A menina que nos acompanha há dez dos vinte anos desta revista explica como mudou a forma de encarar seus relacionamentos
Um estranho fenômeno faz com que o ciclo da Luana se repita a cada cinco anos nestas páginas. Aos 20 ela era uma das maiores apostas da TV, mas ainda não se considerava uma grande atriz. Aos 25, estava em plena revolução: em pé de guerra com a Rede Globo e terminando a fase Casal 20, depois de três anos de namoro com Rodrigo Santoro. Agora, aos 30, ela volta à Trip menos ansiosa, mais independente e solteira de novo, depois de se separar de Dado Dolabella aparentemente ainda apaixonada. “Nunca imaginei que isso existisse, mas pela primeira vez terminei um relacionamento gostando da pessoa porque a convivência não estava sendo positiva.” Até setembro deste ano, Luana roda o Brasil com a montagem da peça O Pequeno Príncipe e consegue se manter longe do império global. “Posso bater no peito e dizer: ‘Eu sobrevivo do teatro infantil’ e estou mais feliz, porque, além de ganhar dinheiro, alimento a minha alma.”
Mas, mesmo longe do dia-a-dia da telinha, uma coisa não muda: Luana continua tendo uma relação pra lá de ambígua com a mídia e não deixa de comprar uma boa briga. E melhor, não tem medo de enfrentar nem pesos pesados como Caetano Veloso, que, depois da polêmica sobre a música “Um Sonho”, ganhou dela a pouco carinhosa alcunha de “banana de pijama”. Se falando Luana é explosiva e irresistível, se prepare porque esta entrevista é só a primeira parte de sua volta à Trip. Depois dos ensaios matadores e megasensuais de 1997 e 2002, na próxima edição da revista, Luana volta a ser clicada por J. R. Duran. Pode pegar sua senha na banca.
O que mudou na sua vida da última vez que a gente conversou pra Trip, há cinco anos? Estou um pouco menos ansiosa, mais segura como pessoa e como profissional. O meu trabalho me traz uma segurança muito forte. Fazer Alice, o meu primeiro infantil, ter sido incrível e já estar no segundo [O Pequeno Príncipe], ganhando prêmio, me garante o respeito das pessoas. Na vida pessoal, fiquei um pouco menos ansiosa, amadureci um pouquinho.
E nos seus relacionamentos o que mudou? [Respira fundo] Pouco. Até porque sempre me deixo levar. Não é uma questão só de paixão, porque todas as relações que tenho não são essas paixões que duram dois, três meses, essa coisa mais sexual e fogosa. É uma coisa de encontrar a pessoa, bater o olho e já sentir na hora que desse mato vai sair coelho. Daí eu vivo a relação até o dia em que ela se esgota por si só. Antigamente, a minha relação era muito importante na minha vida e qualquer coisa que desse errado me desestabilizava por inteira. Não é mais assim. Tenho a segurança de que sou alguém, de que tenho amigos, de que tenho trabalho, independentemente de aquela pessoa me amar ou não.
Talvez seja impressão, mas, há cinco anos, você era mais sexual. Os hormônios assentaram? É, acho que sim. Sexo é super importante na minha vida, mas me encaixo bem naquele perfil da mulher que chega uma hora e começa a ter preguiça, sabe? Pra mim vale aquela frase: “Mulher troca qualquer boa foda por uma boa conversa na cama”. Sinto falta de estar junto, abraçado, receber e dar carinho, conversar olhando nos olhos do outro... A melhor coisa pra mim é aquele momento cama-calcinha-de-bruço-conversando. Agora, não sei também se é porque nunca fiquei muito tempo sem, mas jamais sinto falta do sexo.
Você terminou há pouco tempo o namoro com o Dado Dolabella. Tá difícil falar sobre isso? Não, não tenho problemas. Eu estou vivendo uma coisa supernova, terminar um relacionamento gostando da pessoa porque a convivência não estava sendo positiva. É melhor para mim e para ele. Teve um começo de boemia, com roda de música, mas a coisa tem de ser mais substancial, ter uma base mais fixa. Eu sinto falta dele, mas graças a Deus a gente não só envelhece, amadurece também. Quero alguém que some. Se for para subtrair ou dividir eu prefiro ficar sozinha.
Como ficou na sua cabeça aquela gravidez que você perdeu? Essa história está guardada na minha caixinha de momentos difíceis, sabe? Foi o momento mais difícil da minha vida mesmo. Mas já digeri, já consegui aceitar que, se aconteceu, assim era melhor. E talvez não fosse o momento. Minha mãe que fala: “Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que fala”. A gente passa por coisas que não compreende, mas que, um pouco mais pra frente, você consegue entender por que o destino colocou as coisas daquele jeito.
Na hora que você casar, assentar, você acha que vai mudar muito ou vai continuar suscetível a bater o olho em alguém e sentir tudo de novo? Cara, espero que mude [risos]. Aliás, o que tenho tratado muito na terapia é essa história do casamento. Não acredito muito nele. Mas, dentro de mim, eu tenho vontade de casar, de fazer uma família... São duas coisas muito opostas. Acho que vou mudar muito quando for mãe. Mais em relação à responsabilidade. Não que eu não seja responsável, mas acho que vou me tornar mais chata do que sou, em termos de exigência, sabe? Acho que, quando tiver um filho, não vou fumar o meu cigarrinho tomando o meu chope, como faço de vez em quando. Vou diminuir...
