por Luiz Filipe Tavares

Líder do Super Furry Animals chega ao Brasil para turnê solo e show com John e Fernanda do Pato Fu

Gruff Rhys só tem 41 anos, mas sua carreira tem números difíceis de serem batidos até por grandes veteranos do rock internacional. São três discos solo em 6 anos, 9 discos do Super Furry Animals em 16 anos, três discos do Ffa Coffi Pawb entre 88 e 92 e mais dois álbuns em parceria entre 2008 e 2010, um como Neon Neon e o outro ao lado do ícone cult gaúcho Tony da Gatorra, com quem gravou o psicodélico e ultra-experimental The Terror of Cosmic Loneliness. Isso sem contar o sem número de participações que gravou com dezenas de artistas dos quatro cantos do globo, incluindo mais de uma mão cheia de brasileiros. Agora, ele volta a aportar por aqui divulgando seu mais recente álbum, Hotel Shampoo, de 2011.

O galês fissurado por MPB está de volta ao Brasil para mais uma turnê solo, se apresentando em duas cidades em três datas e ainda fazendo um ensaio com transmissão ao vivo pela internet. Nesta terça, Rhys se apresenta ao vivo em um estúdio ao lado de John Ulhoa e Fernanda Takai (do Pato Fu) com transmissão grátis pelo Facebook. Na quarta (7) ele repete a parceria com os mineiros, dessa vez no palco do Studio SP, em São Paulo. No dia 8, Rhys se apresenta no mesmo Studio SP, dessa vez em show solo. Finalmente, no sábado (10), ele encerra a turnê brasileira com um show no The Peppers Bar, em Curitiba. 

Conversamos com o líder do Super Furry Animals sobre a turnê brasileira, o show com John e Fernanda e sobre sua obsessão por música brasileira. Os melhores momentos da entrevista você vê abaixo. 

Trip - Hotel Shampoo acabou de completar um ano. Como você vê a recepção dos fãs ao disco até agora? 
Gruff Rhys - É um álbum muito simples que foi gravado muito rápido e que eu adorei fazer. Trabalhei com amigos bem próximos nele, batendo de porta em porta com meu disco rígido embaixo do braço. Estou bem feliz com o resultado final do álbum. Nos shows, a resposta tem sido realmente positiva. É estranho o quão positiva a recepção foi em países como a França, que normalmente não presta atenção ao meu trabalho. Eu gostei de saber disso mas não sei muito bem o que esse fato significa  [risos].

 

"É bastante excitante voltar ao Brasil. O país tem uma cultura tão única e criativamente rica que eu sempre me sinto meio bêbado de tantas novas experiências"

 

Ouvindo Hotel Shampoo, temos a impressão que seu trabalho solo está ficando cada vez mais pessoal conforme o tempo passa. Há algum assunto sobre o qual você gosta mais de escrever? Há algum assunto proibido? 
Realmente não tenho um assunto favorito. Acredito que também não haja nenhum assunto que seja tabu para mim. A única exceção é que eu procuro me manter longe de letras que sejam excessivamente sentimentais. Muitas vezes eu falho nessa resolução [mais risos].

Desde 2010, seus fãs brasileiros passaram a ser ainda mais loucos por você, graças à sua colaboração com nosso Tony da Gatorra. O (disco) The Terror of Cosmic Loneliness te trouxe para mais perto da música brasileira?
Bem, acredito que o disco tenha sido um grande salto, musicalmente falando. Especialmente sob a égide do Tony. Com ele fui capaz de explorar dissonâncias, distorções e um espaço onde a mensagem e o feeling é mais importante do que o timbre e a melodia. Foi uma gravação catártica e expressiva para mim, que abriu muitas portas na minha mente. Acredito que hoje, mais do que da música brasileira, me sinto mais próximo da música em um sentido universal e tudo isso é graças ao Tony.

Você chegou a tentar tocar a gatorra? O que você achou dela como instrumento?
Não cheguei a tocá-la. Tony é o mestre da gatorra, então não me senti qualificado a tocá-la [risos]. A gatorra é um instrumento inacreditável. Eu amo baterias eletrônicas analógicas e a gatorra me faz pensar em um som bem específico. Eu imagino que seja assim que uma fábrica de baterias eletrônicas soa. O som da gatorra é como o som de mil baterias eletrônicas ao mesmo tempo.

Ainda sobre o Brasil, eu sei que você conheceu o John Ulhoa do Pato Fu em Londres, ainda no ano 2000. Sei também que você é fã declarado do Transa, do Caetano Veloso. Você é fã de outras bandas brasileiras?
Bem, eu me vejo como um felizardo por ter tocado e gravado com muitos artistas brasileiros como o Kassin, a Orquestra Imperial, Rodrigo Amarante (Los Hermanos, Little Joy), Zombieoper (projeto do gaúcho do Diego Medina) e DJ Mallboro. Através deles eu acabei descobrindo muitas outras coisas de música brasileira. Aliás, o Gorky, do Bonde do Rolê, já tem uma boa base de fãs aqui no País de Gales. Por aqui todo mundo acredita que o nome dele foi inspirado por uma banda galesa chamada Gorky's Zygotic Mynci. Eu particularmente também acredito [gargalhadas]

Você ainda lembra qual foi a primeira música brasileira que ouviu?
Provavelmente foi algo da bossa nova que tocava no rádio em Gales quando o estilo era gigante internacionalmente. Se não foi isso deve ter sido o Sepultura ou alguém dessa geração.

