pior acidente nuclear da história, e sobre o câncer infantil.
Como foi a preparação para falar em russo e espanhol? Apesar de eu ter familiaridade com o espanhol, tive que trabalhar o sotaque cubano, que é muito específico. E russo é uma língua estrangeira sem nenhuma semelhança com português. Tive que fazer um intensivo de quatro semanas trabalhando em cima do material que eu tinha, mergulhando um pouco na cultura russa, tentando me familiarizar com o idioma.
O que pesa na escolha dos seus papeis hoje? Nada mudou desde que comecei, aos 18 anos. É um diálogo interno, não tem muita explicação.
Você é um dos votantes do Oscar. Como tem sido a experiência? Fui convidado há uns dois anos. Tem sido maravilhoso porque tenho acesso a todos os filmes. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é assistir a filmes. Você tem praticamente seis meses pra assistir tudo, então dá tempo, tranquilo.
Você lida bem com o envelhecimento? Por enquanto, tá tudo bem, meu foco tá na disposição. Como eu viajo muito e faço muita coisa, preciso estar disposto pra trabalhar. Ainda tô conseguindo dar conta do recado, num momento muito bom. Fui pai há pouco tempo, estou lidando com coisas lindas e novas.
Você sempre teve fama de discreto, de não falar da vida pessoal. Como lida com a exposição hoje? Fama a gente não controla. Não me exponho mais do que já sou exposto. Me exponho através dos personagens e no dia a dia levo uma vida normal. Não é questão de buscar discrição, mas sim, de tentar viver como uma pessoa normal, fazendo coisas que todo mundo faz. Isso é importante para a sanidade. Eu já lido com isso há bastante tempo, é difícil, mas a gente vai amadurecendo.
Mesmo assim, no ano passado fizeram uma montagem em que você veste uma camiseta estampada com a cara do Bolsonaro. Não foi só uma, foram algumas montagens. Teve camiseta pró e contra Bolsonaro. Não foi a primeira vez que fui vítima disso e nem o único ator. Acho que é meio aleatório, não tem nenhum critério. A gente ainda tá explorando o mundo digital, mas acredito que estamos caminhando para ter uma legislação para internet que possa nos proteger de alguma forma. A internet horizontaliza a informação e você não sabe o que é o quê. Tem que checar tudo muito bem.
Você acompanhou o movimento #MeToo depois que estouraram as denúncias de assédio em Hollywood? O que a gente vê nos sets hoje são pessoas muito mais atentas a tudo, pensando mais na maneira de se comportar. Nos Estados Unidos, o movimento foi muito forte. Pra mim, aconteceu tarde, não deveria ter demorado tanto. O respeito em relação à mulher não é uma ideologia nem um movimento, é um imperativo da civilização, da sociedade democrática.
Isso te afetou de alguma forma? Eu cresci numa família com muitas mulheres, minha relação sempre foi de muito respeito e igualdade. As denúncias são um reflexo do que a gente tá vivendo no mundo, com a chegada da internet e a oportunidade de se manifestar. Sempre respeitei e sempre tive o mesmo olhar.
A discussão sobre feminismo vem crescendo nos últimos anos. Você pensa como isso pode afetar a vida da sua filha? Eu penso na minha filha como um ser humano, como sempre olhei para as pessoas. Com meu trabalho, reflito sobre questões humanas, independentemente de ser mulher, homem, negro, branco ou japonês. Os pais têm mania de projetar coisas nos filhos, mas é uma outra pessoa que tá ali. E eu procuro dar espaço para que essa pessoa se expresse. É pensar menos nos rótulos e movimentos e mais na relação humana.
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