’’Precisamos de amor também nas carreiras, organizações, governos e sociedades’’
Em nome de paçoca, de músicas dos Beatles ou de duplas sertanejas, nos fundamentos de dezenas de religiões ou em tatuagens de todos os estilos, de certa forma, há amor por toda parte.
Mas nosso foco aqui é mais direcionado. Nesta edição da Trip (e evidentemente em todos os canais que construímos ao longo dos anos, incluindo o programa de TV na Band, os sites, o programa de rádio semanal e as fortes redes sociais que carregam nossa marca) queremos falar de amor num diapasão mais objetivo e menos poético ou etéreo.
A chamada de capa já explica bastante coisa. Talvez nem Marieta Severo discorde da ideia de que, em boa medida, o mundo está em parafuso. Do crescimento avassalador de ações e organizações terroristas ao redor do globo à iminência de conflitos (guerras mesmo) em diferentes e perigosos pontos do planeta, passando pelos lotes de gente faminta e à deriva no mar em busca de asilo e fugindo
de situações insuportáveis em suas terras, os sinais estão por todo lado... Tudo isso para não falar do desmonte da economia brasileira em grau e proporções inéditos e da sucessão sem fim de escandalosas revelações de sistemas profissionais de roubo do dinheiro da população, perpetrados por vagabundos de todas as espécies, origens e estados, incluindo mas não se limitando a políticos, que surgem a cada dia por aqui.
Mesmo em outras esferas, esses sintomas mais agudos e doloridos de uma transição gigantesca sobre a qual temos tratado aqui há pelo menos dez anos podem estar indicando na direção de uma única chance de não afundarmos definitivamente enquanto civilização. Usar o conceito de amor não apenas como algo que ilustra canções e poemas numa dimensão mais utópica de nossas existências, mas como tecnologia de gestão de carreiras, organizações, governos e sociedades.
Por volta de 2005, já começávamos a estudar e flertar com essas ideias. Possivelmente fomos uma das primeiras entidades aqui do Brasil a abordar modelos internacionais de gestão pública que tomavam por base conceitos semelhantes. O sistema de governo do Butão, por exemplo, tido por muitos à época como nada mais que uma espécie de um conto de fadas insignificante e hoje exaltado por importantes centros do pensamento mundial como uma espécie de laboratório avançado na pesquisa por um antídoto anticolapso mundial, foi alvo de várias reportagens
e reflexões nestas páginas.
Mas agora a conversa é outra. Mais adaptada a tempos de velocidades incontroláveis. Como o amor em sua concepção mais simples, a do sentimento que nos faz lutar pelo bem-estar do outro com igual ou maior intensidade do que a que empregamos para batalhar pela nossa própria, deverá mudar a forma como organizamos nossas vidas, nossa relação com o trabalho, com o tempo, com as famílias, com nossos corpos? E mais, como o amor pode ser a chave que definirá as empresas que sobreviverão às “disrupções” que não param de inverter as lógicas conhecidas?
São essas questões e teses, mais concretas que as provas da corrupção que nos envergonham como país e bem menos utópicas do que podem parecer, que nos atrevemos a lançar mais uma vez por aqui.
Com amor,
PAULO LIMA, EDITOR