Será que um dia saberei o que é o amor? Tenho algumas idéias, mas isso é tão confuso...
CUIDADO
Será que um dia saberei o que é o amor? Tenho algumas idéias, mas isso é tão confuso... Será esse doce sentir que nos molham os olhos quando olhamos nossos filhos dormindo com aquela carinha de anjo, ao sair para trabalhar?
Mas porque, ao encontrarmos com aqueles outros meninos e meninas da idade de nossos filhos dormindo, magros, sujos e maltrapilhos nas calçadas de nossas cidades, até evitamos olhar? Em alguns se percebe receio, medo sistemático. Essa doença que os meios de comunicação inoculam, via super exposição, para nos prender em casa, consumindo seus produtos como viciados.
Ninguém para observar o quanto são crianças. O quanto estão maltratados. Ou mesmo para fazer uma observação alienada, mas otimista (se é possível em tais circunstâncias...): “Eles devem estar sonhando, livres de suas carências e necessidades, enquanto dormem”.
Como amar alguns poucos e não outros? O que uma criança tem de diferente da outra? Evidente que o cuidado, o carinho e até a disciplina que se tem com ela. Ficou provado que as crianças que chegam à escola proveniente de uma família que lhes conferem segurança e tranqüilidade são as que conseguem melhor desempenho. Demorei a entender (perdoem minha burrice) que nós somos seres de cuidado. Parece que só conseguimos sentir amor por quem ou pelo que temos cuidado. Ao tempo em que, só quando cuidados, reagimos com sentimentos. Dá até para teorizar que o cuidado é o gerador dos sentimentos e ações mais nobres que somos capazes.
De verdade, agora estou achando que confundi cuidado com amor muito tempo. Pelo que tudo indica cuidado gera amor. Amor fica sendo o produto mais nobre do cuidado. E não o contrário como pensava antes. Por isso essa idéia do humanismo cristão que a gente deve amar a todos jamais me convenceu. Não consigo e duvido que pessoas sujeitas à condição humana como eu, consigam. Claro que utopicamente se pode fazer tudo. Até amar a todos como a mim mesmo. Mas a pratica é bem outra. Passamos pelas crianças relegadas à miséria das calçadas e fingimos sequer ver para a consciência não nos cobre.
Talvez sejamos mesmo seres eternos como dizem e vamos ter todo tempo do mundo para conhecer, dar e receber e então amar um por um. Alguns ficarão bem para o final, quando eu já for algo acima do humano que sou. Bem, depois os animais, as plantas, minerais, o planeta e... o mundo todo. Só assim porque de outro jeito, vou ficar em falta porque não vai mesmo dar tempo.
Será que um dia vou saber amar de verdade? Bem, estou levando tudo ao mesmo tempo, mesmo sabendo que não vai dar tempo. Nesses seis anos aqui fora, tenho conquistado amigos e pessoas que gosto imensamente. Tenho consciência de que conquistei o respeito e o bem querer deles porque me esforcei por isso. Tive cuidados. Na medida em que amadureço, me aprofundo nos estudos e aguço a capacidade de observar, gosto cada vez mais de animais, árvores, plantas e tudo o que existe.
Acho posso oferecer essas idéias acima na tentativa de responder à questão inicial se um dia saberei o que é o amor. No fundo, tento fazer minha parte, porque saber mesmo continua complicado.
**
Luiz Mendes
19/04/2010.