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Prazer em conhecer

Deva Nishok investiga os caminhos para orgasmos mais intensos e uma sexualidade mais madura

Workshop em 2010: Deva Nishok instrui um casal de alunos na arte de provocar orgasmos transcendentais

Workshop em 2010: Deva Nishok instrui um casal de alunos na arte de provocar orgasmos transcendentais / Créditos: Jodri Burch


Por Bruno Torturra Nogueira

em 12 de setembro de 2012

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Inconformado com o sexo convencional, há 20 anos Deva Nishok investiga os caminhos para orgasmos mais intensos e uma sexualidade mais madura. À frente do maior centro de massagens tântricas do Brasil, ele observa e busca transformar a distante relação dos homens com o próprio pênis. A vaticina: “o macho está em crise. Uma nova cultura precisa passar por um novo entendimento dos genitais”

Se Deva Nishok tem uma missão nesta vida é a de honrar o que tem no meio das pernas. Da maneira mais literal possível. Há mais de 20 anos ele se tornou um aplicadíssimo autodidata das teorias, e sobretudo das técnicas, que envolvem o prazer sexual e a busca por um orgasmo mais completo. Penetrou em tudo: filosofias orientais, tantra, grupos de sexo livre, ginásticas pélvicas, anatomia, respirações e meditações… mas nada teria a menor serventia se Deva Nishok não tivesse começado pelo básico: olhar com mais atenção para o próprio pau.

“É impressionante como as pessoas não conhecem o próprio genital”, ele constata, “e essa é a primeira causa de uma sexualidade retraída, insatisfatória.” De um modo geral, o ofício dele é despertar uma nova relação entre pessoas e seus respectivos órgãos sexuais através da experiência sensorial mais intensa possível. E, dessa forma, engajar o corpo e a mente na produção de orgasmos que vão além de uma descarga de prazer, “que conectam o ser humano a uma experiência oceânica”, Nishok explica.

Essas fronteiras são diariamente exploradas por ele e seus discípulos no Centro Metamorfose, um espaço dedicado ao atendimento de homens e mulheres interessados em conhecer os poderes orgásmicos e transformadores da massagem tântrica aplicada pelas mãos de terapeutas formados também ali; ou, para os mais interessados, um espaço para cursos e workshops dessas mesmas técnicas.

Nishok e seu centro foram tema de uma matéria extensa na Trip #195, de dezembro de 2010. Desta vez voltamos ao Metamorfose e às palavras de Deva – e o que há menos de dois anos era uma turma relativamente pequena de especialistas tornou-se um grupo de 60 terapeutas em centros espalhados pelo Brasil todo. Só em São Paulo são cinco casas e nos próximos meses unidades serão abertas em Lisboa, Barcelona e Londres.

A clínica vem se tornando uma escola de sexualidade que pretende tirar o foco do sexo da mera penetração e abrir uma perspectiva fisiológica, técnica e, acima de tudo, mais pragmática para, em um falso paradoxo, atingir resultados transcendentais. E, em última instância, também sociais: “A dificuldade que a sociedade ainda tem de lidar com algo tão natural quanto nosso prazer é a causa de muito sofrimento, violência, infelicidade”.

Os anos de pesquisa e as milhares de pessoas que buscaram o Metamorfose fazem de Nishok um dos mais privilegiados observadores da insegurança, da ignorância, do abismo que existe entre os homens e seus respectivos pintos. E um dos melhores doutores na hora de diagnosticar por que o mundo baseado na testosterona anda tão impotente. “Cada vez menos você encontra um papel social definido para o masculino. Esse modelo já foi mais evidente no passado, mas nossa sociedade passa por uma transformação profunda.”

Assim ele conclui, colocando, humildemente, o pau na mesa: “Sem a inclusão dos genitais na hora de nos compreendermos, o ser humano não se realiza. Uma nova cultura precisa aceitar esse fato. E temos hoje uma facilidade muito maior do que em qualquer outro período da história para alcançarmos isso. Não há tempo a perder”.

