O trabalho é viver em pressão e estresse. Tem salvação? O que uma das corporações mais modernas aprendeu ao implementar um programa de meditação e como essas lições podem ajudar você
Antes de se aposentar do Google ano passado, com apenas 45 anos, o cargo de Chade-Meng Tan na maior empresa de internet do mundo era Good Jolly Fellow, uma referência à canção tradicional "For he’s a jolly good fellow", ou, em bom português, "Ele é um bom companheiro". O nome começou como uma brincadeira, mas acabou virando seu trabalho. Meng foi contratado como engenheiro de software em 2000, o empregado #107 do Google, e participou de projetos como a criação da versão mobile do famoso buscador. Aos poucos, porém, ele começou a dedicar uma parte do seu tempo para dar cursos de meditação para seus colegas. "Depois de muita pesquisa, cheguei à conclusão de que a forma de trazer compaixão para o ambiente de trabalho era através da inteligência emocional. O problema era que ninguém sabia como ensinar isso para adultos", Meng disse em março para o jornal canadense The Globe and Mail. "Eu montei uma equipe com alguns dos maiores especialistas do mundo nessa área para descobrir como seria esse treinamento."
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O resultado da pesquisa de Meng – feita durante o famoso dia de trabalho semanal em que o Google permitia que seus funcionários fizessem projetos paralelos – foi um currículo que combina inteligência emocional com meditação e neurociência, o qual ele batizou de Search Inside Yourself – ou "Busca Interior". O primeiro curso do programa, feito no campus da empresa em 2007, durou dois dias. Este ano, pelo menos 1.500 funcionários passarão pelo projeto, e a lista de espera é grande. Com a criação do Search Inside Yourself Leadership Institute, em 2012, Meng se tornou um bom companheiro para além do Google: a organização sem fins lucrativos levou as ideias desenvolvidas nos programas internos do Google para outras companhias. A lista de clientes tem nomes como Ford e American Express, empresas em busca de uma coisa que, embora parta de técnicas orientais, tem um viés moderno e urbano: o aumento da performance e a melhora das relações no trabalho. Muito por conta dessa procura, a indústria do mindfulness movimentou quase US$ 1 bilhão em 2015 nos Estados Unidos. Isso sem contar o faturamento de aplicativos de celular (o mais famoso, Headspace, do ex-monge inglês Andy Puddicombe, tem mais de 3 milhões de usuários).
Meng transformou os aprendizados do Search Inside Yourself em seu primeiro livro, que leva o nome do programa e recebeu elogios até do Dalai Lama. O best-seller foi publicado no Brasil como Busque dentro de você (ed. Novo Conceito) e apresenta o programa de desenvolvimento pessoal criado por Meng para aumentar a atenção e a concentração e desenvolver o autocontrole, além de ensinar a criar hábitos mentais positivos. Em seu segundo livro, lançado em maio, Joy on demand, ele volta ao tema dos hábitos mentais. Meng quer mostrar que a felicidade pela qual ficou conhecido desde os tempos de engenheiro é acessível a todos – ele diz ter descoberto como poderia ser mais feliz aos 20 e poucos anos, mais ou menos na época em que criou um dos primeiros sites sobre budismo da internet, mas vai além da experiência pessoal. Para embasar sua ideia de que é possível treinar para sermos mais felizes com exercícios mentais, Meng usa pesquisas neurológicas sobre como os hábitos são formados. Um desses exercícios, por exemplo, ensina a reconhecer "pequenos pedaços de alegria" ao longo do dia – um copo de água, um pedaço de comida – e a guardá-los na memória, para induzir o cérebro a produzir mais vezes essas pequenas sensações de felicidade cotidiana.
O escopo de Meng, porém, é bem maior do que a indústria que ele ajudou a criar. Desde que começou a ensinar meditação no Google, ele na verdade estava pensando em passos práticos para a paz mundial. Sim. Em seu site pessoal, a biografia termina assim: "Meng espera ver todos os ambientes de trabalho do mundo se tornarem um bebedouro de felicidade e iluminação. Quando Meng crescer, ele quer salvar o mundo, e quer se divertir e rir muito enquanto faz isso. Ele acha que se algo não é divertido, não vale fazer".
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Créditos
Imagem principal: Erwan Soyer