Mulher moderna é tão antigo...

por Nina Lemos
Trip #89

Confira a entrevista com a repórter especial da Tpm Nina Lemos

Elas são escritoras e jornalistas preocupadas com dramas, neuroses, devaneios e alegrias da mulher contemporânea. Juntas, elas têm uma coluna na Folha de S.Paulo, um site na internet e um programa no canal de TV GNT, sempre abordando temas de interesse da mulher moderna.

Estamos aqui com Nina Lemos, que também é repórter especial da Tpm - faz parte da equipe que fundou a revista e está lá até hoje desfiando seus comentários curiosos e, como diria Arthur Veríssimo, sempre pitorescos.

Ela é uma das cabeças pensantes por trás do 02 Neurônio, um espécie de portal da garota moderna por assim dizer.

Em mais uma empreitada, o trio está lançando nessa semana o Manual Para Moças em Fúria, o terceiro livro de humor do 02 Neurônio.

Nina, boa noite, muito obrigada pela sua presença.

Nina Lemos: Boa Noite

PL: Eu sei que teve festa de lançamento...

NL: Que você faltou...

PL: Deve ter sido tipo rave, você deve estar cansada até agora.

NL: O Feio [um dos primeiros DJs do TRIP FM que preparou a trilha deste programa] foi DJ!

PL: Da festa? Sério?

NL: Não, claro que não [risos].

PL: Ia ser demais...

PL: Eu disse nesta introdução que vocês falam da mulher moderna, da garota moderna, seja lá o que for. Esse tipo de rótulo cabe com o trabalho que vocês estão fazendo no 02 Neurônio ou é mais uma coisa para vocês zoarem porque não tem nada de garota moderna? Como você vê isso?

NL: Eu acho que é mais uma coisa para a gente zoar. Eu acho que mulher moderna é algo tão antigo né? Mulher moderna eram nossas mães, que lutaram pelo divórcio. A gente tava rindo aqui, eu e o Paulo, antes de começar o programa, lendo um texto: "Como fingir que você é uma pessoa moderna". Você tem que fazer parte de um coletivo... Hoje em dia para ser moderno dá um trabalho, você tem que ser tanta coisa.

PL: Essa história de coletivo, como é que vocês falam no livro? Que qualquer grupinho, juntou três manos, já é coletivo. Chiquérrimo...

NL: O coletivo é profissão de desempregado né? Juntou três desempregados que falam assim: "Vamos pintar uma parede?". A gente é um coletivo que pinta parede! A TRIP é um coletivo? Será? A Tpm...

PL: Tudo é coletivo. Tem uma passagem do livro que eu estava lendo, que, ­aliás, como diria Roberto Avallone, ricamente ilustrado, muito engraçada: as conversas que ninguém agüenta mais, ou que vocês não agüentam mais. E uma delas é a conversa clássica de yóga ou yôga, para ficar mais insuportável.

NL: Ah é. É yôga, os insuportáveis falam yôga.

PL: Como é essa história? Dá uma idéia para quem ainda não viu o livro. Quais são os assuntos mais insuportáveis do momento?

NL: Olha, eu acho que yôga [enfática] é o pior porque todas as pessoas do mundo hoje praticam yôga. E elas se acham serem melhores que os outros porque ficam "Porque na minha yôga..." E tem as que surtam mais ainda e fazem peregrinações de yôga, "porque é uma viagem sem consumo", aí você é super fútil porque não faz yôga. Tem aquela coisa dos médicos alternativos também: "Eu vou num médico que só posso comer cenoura". Aí você está almoçando com a pessoa e ela está falando mal da comida que você está comendo.

PL: Dr Mário Gomes...[Risos.]

NL: [Risos.] Parece um bando de velhinhos, falando de colesterol! Puta saco...

PL: Observando seu livro, você vê que a linguagem e as idéias são completamente diferentes das, por exemplo, revistas femininas de uma forma geral, acho que dá para excluir a Tpm, mas de uma forma geral é bem diferente a visão de mundo. Mas tem uma coisa engraçada: parece que vocês estão sempre atrás de um homem, reclamando de um homem, mais ou menos como fazem as mulheres da Nova, só que com outra linguagem. É verdade ou estou completamente louco?

NL: É  verdade.

PL: [Risos.]

NL: É necessário admitir que é verdade, que a gente ainda gasta, tipo, 80% do nosso tempo falando de homem. Mas vocês não ficam falando de mulher também?

PL: Não, a gente praticamente não fala [risos].

NL: É essa minha dúvida. Eu quero entrar no banheiro masculino. Lá vocês também ficam falando de mulher.

PL: Vocês ganham uma bufunfa fazendo esse livro?

NL: Não! Ninguém ganha bufunfa fazendo livro no Brasil, infelizmente...

PL: Olha que o Lair Ribeiro ganhou hein?

NL: Então, as pessoas não gostam muito de ler, aí elas lêem Lair Ribeiro [risos] e Paulo Coelho.