Depois de tantos anos trabalhando com a reeducação sexual de homens, qual a grande questão, a grande crise na masculinidade?
O que eu mais identifico é que não existe mais um modelo claro. Cada vez menos você encontra um papel social definido para essa ideia do masculino. Por muito tempo nós definimos quem era homem ou mulher somente pelo tipo de genital que a pessoa tinha. Mas isso se demonstrou errado. Muitos que nasceram homens são do gênero feminino, e muitas mulheres são masculinas do ponto de vista da psique, da emoção. A coisa está em um caminho de maior indiferenciação.

E você vê isso como algo positivo?
Antes de saber se isso é negativo ou positivo, é preciso identificar que há algo errado no percurso. Houve uma falência do modelo antigo de masculinidade, do macho alfa, dominante. E era, de fato, um modelo falido. Mas parece que ainda estamos buscando caminhos alternativos dentro de um contexto de alta repressão. Mesmo que hoje estejamos criando uma geração mais flexível, menos presa aos papéis antigos, ainda não amadurecemos a forma como pensamos na libido. Tanto o homem como a mulher, em geral, não têm nenhum conhecimento e nenhuma habilidade prática sobre a estrutura funcional de seus genitais.

Explica melhor.
Os movimentos da nossa cultura não incentivam o indivíduo a conhecer todo o potencial da libido. E ela eclode, acima de tudo, na genitália. Mas a genitália não é apenas o pênis ou a vagina… eles são apenas a ponta, um dos centros de um sistema que repercute no corpo todo, em cada célula nossa. E esse entendimento ainda é muito reprimido.

E qual a consequência dessa repressão?
Freud estava corretíssimo. O sexo é a base que movimenta todo o contexto social e é a origem de várias patologias. Qualquer supressão na eclosão sexual vai gerar um eco enorme na vida do indivíduo e dentro da sociedade. Então, quanto melhor você entende seu genital, mais saudável a manifestação da sua libido. Você se abre mais para o mundo, para as possibilidades da vida. Mas criamos uma dificuldade desnecessária no homem para lidar com o próprio pênis com liberdade, com curiosidade.

 

O homem não explora as potencialidades do pênis. E a masturbação criou um falso orgasmo, produzido mais na fantasia do que na experiência do corpo”


Mas isso não vem melhorando com o tempo? Os últimos 40 anos não avançaram rumo a uma relação mais natural com o sexo?
Claro. Há muito mais naturalidade e tranquilidade na hora de pensar e fazer sexo. Mas o que falta hoje em dia é educação adequada. E uma educação focada na experimentação. Para lidar com o corpo não adianta ler um manual técnico. Tem que experimentar.

Você acha que precisamos de escolas para desenvolver sexualidade?
Acho algo mais do que necessário. Pense… Você é jornalista. Quantas aulas, quantas horas de estágio, quantos editores te ajudaram nesse caminho? Mas qual é o contexto educacional que forma alguém para ser homem? E para ser sexualmente satisfeito? Alguém se dedica a discutir com crianças e jovens o que representa essa pergunta? E aqui estou falando de educar as novas gerações para relações sexuais de duas horas, extremamente prazerosas, com múltiplos orgasmos para homens e mulheres.

Deva Nishok
Deva Nishok / Créditos: Marcos Villas Boas

Qual a primeira lição que daria a um garoto?
Em primeiro lugar precisamos reconhecer o biótipo de cada um, e reconhecer que são diferentes e que a aplicação prática de certos fundamentos depende disso. Existem pênis pequenos, grandes, existe com uma glande avantajada, e alguns quase sem glande. Dependendo do biótipo da pessoa, todas as técnica e os resultados que essas mobilizações energéticas e sexuais vão apresentar mudam radicalmente. E essa compreensão também passa por rever uma série de conceitos sobre a função do pênis.

Explica melhor.
Só um exemplo: temos a capacidade de ejacular até oito vezes em uma relação de duas horas. Mas os orgasmos mais interessantes são os não ejaculatórios, secos. Temos ainda essa obsessão com uma forma primária de sexo, que é a ereção, a penetração e a ejaculação. Mas isso é um programa de procriação, em que o prazer é secundário. Se você investigar o pênis como fonte de prazer, como centro sensorial, vai descobrir que você pode ter orgasmos maravilhosos com o pau mole também. Mas que mulher fica confortável de manipular ou colocar na boca um pau mole?

