Vou reativar meu blog na Trip para expor candidatos que prometem o que não podem cumprir
Vou reativar meu blog na Trip para publicar duas colunas: uma para expor candidatos que prometem o que não podem cumprir e outra para valorizar os que estão sendo honestos com a viabilidade das suas propostas
Já escrevi neste espaço que 2014 tem grande potencial para ser o ano de uma frustração enorme com a política, e que talvez daí possa surgir uma nova postura mais participativa e mais próxima das pessoas em relação aos rumos do nosso país. Na ocasião, refleti sobre o choque que seria – depois das manifestações de junho de 2013 – a constatação de que pouca gente que foi às ruas optou pela via institucional para lutar por mudanças. Ou seja, quase ninguém novo se filiou a um partido político e será candidato nas eleições de outubro.
É quase certo que a renovação será muito pequena e estamos fadados a conviver por mais tempo com mais do mesmo, tanto nas eleições majoritárias, dominadas pela lógica polarizada e pela obsessão por minutos na TV que fazem os candidatos esquecerem qualquer compromisso ético, como nas eleições proporcionais, que elegem os deputados estaduais e federais. Nesse último caso, creio que a falta de novos nomes é ainda mais trágica pela importância estratégica de nossas casas legislativas. Faço uma ressalva aqui, claro, para as bravas exceções que seguem fazendo trabalho sério e remando contra a maré.
Pois bem, apesar de apontar o dedo com convicção para a falta de participação política e a crise total das instituições democráticas e representativas – talvez os principais motivos mobilizadores da multidão que foi às ruas em 2013 –, acho que de alguma forma precisamos tentar diminuir o estrago da
situação alarmante.
Atuar por uma bancada grande de políticos capazes de mudar tudo o que precisa ser mudado é utópico, tendo em vista a escassez de opções. Mas trabalhar para que haja pelo menos a consciência das trapaças e falsas promessas ao longo da campanha, para escancarar os tipos que contaminam nosso sistema representativo, me parece um primeiro passo viável e uma espécie de complemento qualitativo ao processo desencadeado ano passado. O conhecimento de “como a salsicha é feita” talvez seja algo que possa aprimorar nossa democracia e nos levar a uma etapa mais objetiva para futuros processos de mobilização popular por melhorias.
AGULHA NO PALHEIRO
Por isso, a partir desta edição, vou reativar meu blog Outra política no site da Trip para publicar duas colunas até a eleição: uma é a “Me engana que eu gosto”, para expor candidatos que, por estratégia, falta de conhecimento das competências de seus cargos ou mesmo rabos presos com coligações partidárias ou financiadores gananciosos, estão prometendo o que não podem cumprir. A outra é a “Agulha no palheiro”, para valorizar ações de candidatos que estão sendo honestos com a viabilidade das suas propostas e com a conduta da suas campanhas. São poucos, é verdade, mas existem e resistem.
Farei isso, pois acredito que temos que romper com a postura passiva da reclamação constante e da análise cômoda, fria e distante. Defendo a consciência cidadã plena, parte da percepção de que todos nós, usando as ferramentas que estão às nossas mãos, podemos trabalhar para transformar nossa política. Acredito ser possível qualificar as nossas reivindicações. Acredito ser possível ocupar espaços. Acredito ser possível discutir e transformar o poder.
*Alê Youssef, 38, é apresentador do programa Navegador, da Globonews, comentarista do programa Esquenta!, da TV Globo, advogado e produtor. Seu e-mail é alexandreyoussef@gmail.com