Quem se impressionou com Estação Carandiru agora pode conhecer a versão dos próprios presos para a vida no xadrez
Minha vida na delinqüência se iniciou cedo. Aos 11 anos vagava pelas ruas de SP vendendo flores. Em seguida, partia para pequenos roubos e o uso de maconha. As entradas e saídas no Juizado de Menores pela prática de furtos e por vadiagem começaram em 1966. Depois foram os assaltos à mão armada. Assim começa o relato de Luiz Antonio Ramos - morador número 080.908 da Casa de Detenção de São Paulo. Quem se impressionou com o relato cortante de Drauzio Varella em Estação Carandiru agora pode conhecer a versão dos próprios presos para a vida no xadrez através das 15 histórias reunidas no singular Letras da Liberdade. O tema recorrente é o massacre de 1992, em que pelo menos 111 presos foram chacinados, mas há espaço para assuntos mais amenos - rebeliões, torturas, trairagem. Embora não se possa dizer que daqui sairá algum Dostoiévski (autor de Recordações da Casa dos Mortos, em que rememora sua cana na Sibéria), surpreende na maioria dos contos a sensibilidade na descrição de um ambiente tão casca-grossa. O livro traz ainda ilustrações [como à esq.] e comentários de Lobão, João Batista Gelpi, Ziraldo, Ruy Castro e outros.Letras da Liberdade, vários autoresEditora Madras (www.madras.com.br), 150 páginas, R$ 15
Ronaldo Bressane