Qualquer pesquisa séria mostraria a importância estratégica dessa arte para a cidade de SP
A matéria publicada hoje na Ilustrada da Folha de S.Paulo mostra que já existem em São Paulo passeios para visistação dos mais importantes pontos de grafite da cidade.
Arrisco dizer que muitos turistas, principalmente estrangeiros, vem a São Paulo para conhecer essas rotas e nossa maravilhosa arte urbana. Infelizmente esse segmento ainda é muito informal e carece de um acompanhamento de impacto econômico, mas qualquer pesquisa séria nesse sentido mostraria a importância estratégica dessa arte para a cidade.
Quando fui Coordenador de Juventude no governo Marta, realizamos diversos projetos de apoio ao grafite. Trabalhamos com Osgemeos - que na época eram desconhecidos do público - Rui Amaral, Juneca, O Aprendiz, Choque Cultural, entre outros. O maior projeto do período foi o São Paulo Capital Grafitti, que gerou mais de 1.000 muros com essa arte pra cidade. Acredito que esse trabalho tenha sido o estopim de tudo o que aconteceu depois e contribuiu principalmente com o reconhecimento dessa arte pela própria cidade.
Durante o governo tentei criar o MAPA DO GRAFITE. Claro que no período existiram muitas resistências pois a consciência artística sobre a importância da arte urbana ainda era muito pouco consolidada. Mas acho que hoje já temos condições de pensar seriamente nisso, afinal de contas, temos a cultura enraizada, gritaria quando os órgãos públicos de limpeza apagam obras e apoio da grande mídia. Condições ideais.
Alô alô Prefeitura! Alô Secretaria de Cultura! Vamos sair da mesmice e fazer algo realmente inovador pra cidade?
Na foto, a polêmica e grande obra de Osgemeos na ligação leste/oeste. Maior painel de grafite de São Paulo, que fiz com a dupla quando estava na Prefeitura.
Abaixo a matéria:
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Turistas exploram grafites de São Paulo
Obras de Rui Amaral, osgêmeos e Zezão são comentadas em passeio
Além de explicar técnicas e contar histórias do grafite na cidade, roteiro turístico apresenta obras de artistas novos e consagrados
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dégradé, jogos de luz e sombra. A guia turística aponta para as pinturas, chama atenção para assinaturas e técnicas. Não estamos num museu, muito menos vendo quadros. São grafites na avenida Doutor Arnaldo, zona oeste de São Paulo.
Entre buzinas e ônibus barulhentos, o grupo de dez turistas atravessa a pé o bairro de Pinheiros, em direção à Vila Madalena, caçando desenhos com ajuda da guia Yara Amaral, 26, mais conhecida como Yá!, grafiteira há seis anos e ex-aluna de artistas famosos do movimento, como Zezão e Boleta.
"A ideia é sensibilizar o olhar para a cidade", explica Leandro Herrera, sócio-fundador da Soul Sampa, agência de turismo que organiza passeios temáticos pela cidade e, desde abril, começou a explorar a fama do grafite paulistano, assim como outras duas empresas (leia mais no quadro à dir.).
Pelos 5 km de asfalto, surgem trabalhos de artistas mais conhecidos, como Titi Freak e Rui Amaral, além de nomes da nova geração, como Zito, que mistura grafite e fotografia numa obra localizada sob a ponte da r. João Moura. Yara também fala das gangues de pichadores, como os coletivos Vicio e Sustos, e suas filosofias de rua.
Num "grapicho" -mix de grafite e pichação- na rua Cardeal Arcoverde, por exemplo, letras em tons de azul e contornos elaborados fazem mistério sobre o que, afinal, estaria escrito ali. "Às vezes nem a gente entende", diz Yara sobre o desenho pintado em 2008, provavelmente de forma ilegal.
"Da mesma forma que os intelectuais criam uma linguagem que ninguém entende, eles [grafiteiros, pichadores] criaram a deles. Eles marginalizam quem os marginaliza."
Beco do Batman
Enquanto a turma caminha com suas câmeras fotográficas, Leandro e um colega ficam de olho para ninguém ficar para atrás. O grupo é composto só de mulheres, todas estrangeiras, que moram ou estudam no país. O passeio dura cinco horas, incluindo um workshop de spray ao final e pausas para almoçar e tirar fotos, especialmente na escadaria da rua Cristiano Viana e no Beco do Batman, uma longa viela de paralelepípedos na Vila Madalena, ambos locais tomados pelos grafiteiros desde os anos 80.
Do grupo de americanas, argentinas e europeias, todas querem ver osgêmeos, dupla formada pelos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, que expõe em galerias de arte mundo afora e é reconhecida pelos desenhos de bonecos amarelos.
Mas nenhuma delas consegue identificar a assinatura elaborada em amarelo que encontramos pelo caminho, no alto de um muro. O "bomb" -letras sem muitos detalhes, só com contorno e preenchimento- foi feito neste ano pelo coletivo Vidaloka, do qual os dois participam, e, se olhado com calma, quer dizer "osgêmeos".
"Por mais que eles estejam nas galerias, eles continuam pintando nas ruas", explica Yara. "Sempre passo por aqui e vejo esse negócio, mas nunca imaginei que fosse dos gêmeos", comenta uma turista.
Zezão, famoso pelos tubos azuis que pinta nos subterrâneos da cidade, também surpreende com um mural pintado no Beco do Batman, repleto de nuvens de fumaça colorida em spray e estêncil, coisa que só os mais entendidos, como sua ex-aluna, reconhecem.
"É uma maneira diferente de descobrir o bairro, um passeio divertido e sério", disse a francesa Erwane Kaloudoff, 36.
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