Nosso colunista, que passou 30 anos preso, mostra que qualquer lugar vale a pena quando o que está em jogo é o prazer do sexo
O homem e o amor, esses fatores intemporais, e a vida em busca de temporalizar tudo. Parece que tudo tem que ser feito num tempo presente, em que todos concordem e dêem aprovação. O mesmo se dá com relação ao espaço.
Haverá um lugar propício ao prazer? Um espaço determinado, onde ele se manifesta com maior intensidade? Não creio. Antes, me parece, cada um tem o seu melhor lugar para chegar ao prazer. Eu conheci uma garota que gozava de modo inusitado.
Deslocava a cama de seu lugar para colocá-la em cima de cavaletes. E entrava para baixo, com tudo (ou sem nada), para transar com o maridão, depois de casada. Foi escondida embaixo da cama que se tornou mulher e praticou sexo na adolescência com os primos. E era ali, pressionada pela cama, machucada pelo chão e pelo pau duro, que sentia mais intensamente seu prazer.
Masoquista? Não creio. São fetiches, sensibilidades aguçadas que desejam vivenciar o que consideram mais gostoso. Censurá-los por quê? Já é tão complicado conseguir usufruir de nossos prazeres mais profundos... Quem consegue deveria poder fazê-lo com toda a naturalidade.
Há quem goste no chuveiro. Se bem que transar de pé deixa as pernas bambas. Sob a chuva deve ser muito bom. Com raios, trovões e toda aquela eletricidade no ar. Deve ser excitante, muito. Há quem goste na praia. Dentro do mar, corpos imersos, a leveza da água salgada a fluir por entre as pernas... Com certeza deve ser uma delícia!
A mesa da cozinha já foi palco de muitos embates sexuais e de alucinantes prazeres. Um tanto anti-higiênico, mas como "lavou está novo"... Os anônimos da cozinha estão mais que certos: o amor que se alimenta nunca muda de endereço, ouvi dizer.
Tapetes da sala, naves interplanetárias em busca de galáxias úmidas e satélites duros, em que quase todos embarcaram. Ferem os joelhos e as costas na fricção, mas são uma boa pedida, ainda que não muito criativa.
Subir pelas paredes
E os telhados? Muitos punheteiros (e quase todos os homens são, pelo menos os sadios) tiveram suas iniciações em tais alturas. Estavam, pelo menos, resguardados da curiosidade alheia. Hoje, com os edifícios, ficou difícil. O sujeito está lá no terraço lascando uma saborosa em homenagem à gostosa do prédio e, de repente, centenas de binóculos o focam. Muita gente querendo ver um pau duro, por que será?
De muitas coisas é desfeita a vida. Alguns a desfazem em áreas de estacionamento, por entre carros, nos muros da cidade, nas praças escurecidas, nos elevadores ou mesmo na cara-de-pau para que todos vejam. São os que exibem, que querem chocar. Nenhuma censura a eles. Apenas um toque: não estão chocando a mais ninguém. Tenho um amigo que gosta de levar suas parceiras para garagens de ônibus à noite.
No fundo dos coletivos vazios, ele faz a festa. Ouvi dizer de um outro que gosta de transar em cima de pontes. Algumas vezes, no clímax, o sujeito se atirava dentro do rio. No interior, tudo bem, deve ser até saudável. Mas já pensou se um maluco desses se atira no Tietê em pleno centro de São Paulo? Quando chegar à margem, se conseguir, estará podre. Não aconselho. O prejuízo menor será perder a parceira.
Enfim, cada um com seus prazeres. Eu cá também tenho os meus e os vivencio com toda a naturalidade de que sou capaz. No alto da montanha ou em cima das águas, o que vale é ser feliz.