O 'Bandido Corredor'

por Luiz Alberto Mendes

Ninguém em sã consciência, correria sob aquele sol inclemente do sertão. E o homem parecia ter asas nas pernas

O homem corria muito rápido. Quando o helicóptero da polícia o avistou, pensou fosse alguém fugindo. Imaginaram fosse algum bandido surpreendido fora do esconderijo. Ninguém em sã consciência, correria sob aquele sol inclemente do sertão. E o homem parecia ter asas nas pernas. Os policiais nunca haviam visto alguém correr tanto assim. As equipes de terra foram acionadas. Quatro viaturas cheias de policiais foram enviadas para deter o “bandido corredor”. Como conheciam a região, rapidamente o encontraram. O homem estava debaixo de um abrigo de plástico camuflado. Foram apertando o cerco devagar. Ficaram em estado de alerta quando perceberam que ele estava armado. A versão da polícia foi que quando estavam prontos para a abordagem, escutaram um tiro. Todos se jogaram no chão. Silêncio. Quando chegaram perto perceberam que o homem estava morto. Havia se suicidado. Houve dúvidas sobre esta versão, prontamente abafadas. Ele não possuía documentos. Coletaram impressões digitais e, mesmo assim, não conseguiram identificá-lo. O homem não constava nos bancos de dados. Especialistas foram chamados e não foi possível identificar. Alguém teve a ideia de mandar as impressões digitais do homem para países circunvizinhos. Acertaram em cheio: o suposto “bandido corredor” era argentino. A história por trás daquele homem era comovente e surpreendente. Ele era um cidadão pacato, respeitável, casado e pai de filhos. De repente fora despedido do emprego onde trabalhava há quase duas décadas. Depois de algum tempo de procura e já com problemas para alimentar a família, encontrou trabalho. Para encurtar a história, haviam carros roubados na oficina em que conseguiu emprego. Resumo da ópera: houve denúncia, a polícia chegou. Porque ele não sabia de nada, não tinha como explicar os carros roubados. Foi preso. Como era réu primário, ficou somente um ano preso. Quando saiu não estava bem. Não conseguia mais ficar parado. Movimentava-se o tempo todo, assustava as pessoas com seu comportamento estranho. Mais parecia um fio desencapado, uma granada sem o pino de segurança. Tomou uma decisão e comunicou à família. Precisava ficar só para poder colocar a cabeça no lugar. Viajaria.

E agora aquela notícia. A família afirmou que a pressão de ficar trancado em uma cela superlotada de presos acabou com ele. Ele vivia correndo no bairro em que morava. Dizia aprendera a correr no pátio da prisão, era o único jeito que tinha de ficar só. Tornara-se um corredor compulsivo. Provavelmente fora para o sertão para poder correr à vontade, ficar só e pensar, como fazia na prisão. Corria, fazia-se leve e livre como uma ave, quando foi alcançado pelos policiais. Não, ele nunca tivera uma arma em sua vida, nem sabia atirar.

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