O que você está esperando dessa turnê? Você curtiu a última passagem por aqui? 
Sim! É bastante excitante voltar ao Brasil. O país tem uma cultura tão única e criativamente rica que eu sempre me sinto meio bêbado de tantas novas experiências. E as cidades como São Paulo são tão grandes... Cada vez que venho fico em uma área diferente e sinto como se fosse uma outra cidade. Fora que é sempre uma bela chance para comprar alguns vinis antigos de música brasileira. Essa é outra coisa que eu adoro fazer por aí.

 

 

"Foi ao mesmo tempo estranho e fabuloso poder tocar em shows gigantescos, ser atração principal no Coachella e dividir um camarim com Bobby Womack e meio The Clash"

 

 

Você é um cara que trabalha com vários artistas diferentes. Eu gostaria de perguntar sobre sua participação no Plastic Beach, do Gorillaz, já que eles são uma banda que sempre tem uma recepção dúbia por aqui. Como é trabalhar com o Damon Albarn e como você se sente emprestando sua música para uma banda formada por desenhos animados?
Isso é interessante porque eu nunca desejei trabalhar com muita gente diferente. Foi algo que simplesmente aconteceu - bem acidentalmente, diga-se de passagem (risos). O Damon Albarn sempre apoiou o Super Furry Animals e meus projetos solo, então foi muito divertido e educativo gravar com ele, com o De La Soul e com toda essa galera. Para mim foi ao mesmo tempo estranho e fabuloso poder tocar em shows gigantescos, ser atração principal no Coachella e dividir um camarim com Bobby Womack e meio The Clash. Então eu meio que me senti num mundo de desenhos animados por um tempo. O mais esquisito é que no dia seguinte você acorda e está arrumando a bagunça que seu filho fez no chão da sua casa em Gales. [risos] Foi um sonho. 

Cian (Ciaran) e Huw (Bunford) do Super Furry Animals vão lançar em breve os discos solo deles. Vocês costumam dar conselhos e trocar opiniões sobre os trabalhos solo de cada um no processo de produção?
Mais ou menos. Para mim, metade da emoção de gravar um disco solo é simplesmente ser deixado quieto para fazer qualquer coisa que você queira. Por isso eu amo sentar e ouvir os discos deles como um fã, sem interferir em nada em seus trabalhos a não ser com meu apoio. Cian é um engenheiro de som brilhante então acredito que ele e o Daf (Leuan) estão ajudando um pouco na produção do disco do Huw. Aliás, tanto o disco do Cian quanto o do Huw são impressionantes. 

Os outros dois Super Furries também tem discos no horizonte, não?
Exatamente. O Guto (Pryce) também está tocando seu projeto Gulp e o Daf está viajando com a banda dele, o The Peth. Ambos também estão se preparando para lançar seus discos. Então vem muita coisa boa por aí. 

O que podemos esperar para o show com o John e a Fernanda do Pato Fu? Vocês vão mesmo dividir o palco?
Vamos sim. O set list vai ser uma mistura de músicas deles, minhas, covers e, se tudo der certo, uma troca de linguagens e ideias para a qual eu estou realmente ansioso. Tanto eu quanto o John e a Fernanda viemos de um passado pop melódico dos anos 90 baseado em guitarras e temos tentado criar novas texturas usando brinquedinhos e equipamentos pouco ortodoxos. Essa será uma bela chance de fazer algo realmente único.

Vai lá: Ensaio do Tete-a-Tete com Gruff Rhys + John Ulhoa + Fernanda Takai 
Quando: 06/03, terça, 18h
Onde: www.facebook.com/InkerAgenciaCultural

Vai lá: Tete-a-Tete com Gruff Rhys + John Ulhoa + Fernanda Takai 
Quando: 07/03, quarta, 23h
Onde: Studio SP - Rua Augusta, 591 - Consolação, São Paulo 
Quanto: de R$ 60 a R$ 80
Ingressos: no local
Site: www.studiosp.org

Vai lá: Gruff Rhys solo em São Paulo
Abertura:
Tony da Gatorra
Quando: 08/03, quinta, 23h
Onde: Studio SP - Rua Augusta, 591 - Consolação, São Paulo 
Quanto: de R$ 60 a R$ 80
Ingressos: no local
Site: www.studiosp.org

Vai lá: Gruff Rhys solo em Curitiba
Quando: 10/03, sábado, 23h
Onde: The Peppers Bar – Rua Inácio Lustosa, 496 - São Francisco, Curitiba
Quanto: R$ 55
Ingressos: www.diskingressos.com.br
Site do bar: www.thepeppersbar.com.br

www.gruffrhys.com
www.facebook.com/Gruffingtonpost

Veja abaixo clipes de seu projeto solo e de um show ao lado de Tony da Gatorra:

 

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