E como começar esse trabalho na prática?
Veja só… Os homens podem passar horas em uma academia para ter um corpo sarado, invejável. E o pênis? Há alguma preocupação com ele? Ninguém sabe, mas existe malhação para o pênis. Essa questão muito discutida de tempo de ereção é funcional. Depende de tônus muscular. Assim como para fazer uma maratona você precisa de uma musculatura preparada, para ter o pau duro por muito tempo você precisa de um músculo preparado também. Nós ensinamos aqui um exercício de rotação do pênis ereto, alongar ele empurrando para baixo. E é um treinamento da parte muscular sem uma obsessão compulsiva pela ejaculação.

E masturbação não serve como exercício?
Não. Punheta é mais exercício do braço do que do pênis. E é insatisfatória. Porque o indivíduo não explora as potencialidades do pênis. A masturbação criou uma falsa condição de orgasmo, produzido mais na condição da fantasia do que na experiência do corpo. E isso repercute no comportamento. Você está com uma mulher linda. Mas você vai precisar de uma algema, de uma lingerie, criar uma cena. Porque você desenvolveu sua sexualidade em cima de uma narrativa, não de experiência.

E quais as maiores questões dos homens que chegam aqui no centro?
A maioria deles tem problema de impotência ou de ejaculação precoce. Médicos sugerem que o ejaculador precoce é o cara que ejacula antes de dez minutos, e há divergências sobre o tempo. Nossa visão é mais simples: o ejaculador precoce é o homem que tem um orgasmo antes da mulher. É óbvio isso. Pois se a mulher tem uma demanda energética maior para chegar lá, o homem precisa se qualificar para suprir essa primeira condição para, depois, chegar ao orgasmo ideal.

Qual a diferença desse orgasmo ideal para os mais comuns?
Esses orgasminhos que os homens têm são uma liberação de tensão. É só um alívio momentâneo. O orgasmo real está ligado em um outro sistema do corpo, fisicamente falando.

E como faz para ativar esse sistema?
Você tem que desligar a função da fantasia, o lado esquerdo do cérebro. Você precisa sair desse papel do macho, desse papel performático ativo. O orgasmo real vem sempre de uma posição passiva, sensorial. Aprender que tanto o homem quanto a mulher têm esse papel de ser ativo para dar prazer e passivo para receber. E aí a mulher também precisa ser habilitada para trabalhar com o pênis. São poucas mulheres que sabem, por exemplo, chupar um homem com habilidade. Provocar uma sensação superior.

Então não adianta estudar sozinho…
A maior dica que eu posso dar a alguém é que você precisa ter um cúmplice. Porque esse conhecimento técnico que você adquire não serve como masturbação ou com alguém que não conheça essas técnicas. É fundamental alguém para essa troca de experiências.

Você disse que está se perdendo essa fronteira do masculino e do feminino. Mas ao mesmo tempo você reconhece que existem papéis diferentes por trás das definições culturais. Como você define o papel masculino dentro dessa visão tântrica?
Na minha concepção, mesmo que o homem se identifique com outro gênero, que escolha um papel feminino, ele deveria conhecer plenamente sua condição de homem, seu potencial de transcendência e prazer além da pulsão primitiva. O componente genital transcende a questão do gênero.
O pênis pode ser uma porta para dinâmicas de energias e de funções fisiológicas que são diferentes no homem e na mulher. E saber trabalhar isso na prática transforma o sexo em algo muito maior do que um jato de prazer. Você mergulha em uma experiência oceânica, uma chave de transcendência que abre uma perspectiva de vida, de você entender seus papéis sociais de outra forma. É algo a mais para você se conectar ao mundo. Mas que parte, necessariamente, de uma compreensão mais madura do que é o seu genital. O que muda na questão de gênero, do masculino? Eu não sei. Isso varia de pessoa para pessoa. Mas claro que você não tem como voltar de uma experiência dessas sem profundos questionamentos. Não só o homem, mas a humanidade perde por não experimentar isso.

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