Mentira tem a testa comprida

Em uma edição que tem como missão discutir a mentira, vale abordar o auto engano, uma de suas modalidades mais recorrentes. Mentimos para nós mesmos o tempo todo. “Sim, ela ainda me ama”; “Esse trabalho não é tão ruim assim”; “Segunda começo o regime”… Mas neste departamento nada, NADA, supera a prática do combover. Comb o que? Combover é o nome em inglês para a técnica secular que alguns calvos utilizam para “ocultar” sua condição. Funciona assim: o indivíduo deixa crescer o tufo remanescente e penteia-o à força sobre a cabeça desnuda, provocando um efeito similar a um código de barras. Pronto, nasce um autêntico careca cabeludo – pelo menos, até o primeiro vento.

Os norte-americanos Tim Fenoglio e Chris Marino foram dois que resolveram jogar luz nessa história. Em seu documentário Combover – The Film (2007) vão atrás das origens desse ícone da auto enganação. Além de escutar sociólogos, terapeutas e outros ph.D.s sobre o tema os dois descobriram, pasmem, que não há pesquisas sobre o combover. Há sobre calvície, implantes, cabeleiras masculinas… mas sobre combover que é bom, nada.

“Estava na piscina da academia com meu pai quando vi um homem saindo da ducha ao lado. Ele tinha um cabelo que passava dos ombros, mas que crescia só de um lado. Nunca tinha visto alguém com tanto e com tão pouco cabelo ao mesmo tempo. Aquela cena nunca mais saiu da minha cabeça”, lembra o cabeludo Chris.

O diretor tentou entrevistar alguns adeptos do estilo, como o ex-embaixador do Iraque na ONU, Mohammed Al Douri, mas não obteve sucesso – não, ele não foi atrás de um certo governador de um rico Estado do sudeste brasileiro. Em uma das tentativas, quando investiu sobre um senhor com um um topete digno de Elvis Presley, mas repuxado quase lá da nuca, foi até ameaçado de morte. Ao que parece, o pessoal da testa longa tem paciência curta.