REALIDADE/FICÇÃO
Jean Paulo Sartre, filósofo francês, dizia: “Não importa o que o mundo tenha feito com você. Importa o que você faz com o que o mundo tenha com você”. Adotei esta assertiva como máxima pessoal desde a primeira vez que o li. É possível discuti-la em vários níveis. Tempo/espaço (a proposição do aqui e o agora como realidades únicas, por exemplo), mas, com certeza, o tema realidade/ficção em termos comportamentais se destaca.
A princípio não pude controlar o que a vida fazia comigo. A diferença entre realidade/ficção era que só a ultima fazia sentido. Sentido na sua coerência lógica imediata. Pelo menos do plano que eu enxergava. Então porque pensar em qualquer coisa senão a satisfação imediata dos sentidos? E, tudo ocorreu depressa demais, antes que pudesse perceber o que estava acontecendo. David Hume, pensador inglês, dizia: “...posso me aventurar a afirmar que cada um não é nada além de uma coleção de percepções que se sucedem numa rapidez inconcebível e estão em perpétuo fluxo e movimento.” Somos um ensaio de continuidades, segundo ele.
Do que percebo, tentando entender essa gente que pensa relacionando com o que vivo, parece-me que somos uma sucessão de fragmentos, hábitos, habilidades e conhecimentos. Não temos um controlador centralizado, nossas percepções são fragmentos pinçados de uma imensurável riqueza. Somos “cambiantes cenários de percepções e comportamentos”, diz John Gray, em seu impressionante livro “Cachorros de Palha”.
Mas, essa realidade que não faz sentido possui infinitos recursos. De repente, eis que encontro um destino (pelo menos é o que parece) em um caminho que ninguém podia imaginar. Como um bruto, estúpido e disposto à violência total pode se transformar em um escritor? Uma pessoa que vive do que pensa, escreve, fala e propõe. Tem até quem me leia ou dê ouvidos e, incrível, goste tanto que me acompanhe há anos. É que a ignorância e a falta de cuidado me levavam à estupidez e brutalidade como única resposta possível. Parece que os livros, o texto, o pensamento em atividade incessante, para além da ficção, buscando não sei bem o que, constituem essa riqueza onde pinço minhas percepções a formar minha realidade que vão fazendo um certo sentido a médio prazo.
Luiz Mendes
12/08/2009.
Obs. Hoje, às 20 horas, estarei tendo uma conversa com uma pequena, mas interessante platéia no Espaço Vida Holística na Rua Florida, 528 – Brooklin. Chamam essa conversa de palestra.