O Brasil grande é aquele com uma educação grande e para todos
Nesses dias confusos, de inúmeras manifestações pelas ruas, o que ficou para mim é a urgência de fazer aquilo que, de fato, pode nos transformar em uma verdadeira potência. O Brasil grande é aquele com uma educação grande e para todos.
Não nego jamais a vitória do combate à tragédia social histórica do Brasil que o modelo de desenvolvimento através do consumo, adotado pelos últimos governos, proporcionou. Aplaudo o resultado objetivo e sou contrário a qualquer discurso que desqualifica esse projeto sem levar em conta o ponto de vista de quem sofria com a fome, com a miséria e com a exclusão social. Foram 40 milhões de beneficiados diretos pela transferência de renda dos programas sociais que saíram da linha da pobreza. Isso é, sim, uma vitória sem precedentes.
Entretanto, assim como tantos brasileiros, eu quero mais. Muito mais. O modelo de crescimento baseado no consumo já não responde às questões urgentes e fica claro que, apesar de conseguirmos a mobilidade social tão sonhada, nosso país não vai mudar realmente de patamar se insistirmos apenas no crescimento da renda como caminho. Quando falo em outro patamar, estou me referindo a um país que seja protagonista de seu destino, verdadeiramente consciente de suas potencialidades, completamente tomado pela capacidade dialética e pelo potencial de criação e invenção de novos projetos e propostas de transformação social. Estou, em suma, falando de um país que seja palco de uma verdadeira e plena revolução educacional.
Durante as manifestações que tomaram o país, o grande professor Miguel Nicolelis concentrou esforços em suas redes sociais para trazer para o debate justamente a necessidade dessa transformação radical na educação. Escreveu o professor: “Depredar o Palácio Itamaraty, um ponto de ônibus, agredir um ser humano simplesmente porque ele pensa diferente, são todos sintomas de um mesmo problema. Para os jovens e todos os cidadãos que realmente querem mudar o Brasil, só resta apoiar uma revolução educacional inclusiva, humanística, científica para todos. E a desconexão tem que ser olhada de frente, equacionada e resolvida conjuntamente com a sociedade civil. Não dá pra pôr embaixo do tapete e esquecer”.
Claro que essa necessidade sempre foi uma questão central para mim e para muitos que sonham com um outro Brasil. Alguns políticos sérios dedicam suas vidas à luta educacional e pregam tais transformações estruturais quase que de forma quixotesca. Outros grandes brasileiros, em outras épocas, foram símbolos dessa reflexão que parece que nunca vai se concretizar. Para fazer justiça, jamais podemos esquecer os mestres Paulo Freire e Darcy Ribeiro, que simbolizam perfeitamente esse sonho educacional. Entretanto, é fácil perceber o quanto as questões corriqueiras do dia a dia e as emergências sempre presentes em um país jovem e com tantos problemas acumulados como o nosso acabam se sobrepondo a essa agenda prioritária e absolutamente inadiável.
BOTA PRA QUEBRAR
Outro notável professor, Roberto Mangabeira Unger, foi convidado do programa Esquenta, da Rede Globo, que foi ao ar no domingo da semana que aglutinou todas as manifestações que tomaram o país. O programa, com opiniões fortes do professor, foi curiosamente gravado quase um mês antes do levante popular. Disse Mangabeira que era fundamental transformar o espontaneísmo inculto do brasileiro em flexibilidade preparada, e que isso seria a base para outro tipo de educação. Falou ainda que aceitar pouco e enfrentar muito era o caminho a ser seguido por nossos governantes e líderes, se realmente estivessem dispostos a mudar para muito melhor nosso país. E concluiu de forma retumbante com a frase: “O povo brasileiro não quer açúcar. O povo brasileiro quer botar pra quebrar”.
Confesso que nesses dias confusos e diferentes – que esperançosamente espero que sejam importantes para o futuro do país, como pregam tantas pessoas de matizes políticas e culturais diversas –, preferi refletir e digerir tudo o que estava acontecendo e evitei manifestações mais contundentes no calor dos fatos. Fui às ruas, como tantos, li artigos de jornais e revistas e varei madrugadas na internet acompanhando a nova mídia que emergiu de todo esse contexto e que o registrou como ninguém.
O que ficou para mim é justamente a urgência da mensagem de mudança profunda passada de diversas formas e por pessoas importantes do passado e do presente. É urgente um enorme esforço dos governos e de todos os setores da sociedade para fazer aquilo que, de fato, pode nos transformar em uma verdadeira potência. O Brasil grande é aquele com uma educação grande e para todos. Esse é o crescimento que verdadeiramente interessa agora.
*Alê Youssef, 38, é colaborador do programa Esquenta, da Rede Globo, e diretor artístico do Studio RJ. Criou o Studio SP e foi coordenador da Juventude da prefeitura de São Paulo (2001-04). E-mail: alexandreyoussef@gmail.com |