Talvez a solução para diminuir o leque de alternativas perdidas seja estar em mais lugares ao mesmo tempo
POR LUIZ ALBERTO MENDES* FOTO CIRILO DIAS
Estive pensando na quantidade de tudo que temos que abrir mão ao tomarmos determinadas atitudes. De repente, me parece grande demais. Desproporcional ao possível arranjo ou desarranjo que nossa atitude possa ter ocasionado. Acredito sinceramente que, se pudéssemos diminuir o leque de alternativas perdidas, teríamos mais chances. Talvez a solução fosse estar em mais lugares ao mesmo tempo.
Quando vi o dr. Dráuzio Varela, por ocasião do lançamento do Estação Carandiru, em três canais de televisão ao mesmo tempo, fiquei impressionadíssimo. Eram gravações. Mas, para quem assistia, ele estava em três lugares ao mesmo tempo, conversando três assuntos diferentes.
Estar em vários lugares e, principalmente, fazendo muito mais coisas ao mesmo tempo é possível. Por exemplo: trabalhei no filme Estômago, do diretor Marcos Jorge. Hoje ele está disputando um festival de filmes em Berlim. Tenho até uma ponta, só para registro, na encenação. Escrevi uma peça; A passagem. O ator João Signorelli provavelmente está ensaiando neste instante. Pretendemos colocá-la em cartaz este ano ainda.
Meu primeiro e o último livro: Memórias de um sobrevivente, e Às cegas, publicados pela Cia. das Letras, há dois anos e alguns meses estão sendo transformados em filme. A proposta que consta no contrato é de um longa-metragem, uma minissérie e um seriado. Vou participar como co-roteirista. Os contratantes podem estar trabalhando em cima do enredo agora. O meu segundo livro: Tesão e prazer, foi traduzido para o alfabeto cirílico e as pessoas estão lendo lá na Rússia. Imaginar pessoas com meu livro na mão, envoltos em grossos cobertores, temperatura abaixo de zero grau e na janela a neve caindo incessantemente é imenso prazer.
Faz mais de seis anos que tenho coluna na revista Trip. Essa é daquelas revistas que não se jogam fora depois de ler. O trabalho ali é quase artesanal, bonito e interessante demais para ser jogada no lixo. Vai ficar em estantes, mesas, coleções e serão preservadas. Recebo e-mails de pessoas que lêem agora textos meus publicados anos atrás. Tenho outra coluna aqui (e esta semanal) há cerca de três anos e meio. Acho que tem cerca de 150 ou mais textos aqui guardados para serem lidos a qualquer momento.
Estou com três projetos de oficinas de leitura e escrita sendo estudados no momento, em dois institutos. Um para dar continuação às oficinas que realizei em três penitenciárias de São Paulo no ano passado. Outro para crianças e adolescentes que participam de projetos sociais. O último será para aplicação em escolas, bibliotecas, empresas, sociedades amigos de bairros e onde surja oportunidade.
Estou com cinco livros para adultos e um infantil, prontos para edição. Além de estar escrevendo um novo romance. Minha editora me liberou para que procurasse outras editoras porque não há como acompanhar minha produção. Estou com pelo menos três livros sendo lidos por editores diferentes. Fora os três que tenho publicado e que estão nas livrarias. Pode ser que neste instante mais de uma pessoa os estejam lendo. Tenho contos, crônicas e textos publicados em livros que selecionam vários autores. Além, é claro, dos textos que estão em revistas e jornais que publiquei contratado como frila. Posso, neste momento, estar em muitos lugares, mesmo estando aqui pensando e escrevendo.
Estou fora das prisões há quase quatro anos e ainda vivo ansioso e faminto por expandir cada vez mais minha liberdade. Essa de ir e vir, já desde muito pequeno não me foi permitida. Jamais coube em minha parca existência e tomei atitudes extremas. Na prisão expandi através da mente, do espírito. Não havia espaço para outras expansões. Aqui fora não é muito diferente. Os espaços existem, mas as expansões continuam sendo mentais. O físico, descobri ainda com o tempo, é limitado demais para abarcar a amplidão das possibilidades humanas.
As opções reduzem nossas alternativas, é irredutível. Mas também é bem possível elastecer oportunidades expandindo nossas escolhas no espaço através do tempo. Gastei dezenas de anos de trabalho e estudo para começar a me aproximar desse ideal. Sei que estou em vários lugares, neste exato momento (claro que menos que gostaria de estar), mesmo estando aqui grudado a esse teclado. Não é fantástico?
