Confira a entrevista com a repórter especial da Tpm Nina Lemos
Elas são escritoras e jornalistas preocupadas com dramas, neuroses, devaneios e alegrias da mulher contemporânea. Juntas, elas têm uma coluna na Folha de S.Paulo, um site na internet e um programa no canal de TV GNT, sempre abordando temas de interesse da mulher moderna.
Estamos aqui com Nina Lemos, que também é repórter especial da Tpm - faz parte da equipe que fundou a revista e está lá até hoje desfiando seus comentários curiosos e, como diria Arthur Veríssimo, sempre pitorescos.
Ela é uma das cabeças pensantes por trás do 02 Neurônio, um espécie de portal da garota moderna por assim dizer.
Em mais uma empreitada, o trio está lançando nessa semana o Manual Para Moças em Fúria, o terceiro livro de humor do 02 Neurônio.
Nina, boa noite, muito obrigada pela sua presença.
Nina Lemos: Boa Noite
PL: Eu sei que teve festa de lançamento...
NL: Que você faltou...
PL: Deve ter sido tipo rave, você deve estar cansada até agora.
NL: O Feio [um dos primeiros DJs do TRIP FM que preparou a trilha deste programa] foi DJ!
PL: Da festa? Sério?
NL: Não, claro que não [risos].
PL: Ia ser demais...
PL: Eu disse nesta introdução que vocês falam da mulher moderna, da garota moderna, seja lá o que for. Esse tipo de rótulo cabe com o trabalho que vocês estão fazendo no 02 Neurônio ou é mais uma coisa para vocês zoarem porque não tem nada de garota moderna? Como você vê isso?
NL: Eu acho que é mais uma coisa para a gente zoar. Eu acho que mulher moderna é algo tão antigo né? Mulher moderna eram nossas mães, que lutaram pelo divórcio. A gente tava rindo aqui, eu e o Paulo, antes de começar o programa, lendo um texto: "Como fingir que você é uma pessoa moderna". Você tem que fazer parte de um coletivo... Hoje em dia para ser moderno dá um trabalho, você tem que ser tanta coisa.
PL: Essa história de coletivo, como é que vocês falam no livro? Que qualquer grupinho, juntou três manos, já é coletivo. Chiquérrimo...
NL: O coletivo é profissão de desempregado né? Juntou três desempregados que falam assim: "Vamos pintar uma parede?". A gente é um coletivo que pinta parede! A TRIP é um coletivo? Será? A Tpm...
PL: Tudo é coletivo. Tem uma passagem do livro que eu estava lendo, que, aliás, como diria Roberto Avallone, ricamente ilustrado, muito engraçada: as conversas que ninguém agüenta mais, ou que vocês não agüentam mais. E uma delas é a conversa clássica de yóga ou yôga, para ficar mais insuportável.
NL: Ah é. É yôga, os insuportáveis falam yôga.
PL: Como é essa história? Dá uma idéia para quem ainda não viu o livro. Quais são os assuntos mais insuportáveis do momento?
NL: Olha, eu acho que yôga [enfática] é o pior porque todas as pessoas do mundo hoje praticam yôga. E elas se acham serem melhores que os outros porque ficam "Porque na minha yôga..." E tem as que surtam mais ainda e fazem peregrinações de yôga, "porque é uma viagem sem consumo", aí você é super fútil porque não faz yôga. Tem aquela coisa dos médicos alternativos também: "Eu vou num médico que só posso comer cenoura". Aí você está almoçando com a pessoa e ela está falando mal da comida que você está comendo.
PL: Dr Mário Gomes...[Risos.]
NL: [Risos.] Parece um bando de velhinhos, falando de colesterol! Puta saco...
PL: Observando seu livro, você vê que a linguagem e as idéias são completamente diferentes das, por exemplo, revistas femininas de uma forma geral, acho que dá para excluir a Tpm, mas de uma forma geral é bem diferente a visão de mundo. Mas tem uma coisa engraçada: parece que vocês estão sempre atrás de um homem, reclamando de um homem, mais ou menos como fazem as mulheres da Nova, só que com outra linguagem. É verdade ou estou completamente louco?
NL: É verdade.
PL: [Risos.]
NL: É necessário admitir que é verdade, que a gente ainda gasta, tipo, 80% do nosso tempo falando de homem. Mas vocês não ficam falando de mulher também?
PL: Não, a gente praticamente não fala [risos].
NL: É essa minha dúvida. Eu quero entrar no banheiro masculino. Lá vocês também ficam falando de mulher.
PL: Vocês ganham uma bufunfa fazendo esse livro?
NL: Não! Ninguém ganha bufunfa fazendo livro no Brasil, infelizmente...
PL: Olha que o Lair Ribeiro ganhou hein?
NL: Então, as pessoas não gostam muito de ler, aí elas lêem Lair Ribeiro [risos] e Paulo Coelho.