Estamos num momento confete porque saiu no jornal mais importante de comunicação que a Trip está entre as dez revistas mais admiradas do Brasil. Que papel teve na tua vida fazer os dois ensaios para a Trip? Materializa o que eu chamo dos princípios para mim e para a minha vida: conteúdo, qualidade e bom relacionamento. Claro que tem muito a ver com nossa relação, como admiro você como pessoa, e isso se estende à revista. Se você olhar um ensaio meu, verá que ele tem minha energia. Fui questionada, obviamente, por que fui fazer a Trip. Eu nem sei explicar direito. A melhor resposta que dou é: “Ah, fiz com 20 e com 25, agora vou fazer com 30.” [sorri]. Não dá para falar que é por dinheiro porque a Playboy, por exemplo, pode me pagar muito mais. O que acontece é que, nessas revistas masculinas, a sexualidade é muito óbvia e explícita. Na Trip não. Não faço cara de gatinha manhosa, em nenhum dos ensaios. Estou sempre contando uma história, dançando, olhando, não estou com cara de “ganhei um dinheiro, preciso excitar você”. Eu não gosto da obviedade. Gosto da sutileza. É aí que a Trip me encanta, posso fazer um trabalho belíssimo, com qualidade, sem ser vulgar.
Você se acha menos bonita hoje? Não, me acho mais bonita.
Como você controla seu equilíbrio físico? Eu tenho consciência do que como. Tenho uma dieta equilibrada. É claro que quero comer o meu doce, meu hambúrguer, e como, mas tenho uma alimentação muito rica em fibra, em fruta, tomo água pra caramba, me cuido e tal.
O que mudou fisicamente nesses últimos cinco anos? As coisas dão uma descida, né? [sorri]
Se 99% das mulheres fizessem exatamente o que você faz, comesse o que você come e bebesse o que você... Teria uma barriguinha. Outro dia dei uma declaração falando: “Cara, tenho a bunda que queria ter porque ela serve para sentar. Não posso ter a bunda igual a da Cicarelli porque ela é triatleta. Mas como não uso a minha bunda pra nada, está ótimo, ela me basta”.
O que você acha que as outras mulheres, que não têm a mesma sorte, poderiam fazer para relaxar um pouco com isso? Bom, primeiro acho que é mudar o padrão. É muito injusto pegar uma menina de 12, 13 anos, com 1,80 m de altura e fazer uma propaganda de cosmético querendo vender para uma mulher de 30. É preciso um mínimo de consciência para conhecer e saber que aquilo ali é uma publicidade, cheia de Photoshop.
Não sei se você quer falar, mas queria perguntar dessa história da música do Caetano... Puta, eu quero muito falar, né, Paulo.
O que aconteceu? Seguinte: isso se chama “a humanização de um ídolo”. Pra mim, Caetano era deus e descobri que ele é um banana de pijama. [pausa] Ele sempre foi muito querido comigo e sempre passei muito mal porque ele é meu ídolo desde os meus 9 anos de idade. Mal imaginava ir algum dia na vida a um show de Caetano, quanto mais ser colega dele. E teve uma época, uns dois anos atrás, que a gente se encontrou mais um pouco. Ele tava gravando um CD e falou: “Cara, a gente está gravando num estudiozinho, com todos os músicos novos, e você virou a musa da gravação porque tem um pôster seu da Trip lá dentro. Você não quer ir lá?”. Daí fui na gravação, fiquei lá umas duas, três horas, vendo eles tocando. Quando acabou Caetano foi me dar uma carona até em casa. Muito gentil, parou na porta da minha casa, tirou um papelzinho do bolso e disse: “Escrevi uma coisa pra você”. Fiquei estarrecida. Ele leu: “Lua na folha molhada, transparência, jabuticaba branca...”. Fiquei emocionada, falei: “Nossa, Caetano, que coisa maravilhosa, nunca mais vou esquecer desse momento na minha vida”. Depois de não sei quanto tempo, sai o CD do Caetano e eu compro. Quando abri, a primeira coisa que li foi a letra. Cara, fiquei louca. Ele musicou o que escreveu pra mim, eu não podia acreditar. Ainda lembro que eu perguntei para o Dado: “Você acha que eu devia escrever alguma coisa no meu site?”. Ele falou (olha só como são as coisas): “Acho que devia, ele vai ficar contente”. Só que escrevi meio cifrado. Então ninguém entendeu. Sei lá, passaram quatro semanas que tinha escrito, fui dar uma entrevista e um jornalista virou pra mim e falou: “O Dado já escreveu alguma música pra você?”. Respondi: “Não”. Aí ele: “Mas o Caetano escreveu, né? Então está tudo bem”. Eu tomei um puta susto: “Como é que você sabe?”. Ele falou: “Luana, li o teu blog, conheço o CD e a letra, somei um mais um”. A partir daí, só sei o que a imprensa me conta. Saiu aquela história na Mônica Bergamo, que não sei se ele disse ou não porque não costumo acreditar em coluna social. Mas para mim ele morreu, está sepultado. Não posso acreditar que um cara de 65 anos faça uma galhofa dessa. E essa história da música era uma flor que eu ia olhar e sempre achar bonita. E posso dizer uma coisa? O mundo inteiro pode não acreditar, mas eu vou encontrar o Caetano Veloso, a gente vai olhar um no olho do outro e ele vai abaixar a cabeça. Porque a história real, ele e eu sabemos.
Temos a felicidade como norte das últimas edições da Trip. O que isso significa pra você? Fazer o que gosta. A impressão que tenho é que poucas pessoas fazem isso. Sem ser piegas e citando o Pequeno Príncipe, é descobrir que o essencial da vida é invisível aos olhos. Acho que a gente veio a este mundo pra trocar. É importante olhar as pessoas nos olhos, estender a mão, dizer “por favor”, “obrigado”, apreciar um pôr-do-sol. Pode parecer banal, mas não é. Assim você vai se dar conta de que você é feliz. Quando você se dá conta de que tem saúde, isso é uma grande felicidade.