Jazz pra metaleiros punks

por Redação

Canadenses do Gaffer não querem saber de conversa

Formado em algum canto nas cinzas de 1997, o Gaffer nasceu na cidade de Waterloo, Ontário, Canadá. E o resto desta biografia virá em breve porque eu odeio escrever esta merda. Esta é a autobiografia escrita por um dos três barbados do Gaffer.

Está no monossilábico site oficial da banda. Você circula pelos links e encontra somente ironias, piadas internas e umas mp3. O som dos sujeitos é uma das coisas mais insanas que você já ouviu, depois do Dillinger Escape Plan. Uma mistura de jazz, punk, lo-fi, metal e rock à Sonic Youth (ou você pensou que eu ia usar um rótulo aqui?).

As músicas trazem alguns momentos com guitarras limpas, só que usando encordoamentos pesadíssimos e timbres cavernosos. As baterias parecem que foram gravadas no altar de uma catedral gótica, enquanto o baixista acendia umas velas pra H. R. Giger. Quando você menos espera, quilos de distorção são despejados na sua cabeça, acompanhados daquela chiadeira dos pratos de ataque.

Tudo gravado altíssimo e tocado numa intensidade de quem está vomitando todo o mal-estar da civilização. A banda tem quatro discos: Snow Falls Like Stars (1998), 19 Ways to Get Back Home (1999), The 20 Year Design Theory (2000) e Ending Again (2001). A maior parte dos CDs foi lançada pela Antiantenna Records.

E quanto às letras? Se você entender alguma delas, me avise. A voz é somente mais um instrumento na banda, nem um pouco privilegiado na mixagem final. O Gaffer faz parte de uma geração de músicos de rock que, como diria Hermeto Pascoal, "não têm nada contra a música cantada, mas também não têm nada a favor".

O que lembra um texto de Nietzsche contra Wagner: (Wagner - autor de Tristão e Isolda) permaneceu orador enquanto músico - por isso teve que pôr o 'isto significa' em primeiro plano. 'A música é apenas um meio': esta era a sua teoria, esta era, sobretudo, a única prática possível para ele. Mas músico nenhum pensa desse modo. Isto é: os que estão apenas acostumados com a música pop é que choram pela ausência de letras e vocais.

Um músico strictu sensu sabe que a música traz seus próprios significados e visões de mundo, não precisa de palavras nem de literatura pra ser levada a sério. Se é que precisa ser "levada a sério". Isso talvez explique a preguiça e má vontade que essa geração de bandas demonstra quando vai falar sobre si ou quando dá entrevistas.

No caso do Gaffer, os músicos simplesmente não estão nem aí. No caso dos escoceses do Mogwai, eles não perdem uma chance de usar os jornalistas pra ampliar seu estoque de piadas internas. Se é pra tirar alguma conclusão disso é que músico não é orador nem profeta. É músico. Pra que mais que isso?

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