Existe o viver de literatura e o viver para a literatura. Há professores, conhecedores, editores, promotores de literatura e "pessoas da área", como queria Shopenhauer, que vivem da literatura. E existem os escritores, aqueles que fazem literatura. E além dos que fazem a literatura, há os que vivem para a literatura. É possível escrever livros e ter outras paixões. Assim como fazer da literatura a única paixão de uma vida.
Tento fazer um caminho do meio, vivendo de literatura (da produção literária) e para a literatura. Sei que essa é uma corda bamba que carece de muito malabarismo para não cair em um lado e nem do outro. Porque, de verdade, eu preferia viver inteiramente para a literatura. Produzindo textos, livros, ensaios e tudo o que a imaginação e o raciocínio me permitissem explorar. Mas não é viável economicamente. Tenho filhos para criar. Mas me recuso inteiramente a fazer qualquer coisa que não envolva literatura. Quando faço palestras ou participo de mesas de debate, falo dos livros que escrevi, da luta que tem sido para aprender a escrever, dos livros que me salvaram e do que aprendi escrevendo. Minhas Oficinas de Leitura e Escrita, como o nome bem o diz, trabalham em cima do incentivo à escrita e à leitura.
Exatamente por isso não tenho carro, moto e coisas valorizadas pelo mundo contemporâneo. Fiz uma opção e vou com ela até o fim. Sei que viver de ou para literatura são atividades distintas e dificilmente vivida por uma única pessoa. Mas não tenho outra saída. Na verdade, quem escreve com seriedade e empenho, não tem tempo de exercer qualquer outra atividade. É preciso que leia muito; que observe além do comum, além do normal. É necessário pensar muito, o tempo todo e escrever sempre que houver ou não motivo. A inspiração vem na medida exata do esforço empreendido.
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Luiz Mendes
30/09/2014.