Pedalar para fornecer luz a uma casa toda é uma alternativa real

Pedalar para fornecer luz a uma casa toda é uma alternativa real. e se depender do criador do sistema, o cicloativista Peetssa, vai funcionar em tudo que é canto

Junte mais de duas décadas pedalando pra cima e pra baixo em São Paulo, criatividade e uma pitada de inconformismo com a paisagem da metrópole e você chegará próximo da explicação de como o fotógrafo-ativista Peetssa também merece um "engenheiro elétrico amador" em suas credenciais. Isso após inventar uma forma de gerar energia a partir de pedaladas. É fácil, barato e funcional, como você pode ver na reportagem em vídeo (clicando aqui), que acompanhou a instalação do sistema de Peetssa em um parque no Jardim Míriam. Naquele domingo, ao ver a iluminação do parque funcionando a partir – e exclusivamente – da força das pernas da garotada, aquela comunidade da periferia sul-paulistana entendeu na hora todo o pioneirismo e a simplicidade da ideia.

A mágica não tem mágica: tudo começa com uma bicicleta usada normal, com a roda traseira substituída por uma polia grande ligada num alternador de carro (recondicionado e comprado num ferro-velho). Tudo ligado numa bateria de carro nova, ímãs e outras peças. No fim das contas, com a energia cinética das pedaladas, acaba sendo gerada energia elétrica para que, por exemplo, meninos e meninas do Jardim Míriam brinquem com segurança até à noite.

"Comecei a pesquisar alternativas energéticas, a princípio para a reserva ambiental Caiambora, em São Paulo. Quem primeiro me ajudou foi o Mauro Souza, designer e pesquisador, que me ensinou o princípio da corrente induzida magneticamente. A partir daí, fiz o primeiro protótipo do gerador, com ímãs dos HDs de computadores quebrados." O ano era 2009 e Peetssa, então com 32 anos, construiu e instalou a engenhoca em um vilarejo nessa reserva, que fica no município de Iporanga (SP). O segundo protótipo foi construído em 2009 para a Funai, o terceiro foi montado no Encontro Nacional dos Quilombolas no ano passado. O quarto funcionou a toda na Virada Sustentável, em junho deste ano, em São Paulo. O mais recente é o de que falamos no começo do texto. A cada passo, o ciclista-engenheiro chega mais perto de seu objetivo: um gerador que consiga fornecer 110 V e 20 A, o necessário para alimentar uma casa com lâmpadas, televisão e até geladeira.

A energia vem do lixo
A habilidade manual vem dos tempos de fotógrafo. "Como assistente, eu tinha de construir cenários e fazer objetos de cena com excelente acabamento porque, em fotografia, qualquer defeito aparece." E, de tanto andar de bicicleta, desenvolveu o conhecimento das peças do veículo: "Domino toda a mecânica da bicicleta". Fora a facilidade em conseguir os materiais: "Em qualquer lugar do Brasil você encontra uma bicicleta, seja velha, nova, de ferro, de alumínio... e em qualquer cidade você também encontra lixo tecnológico, como HDs e carcaças de alumínio". Cada vez mais longe da fotografia, hoje Peetssa já consegue até garantir seu sustento organizando oficinas de construção do dispositivo.

E, em sua opinião, seu projeto tem uma utilidade real não só no campo energético, mas também no político e ambiental. "Tá tudo errado: você produz a energia lá em Itaipu e traz por milhares de quilômetros de cabo de cobre até aqui. Aí tem que gerar muita energia, porque até chegar em São Paulo perde muito no caminho. A geração local é muito mais eficiente." O pessoal do Jardim Míriam já sabe disso.

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