Agora pouco estava mexendo em meus papéis e encontrei essa pequena série de reflexões que fiz algum dia, nem sei qual. Li e senti saudades desse ser que eu era quando as escrevi. Veja:
REFLEXÕES ANTIGAS
Preciso sentir tudo e todos e de todas as maneiras que me permitirem ou não. Sentir excessivamente, porque tudo o que é verdadeiro é excessivo. Extraordinariamente nítido; furiosamente lúcido e claro; violentamente atento e concentrado. Somente assim completarei a vida para a qual me sinto feito. Aquela que me silencia quando acordo com o coração descompassado.
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Eu que sobrevivi à minha própria ruína abro largo sorriso ao mundo e às pessoas. Meus olhos são puros de esperanças e cheio de vontade de contribuir e amar a quantos e a tudo que me permitir.
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Às vezes não quero ser eu, essa consciência que passa, qual brisa leve. Quero afastar-me de mim, cansado de ser o que nem sei ao certo o que seja. Abrir um abismo. Estou cansado desse eu que carrego, já sem forças. Quero outro.
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Há sempre um aperto no peito, um espasmo na garganta, que se traduzisse em grito, por certo assustaria o mundo. Mas estou no que perdura, com a alma entre aberta e os dentes cerrados enquanto o vazio se descola da boca de meu estômago.
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Alma turbulenta, vivo complicadamente. Aprendi a ter o céu como teto, o planeta como casa e a amar como quero. Vivo ao sol, como um insulto, uma provocação de olhos abertos. Não posso ter apenas recordações e um destino, apenas orar para escutar e crer. Vivo para interromper porque nada é implacavelmente necessário. A golpes de invenção, quero chegar onde não se espera. Ser surpreendido por um poema desconcertante, por exemplo.
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Somos, cada um de nós, um infinito reservatório de futuro e surpresas; uma tarefa contínua a se realizar. O mais complexo ainda é que cada um de nós é irredutivelmente diferente do outro, possibilidades sem fim de combinações, metamorfoses e satisfações.
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O amor é a mais profunda celebração do relacionamento humano. Expressa a consciência de que não existimos plenamente sem o outro. No diálogo, na acolhida, na interpretação do outro nos completamos. Não há individualismo ou totalitarismo, esses pólos de opressão. O indivíduo é considerado isoladamente, tem seu espaço de liberdade e mistério, ao tempo que transparece.
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Minha vontade é acordar todos os dias como um artista. Pensando no que se vou criar no dia que tenho pela frente. Encarar minha existência como uma obra de arte a ser executada por mim. Careço de me fazer militante da criação. Se logo cedo eu fizer um afago, abrir um sorriso, ou mesmo lançar um olhar terno, estarei criando amor. Preciso investir no dia disposto a colaborar com a própria vida para que ela seja melhor a cada momento, recriá-la e fazer arte.
Luiz Mendes
28/07/2009.