Zombaria
Parece que chegamos à conclusão que o negócio é zombar. Zombar de tudo e por tudo. Rir de tudo, até do que nos magoa e entristece. Ficamos qual acrobatas a dar saltos cada vez mais espaçados para conseguir encontrar o outro lado de cada momento.
George Orwell escreveu “1984” na maior seriedade. O homem trabalhou em cima de seu livro e seus personagens, com pretensões de cientista social. Previa o controle total. Em minha opinião, toda previsão esbarra em pelo menos um fato: a dimensão. Era impossível Orwell prever o quanto tudo evoluiria. As possibilidades da Internet, da robótica, da nano-tecnologia, do sequenciamento genético, para falar somente de algumas categorias de avanço, extrapolaram qualquer previsão possível. De dentro de cada novo conhecimento parece que nasce outro novo conhecimento.
O BBB é uma tremenda zombaria de toda essa preocupação científico-social de Orwell e todos esses estudos e pesquisas futurísticas. Tornou-se brincadeira e entretenimento. Ninguém pensa naquilo como algo sério. O negócio é espiar a vida dos outros, como qualquer zepovinho da vida. O atávico anseio existencial que temos de cuidar da vida dos outros, antes imoral, tornou-se, de repente, algo que todo mundo faz na maior cara de pau.
Vamos falar o que é verdade: a vida dos outros nos atrai completamente. O programa BBB provou isso se modo inequívoco. Chega a nos obcecar. O outro é sempre misterioso, principalmente aquele que brilha ou que difere. Suga nossos olhos e todos nossos sentidos como um vórtice devorador. Começa com aqueles que nos são mais próximos e depois todo aquele que desperte interesse ou curiosidade. E ainda discutimos e queremos brigar quando somos desmascarados. Nós nunca cuidamos da vida de ninguém, não é mesmo? Nós, não. Eles; com certeza foram eles. Nós vivemos a fazer isso desde a infância. Os outros são sempre os culpados, já que fazem de nossas vidas, um inferno.
O programa “Pânico” não difere. É uma ridicularização contínua de pseudos-valores, medos e micos sociais. Às vezes eles conseguem fazem a gente morrer de rir, não é mesmo? O Jô, Chico Anísio, Tom Cavalcanti e outros humoristas usam e abusam da zombaria. Parece que o caminho é zombar. O problema é que abusamos tanto que vira deboche. É então que perde a graça. Seria esse o passo seguinte que nos levará ao outro lado desses nossos dias tão fartos de dificuldades?
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Luiz Mendes
09/08/2010.