*Luiz Alberto Mendes, 54, autor de Memórias de um sobrevivente, passou 30 anos atrás das grades aprendendo a perder e esperando ganhar. Seu e-mail é: lmendes@trip.com.br
Estive pensando na quantidade de tudo que temos que abrir mão ao tomarmos determinadas atitudes. De repente, me parece grande demais. Desproporcional ao possível arranjo ou desarranjo que nossa atitude possa ter ocasionado. Acredito sinceramente que, se pudéssemos diminuir o leque de alternativas perdidas, teríamos mais chances. Talvez a solução fosse estar em mais lugares ao mesmo tempo.
Quando vi o dr. Dráuzio Varela, por ocasião do lançamento do Estação Carandiru, em três canais de televisão ao mesmo tempo, fiquei impressionadíssimo. Eram gravações. Mas, para quem assistia, ele estava em três lugares ao mesmo tempo, conversando três assuntos diferentes.
Estar em vários lugares e, principalmente, fazendo muito mais coisas ao mesmo tempo é possível. Por exemplo: trabalhei no filme Estômago, do diretor Marcos Jorge. Hoje ele está disputando um festival de filmes em Berlim. Tenho até uma ponta, só para registro, na encenação. Escrevi uma peça; A passagem. O ator João Signorelli provavelmente está ensaiando neste instante. Pretendemos colocá-la em cartaz este ano ainda.
Meu primeiro e o último livro: Memórias de um sobrevivente, e Às cegas, publicados pela Cia. das Letras, há dois anos e alguns meses estão sendo transformados em filme. A proposta que consta no contrato é de um longa-metragem, uma minissérie e um seriado. Vou participar como co-roteirista. Os contratantes podem estar trabalhando em cima do enredo agora. O meu segundo livro: Tesão e prazer, foi traduzido para o alfabeto cirílico e as pessoas estão lendo lá na Rússia. Imaginar pessoas com meu livro na mão, envoltos em grossos cobertores, temperatura abaixo de zero grau e na janela a neve caindo incessantemente é imenso prazer.
Faz mais de seis anos que tenho coluna na revista Trip. Essa é daquelas revistas que não se jogam fora depois de ler. O trabalho ali é quase artesanal, bonito e interessante demais para ser jogada no lixo. Vai ficar em estantes, mesas, coleções e serão preservadas. Recebo e-mails de pessoas que lêem agora textos meus publicados anos atrás. Tenho outra coluna aqui (e esta semanal) há cerca de três anos e meio. Acho que tem cerca de 150 ou mais textos aqui guardados para serem lidos a qualquer momento.
Estou com três projetos de oficinas de leitura e escrita sendo estudados no momento, em dois institutos. Um para dar continuação às oficinas que realizei em três penitenciárias de São Paulo no ano passado. Outro para crianças e adolescentes que participam de projetos sociais. O último será para aplicação em escolas, bibliotecas, empresas, sociedades amigos de bairros e onde surja oportunidade.
Estou com cinco livros para adultos e um infantil, prontos para edição. Além de estar escrevendo um novo romance. Minha editora me liberou para que procurasse outras editoras porque não há como acompanhar minha produção. Estou com pelo menos três livros sendo lidos por editores diferentes. Fora os três que tenho publicado e que estão nas livrarias. Pode ser que neste instante mais de uma pessoa os estejam lendo. Tenho contos, crônicas e textos publicados em livros que selecionam vários autores. Além, é claro, dos textos que estão em revistas e jornais que publiquei contratado como frila. Posso, neste momento, estar em muitos lugares, mesmo estando aqui pensando e escrevendo.
Estou fora das prisões há quase quatro anos e ainda vivo ansioso e faminto por expandir cada vez mais minha liberdade. Essa de ir e vir, já desde muito pequeno não me foi permitida. Jamais coube em minha parca existência e tomei atitudes extremas. Na prisão expandi através da mente, do espírito. Não havia espaço para outras expansões. Aqui fora não é muito diferente. Os espaços existem, mas as expansões continuam sendo mentais. O físico, descobri ainda com o tempo, é limitado demais para abarcar a amplidão das possibilidades humanas.
As opções reduzem nossas alternativas, é irredutível. Mas também é bem possível elastecer oportunidades expandindo nossas escolhas no espaço através do tempo. Gastei dezenas de anos de trabalho e estudo para começar a me aproximar desse ideal. Sei que estou em vários lugares, neste exato momento (claro que menos que gostaria de estar), mesmo estando aqui grudado a esse teclado. Não é fantástico?
*Luiz Alberto Mendes, 54, autor de Memórias de um sobrevivente, passou 30 anos atrás das grades aprendendo a perder e esperando ganhar. Seu e-mail é: lmendes@trip.com.br