Ihhh, Deu Zebra!

por Arthur Veríssimo
Trip #202

Arthur Veríssimo encarna uma zebra e sente na pele como é a vida de animal em cativeiro

Nosso repórter excepcional vai ao Zooparque de Itatiba para nos relatar o que é estar na pele (ou pelúcia) de um animal enjaulado

Vou chegando de mansinho, minha indumentária é um híbrido de inca venusiano com Equus burchelli antiquorum – a conhecida zebra. Na savana africana, a herbívora é uma das presas mais cobiçadas por leões, hienas e outros felinos. Suas listras servem de camuflagem, uma vez que, quando a manada está em movimento, as riscas provocam ilusão de óptica nos predadores que não conseguem identificar e isolar o animal. Caminho grávido de dúvidas e receios no setor dos rinocerontes-brancos do Zooparque de Itatiba, interior de São Paulo. No recinto de 6000 m2 que reproduz fielmente a savana africana, habitam cinco rinocerontes-brancos com mais de 3 t. O rinoceronte-branco é o segundo maior mamífero terrestre, só perdendo para o elefante. Mede 2 m de altura e 5 m de comprimento.

Aprecio a distância a movimentação desses imensos mamíferos e converso com os responsáveis do Zooparque sobre os hábitos e a vida desses animais. Sou deslocado para o setor onde os animais fazem suas generosas refeições. Fico miudinho. Os rinocerontes são conhecidos pela péssima visão e são imprevisíveis. Apesar da miopia possuem excelente olfato e audição e atacam, sem mais nem menos, árvores, veículos e cupinzeiros na savana africana. Lá estava este incauto inca venusiano, ops, zebra, de gaiato no habitat de um grupo de rinocerontes prestes a encarar sua lauta refeição de fim de tarde. Seguia a orientação do tratador. Esperava os rinos no recinto que dá acesso ao refeitório.

Minha fantasia não causava nenhuma reação. Me esgueirava pelos cantos próximo às saídas de emergência. Com os sentidos potencializados e usando poderosas lentes acompanhava tudo com um olhar de 360 graus. Suava frio na fantasia de viscose. Num dado momento, percebi que um dos rinos havia detectado meu suador. Movimentava sua cabeça farejando minha sombra. Como uma arma letal, seu chifre apontou para meu corpo zebrado. Avançou como um míssil. Como um velociraptor, não titubeei e driblei os obstáculos, afastando-me do perigo iminente.

Moral da história: não se meta a besta se vestindo de zebrinha esquálida no habitat do rinos ou pode dar zebra. E afinal: a zebra é preta de listras brancas ou branca de listras pretas? 

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