por Luiz Alberto Mendes

A gente não teme a morte em si - tememos a morte porque ela limita o passar do nosso tempo

 Curtas no Metrô

 

A gente não teme a morte em si. Tememos a morte porque ela limita o passar do nosso tempo. Seu cão vai festejar sua chegada em casa do mesmo jeito se você demorar um dia ou um mês. O animal tem uma vaga noção de tempo, por isso não teme sua passagem e nem a morte, embora instintivamente a evite.

Romanos e gregos davam mais valor à morte do que a uma vida sem valor. Tudo o que desejavam era morrer em glória. Por isso Cícero é nobre quando se suicida; havia uma causa, a rejeição a Nero. Sua morte seria fundamental para impulsionar a queda e assassinato do homem  que queimou Roma. Hoje essa escolha nos é vedada por lei. Se bem que quando alguém quer findar com sua existência, pouco lhe importa a lei. É de se pensar em mais uma coisa que distingue o homem dos demais animais: o apego abjeto à vida.

 

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Somos lançados inconscientemente nas coisas do mundo. No mundo das coisas e das pessoas. Nos entretemos com intervalos e temos percurso orgânico diário. Não pensamos para além do conseguimos pensar e nem vivemos além do que vivemos. O cão espoja-se ao sol e ali dorme. Nós nos espojamos na vida, com todas complexidades que ela dispara, e ali nos acomodamos. Não conseguimos nos liberar da fatalidade ou felicidade de sermos quem somos.

 

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É relativamente fácil ensinar as coisas das verdades conhecidas para as pessoas. Isso elas entendem fácil: a Língua Portuguesa para aprender a ler e escrever; a História para registrar e lembrar; a Geografia para localizar; a Matemática para calcular; e vai por ai afora. Difícil é ensinar as pessoas a valorizarem essas verdades.

 

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A Religião, a filosofia e a ciência não podem mais produzir milagres, mistérios ou qualquer tipo de autoridade porque seus adeptos e seguidores se tornaram demasiadamente humanos.

 

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Será que só podemos respirar aliviados quando acontece alguma injustiça com alguém, pensando, egoisticamente, que ainda bem que não fomos nós? Será esse o ultimo recurso do homem, este ser enquadrado em seus limites e acovardado diante suas conseqüências?

 

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Às vezes concluo que não estamos preparados para a magnitude da realidade que nos cerca e permeia. Esperamos sempre mais que o possível e vivemos a ser surpreendidos com o mínimo que conseguimos do muito que idealizamos.

 

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Participamos de uma história geral em que estamos todos incluídos. Cada um de nós tem sua história própria e às vezes, embora aceite como óbvio que sejamos o próprio ator, chego a duvidar que sejamos o principal autor. No fim, agregados ao destino de todos, temos um pequeno espaço para desenvolver o nosso e tangenciamos essa história geral na qual estamos todos incluídos.

 

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Ah! Longa canção do entardecer

Em seu olhar pálido como a superfície da noite

Como te sentes sendo minha e dona

De todos meus sonhos solitários?

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Luiz Mendes

05/10/2009.

 

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