PL: Talvez isso seja difícil de você responder, mas o livro é uma espécie de coletânea de crônicas, de textos curtos que a pessoa pode ler sem uma ordem necessária. Você tem alguma que lhe é particularmente especial aqui?

NL: Aí, eu gosto de várias. Aquela que a gente tava falando agora da Jô - que não pôde vir aqui - em que ela fala que tem cabelo Bozo, eu acho sensacional.

PL: O que, por exemplo, é um cabelo feminino Bozo?

NL: O cabelo Bozo é assim: o verdadeiro cabelo ruim é o cabelo Bozo, aquele que não é liso nem cacheado. Então ele vai crescendo para os lados, vai ficando rebelde.

PL: Ela fala aqui que ele forma tufos laterais, seria isso?

NL: [Risos.] Tufos laterais! Você vai ficando parecido com a Vovó Mafalda. Aí você tenta prender, coloca alguma coisa, passa uma pomada, mas o Bozo sai. Eu tenho cabelo Bozo viu?! É curto, mas se for longo, vira Bozo.

PL: É engraçado que os homens que podem ficar carecas - e muitos ficam - se preocupam com isso, mas as mulheres que têm cabelo sobrando ficam preocupadas com o cabelo Nina?

NL: É lógico porque daí o cabelo fica Bozo, vai crescendo para os lados.

PL: Mas todas as mulheres se preocupam com o cabelo ou existem mulheres que são absolutamente invulneráveis?

NL: Eu não conheço nenhuma mulher que não se preocupe com o cabelo.

PL: Quer dizer, todas fazem chapinha, por exemplo?

NL: Não, a chapinha... A gente fez até um programa de TV agora, você devia ter visto, que era A Maldição da Chapinha. Tem pessoas viciadas em chapinha né? Tem aquela mulher: "Eu vendi a minha televisão, roubei jóias dos meus pais, penhorei tudo o que eu tinha pois tinha que pagar minha conta da chapinha". Eu acho que virou tipo um vício, grave.

PL: Eu ontem vi um documentário sobre cabelos no GNT...

NL: Eu também vi!

PL: Tinha uma mulher passando o cabelo da outra numa tábua de passar roupa. Isso existe?

NL: Cara, eu tava vendo com a minha mãe e ela falou que existia mesmo e que ela fazia. Várias coisas bizarras ela falava: "Eu fiz! Eu fiz!".

PL: Vamos pegar o Alê [assistente do TRIP FM, que tem cabelos cacheados] e fazer uma experiência: botar ele numa tábua de passar roupa e fazer uma chapinha antiga nele.

NL: Eu acho ótimo! A gente publica na Tpm: "Antes e Depois".

PL: Esse aspecto do cabelo foi engraçado, mas eu vi também uma história de um ?conquistador de R$ 1,99?. O que seria?

NL: Ah! Não vamos citar nomes de personalidades né?

PL: Podemos citar um nomezinho para criar uma polêmica [risos].

NL: Ai não, não, não...

PL: Mas o que seria esse personagem?

NL: É aquele sedutor barato, aquele que seduz por seduzir, entendeu? Nem quer nada...

PL: Pelo esporte.

NL: Seduz por esporte, por falta do que fazer, pela cara de pau.

PL: Olha, eu tenho um amigo que é assim, eu não vou dizer o nome.

NL: Aí, que vontade de dizer o nome...

PL: Mas eu vou dizer as iniciais: RF...

NL: Aí meu deus do céu! Eu posso falar a profissão?

PL: Pode, pode.

NL: Pode mesmo?

PL: Publicitário vai, assim fica mais genérico.

NL: É, é um publicitário famoso.

PL: Eu já consegui algumas confissões suas aqui e agora vou tentar conseguir outra. Você já deve ter falado várias vezes essa frase: "Como falta homem!"

NL: Aí, eu não falo há muito tempo, porque não é verdade.

PL: Cansou!

NL: Falta se resolver.

PL: Ou você achou os homens que estava procurando.

NL: Achei! Achei nada... Eu acho que não falta nada. Falta gente legal no mundo. Puta clichê né? Teve um livro que a gente queimou em uma seção da Tpm, "Queimando o Livro": Por que Não Sobraram Homens Bons, de Barbara Dafoe Whitehead. O que é isso gente? Sobrou sim! Tem um monte.

PL: O pessoal não conhece o Edu [produtor do TRIP FM]. Essa turma não conhece o Eduardo.

NL: É! Aqui tem um monte de homem bom.

PL: Como é essa história de homem superior Nina? Já que não temos espelho aqui, gostaria que você explicasse o que é um homem superior?

NL: "Não temos espelhos" é ótimo. Em homenagem a você eu vou falar a frase, aquela frase: o homem superior liga no dia seguinte, liga quando promete [risos]. Ele sabe usar o telefone, é gentil. Tem uma coisa que eu acho que define bem o homem superior: ele elogia sua independência, acha legal a mulher trabalhar pra caramba, ganhar bem, ser batalhadora, mas ele carrega as compras do supermercado.