PL: Talvez isso seja difícil de você responder, mas o livro é uma espécie de coletânea de crônicas, de textos curtos que a pessoa pode ler sem uma ordem necessária. Você tem alguma que lhe é particularmente especial aqui?
NL: Aí, eu gosto de várias. Aquela que a gente tava falando agora da Jô - que não pôde vir aqui - em que ela fala que tem cabelo Bozo, eu acho sensacional.
PL: O que, por exemplo, é um cabelo feminino Bozo?
NL: O cabelo Bozo é assim: o verdadeiro cabelo ruim é o cabelo Bozo, aquele que não é liso nem cacheado. Então ele vai crescendo para os lados, vai ficando rebelde.
PL: Ela fala aqui que ele forma tufos laterais, seria isso?
NL: [Risos.] Tufos laterais! Você vai ficando parecido com a Vovó Mafalda. Aí você tenta prender, coloca alguma coisa, passa uma pomada, mas o Bozo sai. Eu tenho cabelo Bozo viu?! É curto, mas se for longo, vira Bozo.
PL: É engraçado que os homens que podem ficar carecas - e muitos ficam - se preocupam com isso, mas as mulheres que têm cabelo sobrando ficam preocupadas com o cabelo Nina?
NL: É lógico porque daí o cabelo fica Bozo, vai crescendo para os lados.
PL: Mas todas as mulheres se preocupam com o cabelo ou existem mulheres que são absolutamente invulneráveis?
NL: Eu não conheço nenhuma mulher que não se preocupe com o cabelo.
PL: Quer dizer, todas fazem chapinha, por exemplo?
NL: Não, a chapinha... A gente fez até um programa de TV agora, você devia ter visto, que era A Maldição da Chapinha. Tem pessoas viciadas em chapinha né? Tem aquela mulher: "Eu vendi a minha televisão, roubei jóias dos meus pais, penhorei tudo o que eu tinha pois tinha que pagar minha conta da chapinha". Eu acho que virou tipo um vício, grave.
PL: Eu ontem vi um documentário sobre cabelos no GNT...
NL: Eu também vi!
PL: Tinha uma mulher passando o cabelo da outra numa tábua de passar roupa. Isso existe?
NL: Cara, eu tava vendo com a minha mãe e ela falou que existia mesmo e que ela fazia. Várias coisas bizarras ela falava: "Eu fiz! Eu fiz!".
PL: Vamos pegar o Alê [assistente do TRIP FM, que tem cabelos cacheados] e fazer uma experiência: botar ele numa tábua de passar roupa e fazer uma chapinha antiga nele.
NL: Eu acho ótimo! A gente publica na Tpm: "Antes e Depois".
PL: Esse aspecto do cabelo foi engraçado, mas eu vi também uma história de um ?conquistador de R$ 1,99?. O que seria?
NL: Ah! Não vamos citar nomes de personalidades né?
PL: Podemos citar um nomezinho para criar uma polêmica [risos].
NL: Ai não, não, não...
PL: Mas o que seria esse personagem?
NL: É aquele sedutor barato, aquele que seduz por seduzir, entendeu? Nem quer nada...
PL: Pelo esporte.
NL: Seduz por esporte, por falta do que fazer, pela cara de pau.
PL: Olha, eu tenho um amigo que é assim, eu não vou dizer o nome.
NL: Aí, que vontade de dizer o nome...
PL: Mas eu vou dizer as iniciais: RF...
NL: Aí meu deus do céu! Eu posso falar a profissão?
PL: Pode, pode.
NL: Pode mesmo?
PL: Publicitário vai, assim fica mais genérico.
NL: É, é um publicitário famoso.
PL: Eu já consegui algumas confissões suas aqui e agora vou tentar conseguir outra. Você já deve ter falado várias vezes essa frase: "Como falta homem!"
NL: Aí, eu não falo há muito tempo, porque não é verdade.
PL: Cansou!
NL: Falta se resolver.
PL: Ou você achou os homens que estava procurando.
NL: Achei! Achei nada... Eu acho que não falta nada. Falta gente legal no mundo. Puta clichê né? Teve um livro que a gente queimou em uma seção da Tpm, "Queimando o Livro": Por que Não Sobraram Homens Bons, de Barbara Dafoe Whitehead. O que é isso gente? Sobrou sim! Tem um monte.
PL: O pessoal não conhece o Edu [produtor do TRIP FM]. Essa turma não conhece o Eduardo.
NL: É! Aqui tem um monte de homem bom.
PL: Como é essa história de homem superior Nina? Já que não temos espelho aqui, gostaria que você explicasse o que é um homem superior?
NL: "Não temos espelhos" é ótimo. Em homenagem a você eu vou falar a frase, aquela frase: o homem superior liga no dia seguinte, liga quando promete [risos]. Ele sabe usar o telefone, é gentil. Tem uma coisa que eu acho que define bem o homem superior: ele elogia sua independência, acha legal a mulher trabalhar pra caramba, ganhar bem, ser batalhadora, mas ele carrega as compras do supermercado.
