Nosso repórter excepcional vai ao Zooparque de Itatiba para nos relatar o que é estar na pele (ou pelúcia) de um animal enjaulado
Vou chegando de mansinho, minha indumentária é um híbrido de inca venusiano com Equus burchelli antiquorum – a conhecida zebra. Na savana africana, a herbívora é uma das presas mais cobiçadas por leões, hienas e outros felinos. Suas listras servem de camuflagem, uma vez que, quando a manada está em movimento, as riscas provocam ilusão de óptica nos predadores que não conseguem identificar e isolar o animal. Caminho grávido de dúvidas e receios no setor dos rinocerontes-brancos do Zooparque de Itatiba, interior de São Paulo. No recinto de 6000 m2 que reproduz fielmente a savana africana, habitam cinco rinocerontes-brancos com mais de 3 t. O rinoceronte-branco é o segundo maior mamífero terrestre, só perdendo para o elefante. Mede 2 m de altura e 5 m de comprimento.
Aprecio a distância a movimentação desses imensos mamíferos e converso com os responsáveis do Zooparque sobre os hábitos e a vida desses animais. Sou deslocado para o setor onde os animais fazem suas generosas refeições. Fico miudinho. Os rinocerontes são conhecidos pela péssima visão e são imprevisíveis. Apesar da miopia possuem excelente olfato e audição e atacam, sem mais nem menos, árvores, veículos e cupinzeiros na savana africana. Lá estava este incauto inca venusiano, ops, zebra, de gaiato no habitat de um grupo de rinocerontes prestes a encarar sua lauta refeição de fim de tarde. Seguia a orientação do tratador. Esperava os rinos no recinto que dá acesso ao refeitório.
Minha fantasia não causava nenhuma reação. Me esgueirava pelos cantos próximo às saídas de emergência. Com os sentidos potencializados e usando poderosas lentes acompanhava tudo com um olhar de 360 graus. Suava frio na fantasia de viscose. Num dado momento, percebi que um dos rinos havia detectado meu suador. Movimentava sua cabeça farejando minha sombra. Como uma arma letal, seu chifre apontou para meu corpo zebrado. Avançou como um míssil. Como um velociraptor, não titubeei e driblei os obstáculos, afastando-me do perigo iminente.
Moral da história: não se meta a besta se vestindo de zebrinha esquálida no habitat do rinos ou pode dar zebra. E afinal: a zebra é preta de listras brancas ou branca de listras pretas?
Vegetariano na rua e herbívoro no zoo, nosso Zebríssimo repórter entrega-se ao pasto e ao buffet oferecido por seu tratador. “Meio sem sal”, ruminou / Créditos: Nelson Mello
'Caminho grávido de dúvidas e receios no setor dos rinocerontes-brancos do Zooparque de Itatiba' / Créditos: Nelson Mello
Imersão jornalística: Arthur quebra as barreiras da reportagem – e da vergonha alheia – para compreender como uma zebra vê o mundo e como Napoleão perdeu a guerra / Créditos: Nelson Mello
Imersão jornalística: Arthur quebra as barreiras da reportagem – e da vergonha alheia – para compreender como uma zebra vê o mundo e como Napoleão perdeu a guerra / Créditos: Nelson Mello
saudoso da savana e considerando pular a cerca / Créditos: Nelson Mello
sôfrego de solidão e tédio / Créditos: Nelson Mello
“O homem é a zebra do homem” – filosofa enquanto alterna-se entre bípede e quadrúpede / Créditos: Nelson Mello
ssumindo seu lado humano para o tratador do zoo: “Sou uma pessoa muito gente”, relincha / Créditos: Nelson Mello
casquinho no queixo para passar conteúdo / Créditos: Nelson Mello
Créditos: Nelson Mello
“Evite pagar micos como esse”, aconselha o sagui / Créditos: Nelson Mello