Meu lugar no mundo

Luiz Mendes: ”A Trip tem sido meu canal de entrega íntima e pessoal ao mundo”

A Trip tem sido meu canal de entrega íntima e pessoal ao mundo. Quer me achar é só procurar aqui

Rolava o começo do século. Havia mágicas esperanças nos corações. Eu, ainda preso, chegava aos 30 anos cumpridos. Havia acabado de lançar o livro Memórias de um sobrevivente, pela Companhia das Letras. Estava feliz pela realização, ela começava a repercutir quando recebi insólita visita na prisão.

Era o então diretor de redação da Trip, Giuliano Cedroni. Vinha com convite do Paulo Lima para que eu assinasse uma coluna na revista. Sabia que meu livro fazia sucesso, mas não podia imaginar que era tanto. A princípio assustei. Bateu a maior insegurança. Mas, ao conhecer a ideia inteira, não hesitei em aceitar o desafio.

Henrique Goldman, o cineasta brasileiro do filme Jean Charles, escreveria lá de Londres, onde mora e trabalha. Falaria lá do mundão exterior. Eu, morando e escrevendo da prisão, falaria do mundinho interior de dentro de uma cela. Propunha um contraponto. Depois que saí da prisão, seguimos novos caminhos, mas as nossas colunas continuam chamando Mundo Livre.

A história da ideia era mais interessante ainda. Paulo e amigos viajam para o exterior, acho que em férias. Um desses amigos, Marcelo Loureiro, lia um livro sem parar, quase que obsessivamente. Os amigos querendo conversar e ele sem dar atenção, ferrado no livro. Quando acabou de ler, Paulo pegou, já muito curioso. Acabou gostando tanto que não devolveu ao amigo. Era o meu primeiro livro: Memórias de um sobrevivente. Da leitura do livro Paulo saiu com a ideia da coluna.

Foi muito difícil compor meus primeiros textos. A responsabilidade era imensa. Giuliano me ajudou muito a ajustar minhas ideias à realidade da revista. Os resultados foram surpreendentes, pelo menos para mim. Recebi muitos e-mails elogiosos. Vieram críticas também, embora essas fossem mais ataques pessoais. A maioria das pessoas que me conhecem soube de mim através da revista. Existem maravilhosos leitores que me leem e me acompanham sempre. A todos, meus agradecimentos. Aprendi muito escrevendo para vocês. Principalmente a não escrever besteiras.

O pessoal da revista todo mês mandava uma caixa de produtos culturais. Paulo veio me trazer sua amizade em visita na extinta penitenciária do estado. Quando precisavam me fotografar, as meninas da produção vinham sempre junto para me ver e oferecer diálogo. Na verdade a revista me adotou, sou quase um filho da Trip.

Parte da história

É uma grandeza uma revista que completa 25 anos de vida. Quanta gente boa ali se formou e quanta informação diferenciada foi comentada e divulgada... Acabei gratamente surpreso ao perceber que faço parte dessa história. Eu também colaborei com o sucesso da revista. E sempre com prazer imenso de fazer parte. Em outubro do ano que vem celebraremos, eu e Henrique Goldman, dez anos da coluna Mundo Livre.

A Trip é uma casa de portas abertas. A revista tem sido meu canal de entrega íntima e pessoal ao mundo. Minha localização no mundo. Quer me achar é só procurar na Trip. Por lá se sabe onde estou. Clarice Lispector afirmava: “A palavra é meu domínio do mundo”. Eu diria que a revista Trip tem sido um dos veículos importantes no domínio do mundo de seus leitores.

*Luiz Alberto Mendes, 58, é autor de Memórias de um sobrevivente. Seu e-mail é lmendesjunior@gmail.com

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