Youssef: ”Marcelo Freixo é um daqueles políticos raros que fala com brilho nos olhos”
Marcelo Freixo é um daqueles políticos raros que fala com brilho nos olhos, coloca questões éticas acima de tudo e desperta em quem se interessa pela vida pública os sentimentos mais verdadeiros.
Muito provavelmente, quando esta edição da Trip for às bancas e você estiver lendo esta coluna, o primeiro turno das eleições municipais já terá passado e os candidatos eleitos sem segundo turno já estarão pensando em seus governos. Mas, como este texto não tem o objetivo de influenciar ninguém eleitoralmente – porém pretende enaltecer uma reflexão política necessária neste momento do país –, o fato de ter passado o calor eleitoral do primeiro turno se torna um valor agregado ao que pretendo contar.
Conheci Marcelo Freixo em um almoço marcado pela minha mulher, do qual só eu, ela, Freixo e sua esposa, Renata, participaram. Tivemos a rara oportunidade de conversar sobre política da forma mais interessante que existe: debatemos projetos, ideias e soluções para a cidade. Avaliamos a conjuntura política nacional e internacional, discutimos o papel da cultura na administração pública. Não havia TV ou fotógrafos à espreita, não havia holofotes, não havia propaganda. Na mesa do restaurante, apenas os quatro falando sobre política.
Foi minha primeira conversa com um político depois do doloroso e importante processo pelo qual passei em 2010, – quando idealisticamente me candidatei a uma vaga no Congresso Nacional – e, até por isso, confesso, estava meio descrente do que o papo poderia gerar. Não imaginava, nem de longe, sair de lá tão animado.
Militância jovem
Engajei-me na campanha e participei de algumas atividades, e o que mais me chamou a atenção foi a grande presença de jovens militantes que não estavam ganhando nada para fazer campanha e que, ao contrário do que se vê na sociedade resignada e inerte em relação à política, estavam vivendo apaixonadamente o sonho de lutar por seus ideais. A nostalgia bateu forte e me lembrei da deliciosa experiência de militância do PT nos anos 80 e 90.
Freixo é um daqueles políticos raros que fala contigo com brilho nos olhos, que coloca questões éticas acima de tudo e que desperta em quem gosta da política séria e decente os sentimentos mais puros e verdadeiros. Não às coligações espúrias! Não ao financiamento privado de campanha feito por lobbies e poderosos concessionários do poder! Não a ganhar de qualquer forma! Ele nos lembra que é duro, trabalhoso, desgastante, mas ainda possível ser idealista, lutar por sonhos e por justiça social no Brasil, sem ter que se lambuzar no jogo.
Francisco Bosco escreveu em sua brilhante coluna do jornal O Globo de 5 de setembro: se um homem como Freixo vencesse as eleições, ficaria provado que não somos obrigados a dar um passo para trás a fim de dar outro à frente e que não somos obrigados a engolir os velhos crápulas da velha política em nome da governabilidade. Seria uma mudança política sem precedentes, da mentalidade política. O Rio, concluiu Bosco, não poderia desperdiçar essa chance.
Pois bem, como disse no início do texto, o primeiro turno já deve ter passado e essa chance de mudança também. Mas acho que, assim como Marina Silva em 2010, Marcelo Freixo plantou na sociedade a percepção de que é preciso ir além dos avanços sociais e econômicos conquistados e que precisamos também crescer no plano da ética, da criatividade e da sustentabilidade.
Creio verdadeiramente e sem otimismo exagerado que na política as chances desperdiçadas se acumulam, crescem e se transformam em esperanças concretas para governos e anos que virão.
*Ale Youssef, 38, é criador do Studio SP e do Studio RJ, um dos fundadores do site Overmundo e apresentador do programa Cartas na mesa no canal GNT. Foi coordenador de Juventude da prefeitura de SP (2001-04). E-mail: alexandreyoussef@gmail.com/Twitter: @aleyoussef