Revival do revival

por Diogo Rodriguez

Um show em São Paulo fez com que valesse a pena continuar com o revival dos anos oitenta

Definitivamente, o rock nacional não se resume ao que Arthur Dapieve chamou de "BRock", em seu livro que tem essa expressão como título. Legião Urbana, Capital Inicial, Barão Vermelho, são a face mais famosa de uma cena que era muito plural. Nos últimos meses, a volta de bandas alternativas paulistanas tem mostrado que o underground fez música que não teve sucesso, mas que merece ser lembrada. Nomes como Fellini, Violeta de Outono, 3 Hombres, voltaram à ativa e têm feito shows pela cidade e em outros lugares do Brasil. Na última quinta-feira foi a vez de ver duas das melhores e mais divertidas bandas dos anos 80, Smack e As Mercenárias.

A Livraria da Esquina, misto de pub europeu com loja de livros, recebeu uns poucos privilegiados que ouviram muito bem (o som estava ótimo) o pós-punk bem punk das Mercenárias e o rock indefinível da primeira banda de Edgard Scandurra, o Smack. O clima ali era de amizade, mais do que um concerto histórico. Scandurra e Sandra Dee circulavam entre as mesas e os livros cumprimentando amigos e tomando cerveja antes do show começar. 

Em forma de trio, subiram primeiro As Mercenárias. A platéia se empolgou com as canções rápidas e de poucos acordes. Houve quem pedisse "Polícia" (que diga-se de passagem, não é a mesma dos Titãs), mas ela preferiram deixar o hit de lado. Scandurra foi convidado a tocar a última música e já ficou por lá para que o Smack fizesse seu número.  Quem estava ali viu um dos melhores guitarristas do Brasil socar sua guitarra Stratocaster verde com acordes dignos de Pete Townsend (da banda The Who) e fraseados que lembravam os punks nova-iorquinos do Television.

Depois de quase uma hora e meia, o show tinha de terminar porque a baterista ainda iria fazer um show no CB. Enquanto ela desmontava seu kit no palco, os integrantes do Smack decidiam se atendiam aos pedidos de "mais um". Scandurra resolveu sentar na bateria toda desfalcada, sem pratos e com a caixa no colo, e Sandra comandou a última canção da noite, sob aplausos extasiados com o improviso.

Essa noite "histórica" na Livraria da Esquina mostrou que vale a pena continuar a fazer um revival dos anos 80, apesar de isso já estar fora de moda. Que seja relembrada a parte dessa década que ficou injustamente esquecida. 

 

 

 

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