Passado presente

por Ronaldo Lemos
Trip #286

Ainda que muito tenha mudado no mundo da tecnologia, o Japão jamais perde seu posto como fonte de criatividade e inovação

Nos últimos anos, a China vem ganhando cada vez mais espaço quando se fala em tecnologia; eu mesmo pude observar isso de perto quando, em 2019, passei quatro meses por lá, visitando mais de 20 cidades para o documentário Expresso futuro, exibido no Fantástico e no Canal Futura (e agora disponível na íntegra no YouTube). No entanto, não dá para esquecer que boa parte do mundo tecnológico em que vivemos hoje foi inventada pelo Japão, pioneiro no fenômeno dos chamados “tigres asiáticos”.

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Nos anos 70, o país soube seguir muito bem a principal estratégia para quem quer desenvolver uma indústria de inovação: copiar. Os japoneses começaram a criar cópias, para fins de exportação, de muito do que se fazia no Ocidente. A estratégia deu certo e, a partir da cópia, o país partiu para movimentos mais ousados de inovação. Tanto que a Sony era, nos anos 80, provavelmente uma das empresas mais inovadoras do planeta; o Walkman, que permitia sair por aí ouvindo música em um toca-fitas portátil, foi certamente o precursor do iPod, que seria inventado por Steve Jobs, da Apple, anos depois.

“Não dá para esquecer que boa parte do mundo tecnológico em que vivemos hoje foi inventada pelo Japão”
Ronaldo Lemos

No entanto, especialmente por causa do papel do Vale do Silício (e de empresas como Apple, Microsoft, Amazon, Google e Facebook), os japoneses foram perdendo o protagonismo na área de tecnologia, ainda que essa seja uma visão superficial, afinal, o país nunca deixou de protagonizar mudanças tecnológicas. Se é verdade que as empresas japonesas perderam um pouco o tônus na competição global para a China e os EUA, é fato também que o capital financeiro japonês continua inovador como sempre.

Trampolim de negócios

Basta pensar no papel do Softbank na construção do mundo contemporâneo. A maioria das pessoas pode não conhecer esse nome, mas esse conglomerado multinacional japonês é um fenômeno. São braços de investimento que se estendem a empresas diversas, como a Boston Dynamics (que faz o robô humanoide chamado Atlas), a plataforma Slack, o Alibaba, dentre outras empresas que definem o mundo contemporâneo. Por exemplo, é graças à força econômica do Softbank que empresas como a Uber e a WeWork puderam se expandir pelo mundo. No caso da WeWork, a empresa tomou um tombo recentemente, mas ainda é cedo para duvidar da importância e do faro do Softbank na construção de tecnologias que mudem profundamente o mundo de hoje.

“Nos anos 70, o país soube seguir muito bem a principal estratégia para quem quer desenvolver uma indústria de inovação: copiar. ”
Ronaldo Lemos

E para onde vai o Japão atualmente em tecnologia na parte não financeira? Se os americanos e os chineses estão disputando o troféu de quem desenvolve melhor a inteligência artificial, os japoneses estão seguindo por um caminho diferente, mas correlacionado: o país quer se tornar um líder global em robótica, incluindo a criação de robôs que lembrem cada vez mais os seres humanos. Há pesquisadores japoneses trabalhando hoje para criar modelos de pele, cabelos e olhos sintéticos que permitam fazer com que os robôs fiquem mais parecidos conosco. A aposta é na humanização dessas tecnologias, para que elas interajam com os seres humanos de 
forma cada vez mais natural.

De novo, não dá para descartar o Japão como força de inovação. Graças à criatividade do seu capital financeiro e à ousadia no trato tecnológico de suas réplicas da natureza humana, ainda vamos ouvir falar muito de nossos amigos do Império do Sol Nascente.

Créditos

Imagem principal: Autor desconhecido

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