Resistência
Desde que nasci quiseram me mudar. A princípio aceitei, mas logo que tomei consciência de mim, resisti. Resisti ferozmente. A tudo e a todos que se atreveram a querer me mudar do que sou. Resisti aos espancamentos de meu pai que, pela pele ferida queria que eu fosse o que ele jamais foi. Resisti às escolas que quiseram me transformar em “um homem de bem”. Fui para as ruas aos 11 anos de idade por fortes motivos, entre eles resistência à opressão doméstica. Resisti ao frio, à fome e aos maus tratos das ruas. Resisti aos outros iguais a mim que queriam me usar, bater e dominar. Agora era mais fácil: eu podia reagir. Resisti aos comissários de menores e aos guardas de cadeia que só queriam espancar e humilhar. Resisti aos torturadores que me arrancaram as unhas dos pés e das mãos a pauladas. Resisti aos valentões da prisão que queriam se aproveitar de mim. Até matei um deles. Resisti por teimosia ou porque só podia resistir mesmo. Verguei como palmeira para sobreviver. Resisti às celas-fortes, às “cafuas” e às solitárias. Resisti aos camburões que esmigalhavam depois de torturar em caixas de aço por horas. Resisti aos caros companheiros de prisão. À rebeliões, grupos, facções, sempre firme no meu posto de independência. Resisti à minha ignorância, estupidez, à violência, à cultura criminal que me permeava quase por imanência.
Resisti a anos subjugado em prisões para menores de idade que nada ficavam a dever às demais. Resisti a 31 anos e 10 meses de prisão em penitenciárias. Aqui fora continuo inteiro, resistindo as pressões da grana e todas as outras. Será que conseguirei resistir à morte? Bem, na hora a gente vê.
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Luiz Mendes
08/04/2011.