PL: E paga a conta também?
NL: Não necessariamente. Se ele quiser ser gentil, paga. Um pouco de gentileza tá faltando nesse mundo.
PL: Mas o importante é descarregar o carro depois do supermercado.
NL: E fala: "Pô, que legal, você trabalha pra caramba, reconheço? E descarregar o supermercado sim, porque a gente é mais fraca né"
PL: É verdade, é verdade. Para isso servimos bem: carregamos bem malas.
PL: Como é lançar um livro? O sujeito acha que escreveu uma coisa bacana, relevante. Qual o percurso que vocês trilharam para conseguir lançar o livro?
NL: Como diria uma miss, nós tivemos muita sorte. Deus iluminou porque, na verdade, a gente foi procurada pela editora, que é uma coisa meio rara, meio não, muito rara! A gente começou a fazer o fanzine e o André Forastieri, que tem a Conrad, uma editora pequena e legal, convidou a gente para fazer o livro. Fizemos o primeiro. Aí, no segundo, fomos convidadas pela Record, que é uma editora enorme. As coisas aconteceram de uma maneira diferente do usual. Era um fanzine, um "coletivo".
PL: [Irônico sobre o coletivo.] Ahã...
NL: Sem fins lucrativos. Um fanzine que a gente xerocava, que qualquer um pode fazer. Muito legal fazer fanzine né? Quatro paginazinhas só para se divertir, para falar mau de homem, porque na época a gente falava mais mau. Amadurecemos.
PL: Tem uma coisa com relação às diferenças entre homem e mulher que eu achei interessante: as mulheres têm um problema sério em falar sobre o número 2.
NL: Sabia que você ia falar disso.
PL: Como é essa história?
NL: Eu tenho tantos problemas, que fico vermelha só de pensar nesse texto.
PL: Quer dizer que a mulher não gosta de falar que vai fazer cocô. É isso, em resumo?
NL: Mulher nunca faz isso!
PL: Mas por quê?
NL: Porque é um tabu, não sei. A gente não lida bem com isso. Eu vejo homem, meu primo que fala assim: "Vou soltar um barro!". Eu fico mal...
PL: [Risos.]
NL: Eu falo: "Como é porco!". E a gente fala assim: "Eu vou ali no banheiro e já volto". Nessa parte ainda somos superfinazinhas. Mas é bom a gente ter umas meiguices.
PL: Tem que preservar essas coisas.
NL: Eu acho também.
PL: Imagina se sua esposa, sua namorada fala isso: "Querido, vou ali soltar um barro e já volto, me aguarde".
NL: Não, não! É aquilo que a gente fala há um tempão: não é porque você é feminina que é burra né? É legal ser feminina também.
PL: Fora os sinônimos que existem para isso que eu poderia...
NL: Não, não, não fala, por favor.
PL: Se o Arthur estivesse aqui [Arthur Veríssimo, apresentador do programa] ele já estaria soltando...
NL: A gente não pode nem ouvir falar que tampamos o ouvido.
PL: Quem quiser comprar seu livro ou conhecer o trabalho dos 02 Neurônio, como faz?
NL: Manual para Moças em Fúria, Editora Record, nas melhores livrarias - espero que em todas.
PL: As pessoas que fazem yoga podem encontrar...
NL: As pessoas que fazem yoga, por favor, não batam na gente. Eu sei que o Sr. De Rose já não gostou muito de uma nota que uma vez fizemos na Tpm ...
PL: O Arthur vai querer brigar com vocês.
NL: O Arthur é o verdadeiro dono da yoga, parece que foi ele quem inventou, ele é a pessoa que mais entende. A gente só está podendo falar mal da yoga porque ele não está aqui.
PL: Exatamente.
NL: Se não, ele já teria quebrado o estúdio inteiro.
PL: O livro custa quanto?
NL: Eu não sei [risos].
PL: Muito bom o sistema de divulgação, excelente.
NL: Eu não sei quanto custa o livro, mas não é caro.
PL: Ela não sabe quanto custa, nem onde tem.
NL: Mas sempre custa muito menos que uma revista importada. Ainda mais agora, que o dólar está tão alto. Deve custar uns R$ 20, R$ 30, o preço de um CD. Qualquer livraria tem. Vamos falar do site da Tpm também?
PL: Lógico, por favor.
NL: revistatrip.uol.com.br/tpm. Na edição de dezembro/janeiro que já está nas bancas, tem aquele Badulaque Especial, com a eleição do "Troféu Sem Noção" e toda a retrospectiva do ano, que está incrível.
PL: Isso é muito importante, o "Troféu Sem Noção" do ano...
NL: É o troféu mais importante do Brasil.
PL: Tá ali com o "Troféu Imprensa".
NL: Com o "Prêmio Esso?" Aquele que a gente é sempre indicado...
PL: Aliás, estamos de novo no páreo, graças a Deus.
Nina, obrigada pela sua presença aqui.
PL: Obrigada a todos!