O crescimento do uso da bicicleta como meio de transporte trouxe de volta às ruas o design das elegantes e clássicas bikes urbanas
Guidão alto, quadro curvilíneo, desenho retrô: as belas bicicletas urbanas, tão comuns por aqui nos anos 70 e 80, acabaram perdendo território no Brasil para as mountain bikes a partir da década de 90. Eis que a retomada da bicicleta como meio de transporte trouxe não apenas uma diversificação ao mercado, mas principalmente um olhar nostálgico para as magrelas. Muita gente acabou resgatando aquela velha bike encostada na garagem para dar um trato. Com o aumento expressivo de oficinas que se propõem a restaurar e customizar bike artesanalmente, ao gosto do freguês, hoje é possível ter uma bicicleta totalmente sob medida. Para quem pedala na cidade, o foco geralmente não está na velocidade nem nos desafios da corrida, mas sim no prazer da viagem sem pressa. Além disso, novas bicicletas elétricas com formato clássico prometem deixar o percurso menos suado e bem mais suave. Conheça alguns nomes da nova geração de restauradores e designers.
Memórias afetivas (Studio Vila)
Há três anos, enquanto pensava em deixar o emprego como designer gráfico de revistas, o publicitário Rodrigo Villas, 32 anos, topou o desafio de recuperar uma velha Caloi 10 de um amigo. Não voltou mais para a Redação. O hobby de mexer em bikes no fundo de casa passou a ficar cada vez mais movimentado. “Em toda roda, um amigo tinha uma bike antiga que queria restaurar.” A paixão pelas clássicas magrelas nacionais dos anos 80 (BMX, Caloi Cross, Monark Brisas etc.) fez com que o paulistano se aprofundasse no assunto e fosse garimpando peças e fornecedores para recontar a história delas. “O quadro da Caloi Ceci é uma coisa linda”, diz, emocionado. Ao longo do processo, seus clientes começaram a se envolver com esse resgate, já que o designer agregou ao trabalho a possibilidade de escolha de cores diferentes e detalhes como retrovisor e banco de couro artesanal, entre outras coisas, de acordo com as necessidades e as preferências de cada um. Dessa paixão e dedicação nasceu o Studio Vila, oficina de restauração e customização de bicicletas pessoais e comerciais. Num galpão no Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo, além de resgatar e dar origem a boas histórias, o Studio resolve os problemas de locomoção de muita gente. “Nossas criações aliam senso estético com a técnica e a experiência de pedalar por aí”, afirma o designer, que hoje recupera e customiza 15 magrelas por mês.
Retrofuturista (Vela Bikes)
Inspirada no design dos clássicos e confortáveis modelos usados em cidades que preservam a cultura do ciclismo, como Copenhague e Amsterdã, a startup Vela Bikes lançou recentemente no mercado brasileiro seu primeiro modelo de bike elétrica, conhecida como Vela 1. A invenção é resultado do protótipo construído pelo paulistano Victor Hugo Cruz, 27 anos, durante o curso de engenharia mecânica na FEI. Sua ideia deu tão certo que ganhou financiamento coletivo em 2014 e deu impulso para a criação da startup, em sociedade com o publicitário Guilherme Carneiro, em novembro do ano passado. Desde a abertura da empresa, instalada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, cerca de 200 unidades já foram vendidas. “Nosso objetivo é oferecer uma alternativa prática e sustentável para a mobilidade urbana, pois a bike elétrica é eficiente e não polui”, afirma Victor, que também fez questão de criar um produto leve por dentro e por fora, com design vintage e acabamento de couro costurado à mão, nas manoplas e no selim. A tecnologia não fica pra trás — além de contar com entrada USB para o celular e sistema de rastreamento em GPS, componentes como bateria e circuitos conectores são protegidos dentro da estrutura do quadro. O motor elétrico na roda traseira reduz em até 80% o esforço nas ladeiras. “A versão elétrica tem o poder de democratizar o uso da bicicleta.Independentemente da profissão, do trajeto ou da idade, assim fica mais fácil adotar a bike como meio de transporte”, afirma o engenheiro.