Derrubar governos, demitir CEOs e fechar jornais irrelevantes, por Ricardo Guimarães

Temos que derrubar governos corruptos e ignorantes, demitir CEOs imaturos e alienados e fechar jornais irrelevantes e desonestos como o News of the World, do Murdoch

Caro Paulo,

Tenho uma amiga que preferia ter mais cachorros aos filhos que pariu. Eu entendo, apesar de não concordar. Até porque ela mesma em outros momentos não seria tão radical.

Mas ela não está sozinha. Há muito tempo o escritor português do século 19 Alexandre Herculano dizia que, “quanto mais ele conhecia os homens, mais ele gostava dos animais”.

Mas por que, sob certas circunstâncias, preferimos os animais?

Resposta: os animais não são tão livres quanto os humanos, portanto são mais “obedientes” e previsíveis segundo os princípios de funcionamento da vida.

E essa previsibilidade nos deixa mais seguros.

É verdade: pode ter certeza de que o leão sem fome não atacará a gazela indefesa. E, mais, nunca antes na história deste planeta aconteceu de leão matar várias gazelas para armazenar e depois explorar a fome do leão que não tinha gazelas para matar.

Isso não acontece porque está combinado que não pode acontecer. Matar para se alimentar pode; mas para explorar o semelhante não pode. Isso é lei que nem o rei da selva pode desobedecer. Criatividade e liberdade para explorar a necessidade do outro é típico dos humanos.

Reinos

Quem mais me ajudou a entender essa relação humanos-animais foi Rudolf Steiner, o austríaco da antroposofia que morreu no começo do século 20. Ele diz que a vida acontece em quatro reinos: o mineral, o vegetal, o animal e o humano. E que a diferença entre esses reinos está na complexidade da matéria e, consequentemente, na mobilidade. Na prática: o mineral é simples e imóvel; o vegetal é um pouco mais complexo e se move na direção da luz; o animal é mais complexo e pode se mover na direção de quem gosta e se afastar de quem não gosta. O quarto reino é o humano, que é supercomplexo e pode muito, como temos visto na história da humanidade. O poder que o humano tem é tão extraordinário que com ele nós desenvolvemos também a consciência para garantir que a gente não vai fazer uma besteira muito grande e acabar com a nossa raça.

É um jogo bem emocionante: mais poder, mais liberdade, mais consciência, mais evolução. Se desequilibrar essa fórmula o resultado é destruição. Simples assim.

Por isso que a gente tem que derrubar governos corruptos e ignorantes, demitir CEOs imaturos e alienados e fechar jornais irrelevantes e desonestos como o News of the World, do Murdoch.

Eu acredito que, para que a gente erre menos, nos foi dada a ciência e a humildade. Aí tem uma lição de casa básica que nos garante a sobrevivência num patamar um pouco melhor que os animais e, espero, bem pior do que os humanos podem conseguir.

Eu acredito nisso e tenho certeza de que vamos chegar lá. Aí terei bons argumentos para convencer minha amiga de que ser humano é melhor que ser animal.

Abraço animal do amigo wannabe humano,

Ricardo

*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus

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