PL: E paga a conta também?

NL: Não necessariamente. Se ele quiser ser gentil, paga. Um pouco de gentileza tá faltando nesse mundo.

PL: Mas o importante é descarregar o carro depois do supermercado.

NL: E fala: "Pô, que legal, você trabalha pra caramba, reconheço? E descarregar o supermercado sim, porque a gente é mais fraca né"

PL: É verdade, é verdade. Para isso servimos bem: carregamos bem malas.

PL: Como é lançar um livro? O sujeito acha que escreveu uma coisa bacana, relevante. Qual o percurso que vocês trilharam para conseguir lançar o livro?

NL: Como diria uma miss,  nós tivemos muita sorte. Deus iluminou porque, na verdade, a gente foi procurada pela editora, que é uma coisa meio rara, meio não, muito rara! A gente começou a fazer o fanzine e o André Forastieri, que tem a Conrad, uma editora pequena e legal, convidou a gente para fazer o livro. Fizemos o primeiro. Aí, no segundo, fomos convidadas pela Record, que é uma editora enorme. As coisas aconteceram de uma maneira diferente do usual. Era um fanzine, um "coletivo".

PL: [Irônico sobre o coletivo.] Ahã...

NL: Sem fins lucrativos. Um fanzine que a gente xerocava, que qualquer um pode fazer. Muito legal fazer fanzine né? Quatro paginazinhas só para se divertir, para falar mau de homem, porque na época a gente falava mais mau. Amadurecemos.

PL: Tem uma coisa com relação às diferenças entre homem e mulher que eu achei interessante: as mulheres têm um problema sério em falar sobre o número 2.

NL: Sabia que você ia falar disso.

PL: Como é essa história?

NL: Eu tenho tantos problemas, que fico vermelha só de pensar nesse texto.

PL: Quer dizer que a mulher não gosta de falar que vai fazer cocô. É isso, em resumo?

NL: Mulher nunca faz isso!

PL: Mas por quê?

NL: Porque é um tabu, não sei. A gente não lida bem com isso. Eu vejo homem, meu primo que fala assim: "Vou soltar um barro!". Eu fico mal...

PL: [Risos.]

NL: Eu falo: "Como é porco!". E a gente fala assim: "Eu vou ali no banheiro e já volto". Nessa parte ainda somos superfinazinhas. Mas é bom a gente ter umas meiguices.

PL: Tem que preservar essas coisas.

NL: Eu acho também.

PL: Imagina se sua esposa, sua namorada fala isso: "Querido, vou ali soltar um barro e já volto, me aguarde".

NL: Não, não! É aquilo que a gente fala há um tempão: não é porque você é feminina que é burra né? É legal ser feminina também.

PL: Fora os sinônimos que existem para isso que eu poderia...

NL: Não, não, não fala, por favor.

PL: Se o Arthur estivesse aqui [Arthur Veríssimo, apresentador do programa] ele já estaria soltando...

NL: A gente não pode nem ouvir falar que tampamos o ouvido.

PL: Quem quiser comprar seu livro ou conhecer o trabalho dos 02 Neurônio, como faz?

NL: Manual para Moças em Fúria, Editora Record, nas melhores livrarias - espero que em todas.

PL: As pessoas que fazem yoga podem encontrar...

NL: As pessoas que fazem yoga, por favor, não batam na gente. Eu sei que o Sr. De Rose já não gostou muito de uma nota que uma vez fizemos na Tpm ...

PL: O Arthur vai querer brigar com vocês.

NL: O Arthur é o verdadeiro dono da yoga, parece que foi ele quem inventou, ele é a pessoa que mais entende. A gente só está podendo falar mal da yoga porque ele não está aqui.

PL: Exatamente.

NL: Se não, ele já teria quebrado o estúdio inteiro.

PL: O livro custa quanto?

NL: Eu não sei [risos].

PL: Muito bom o sistema de divulgação, excelente.

NL: Eu não sei quanto custa o livro, mas não é caro.

PL: Ela não sabe quanto custa, nem onde tem.

NL: Mas sempre custa muito menos que uma revista importada. Ainda mais agora, que o dólar está tão alto. Deve custar uns R$ 20, R$ 30, o preço de um CD. Qualquer livraria tem. Vamos falar do site da Tpm também?

PL: Lógico, por favor.

NL: revistatrip.uol.com.br/tpm. Na edição de dezembro/janeiro que já está nas bancas, tem aquele Badulaque Especial, com a eleição do "Troféu Sem Noção" e toda a retrospectiva do ano, que está incrível.

PL: Isso é muito importante, o "Troféu Sem Noção" do ano...

NL: É o troféu mais importante do Brasil.

PL: Tá ali com o "Troféu Imprensa".

NL: Com o "Prêmio Esso?" Aquele que a gente é sempre indicado...

PL: Aliás, estamos de novo no páreo, graças a Deus.

       Nina, obrigada pela sua presença aqui.

PL: Obrigada a todos!

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