por Luiz Alberto Mendes

Em cinquenta e tantos anos assimilei pouco do muito que a vida tem me ensinado

CULPAS

Em cinquenta e tantos anos assimilei pouco do muito que a vida tem me ensinado. E uma delas é de que não posso acusar ninguém de nada.

Parece que sempre é preciso ter um culpado para cada coisa que acontece. Os ricos; os patrões; os violentos; a polícia; os ladrões; os traficantes; o “Zé Povinho”, culpados aos montes.

E seguindo essa lógica, todos parecem ter culpa pôr tudo. Tudo parece um cabo de aço que gruda como esparadrapo, a oprimir. Contabilizamos culpas. Ninguém é inocente. Estamos condenados à culpa só pelo fato de estarmos vivos. Sempre essa breve demência inominável.

Quando a dor nos pega e quer pulverizar, acusamos os outros. Durante décadas acusei meu pai, a sociedade e o mundo pelo que acontecia comigo. Tal atitude atrasou minha caminhada. Não permitiu que eu me enxergasse. Hoje não acuso ninguém de nada. Não condeno ninguém pôr nada. A não ser a mim mesmo, e por tudo.

Fui eu que me levei a ser o bandido que fui. Tive sim chances e oportunidades e jamais soube aproveitar. Cumprir mais de 30 anos de prisão foi consequência natural. Sinto-me plenamente responsável pôr tudo o que vivi, vivo e viverei. Sou dono de meu destino e faço hoje meu amanhã. Estou convicto disso. Foi o que de melhor a vida me ensinou.

Enquanto coloquei a culpa nos outros, não pude construir minha capacidade de autocrítica. A culpa nos outros nunca esteve acessível a mim solucionar. Somente quando assumi como minhas as culpas de tudo o que me atingia, é que me tornei capaz de ressarcir ou consertar meus erros.

Somente quando é comigo, é que me torno eficiente para solucionar. Se a culpa estiver nos outros, como vou resolver? Eu só posso comigo.

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