O golpe da maioridade

A garota TRIP alcança sua emancipação

Parabéns a esta moça que hoje intera sua maioridade. Ela está pronta para a vida. Quanto eu não daria para poder volver aos 18. Era simples decolar com o pensamento nas asas da imaginação e cortar as estrelas, enquanto o sol adormecia do outro lado do tempo.

Aos 18, reter é destruir. Ganhamos os dias e as noites e nos doamos à existência. Há inúmeros riscos, e o preço a pagar é caro. Sobretudo porque nossas fraquezas e nossos ímpetos obscuros ficam evidentes, à flor do sorriso. Não sabemos de onde vem essa ansiedade, essa vontade de abraçar o mundo com as mãos.

Tudo é denso, súbito demais e vivemos com a alma aos gritos, acelerada. Uma inquietação maior do que nós mesmos nos leva a devorar o significado de tudo o que nos é dado. Nos possuímos e não nos subordinamos. Ornamentamos a natureza e vivemos de excessos, precipitando nossos estilhaços como num sonho de cristal.

Somos estranhos e estamos prenhes da gravidade da vida. A adrenalina nos ensina que, se nascemos e morremos sós, necessitamos viver acompanhados. E ficamos a nos revoltar por todo o sofrimento, questionando de que inconsequências e lucros ele foi gerado. É lindo completar a maioridade.

A garota descobre que, no fundo de seu coração, residem absurdos e obstinações. Uma busca dessa razão indefinível que nos move a nascer, existir e morrer. Uma palavra, um sorriso aguardam a cada esquina dobrada. Percebe-se querida, desejada dentro do brilho de cada olhar. Seu cheiro de mulher morde o ar e corta a madrugada. Parece tocada de luz. Fluída e sem peso, cheia de sentido, vive como quem pudesse desistir, se quisesse. Despida, investirá na imperiosidade de sua vontade para sobreviver à estupidez reinante. Do transe de sua angústia nascerão olhos doces de compaixão. A solidão há de suavizar o delírio de sua paixão incontível. O tédio, esse senhor das almas inquietas, ensinará o silêncio das pedras, onde mora a paz.

Materializada em sua expressividade, esfaimada de vida, a garota TRIP alcança sua emancipação. Nessa região estreita onde atua a liberdade, irá manifestar sua individualidade. De pedaços desencaixados de esperanças, silêncios cálidos e mãos fartas de generosidade, construirá seu futuro. Sabe-se lá aonde está indo ou se chegará a algum lugar. O que importa é o presente, os 386 mil leitores mensais. De dentro de mim submergem cidades e um torpor de águas paradas. De temporais desfeitos retinem espadas, motins que fervem em minhas veias e estufam meus pulmões. Encho a boca de língua para dizer: parabéns, garota. Longa vida a você!

Créditos

Imagem principal: Aaron Chang

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