Documentário joga luz sobre a morte de Aaron Swartz, o gênio da internet que se suicidou
Documentário joga luz sobre a morte de Aaron Swartz, o gênio da internet que se suicidou ao ser processado nos EUA
Se você quer saber mais sobre como o poder se reconfigura no nosso mundo conectado em rede, recomendo assistir ao filme The Internet’s own boy: the story of Aaron Swartz (O garoto da internet: a história de Aaron Swartz). Já escrevi algumas vezes sobre Aaron aqui na Trip. Para quem não se lembra, trata-se do garoto prodígio que aprendeu a ler com 3 anos de idade e a programar com menos de 7 anos. Com 14, já tinha inventado o RSS, padrão que está na base de praticamente todos os sites importantes da internet de hoje, do Facebook ao Twitter.
Aaron tirou a própria vida aos 27 anos. Ele não resistiu à pressão de ter de responder sozinho a uma ação movida por procuradores federais dos EUA por conta de uma conduta que não causou dano a ninguém: ter baixado um grande número de publicações acadêmicas do site JSTOR na rede do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ameaçado de ir para a cadeia por mais de 35 anos por conta da intransigência dos procuradores, Aaron sucumbiu.
O documentário mostra um ponto que ficou de fora das inúmeras matérias que foram escritas sobre ele no mundo todo após a sua morte: por que o governo americano insistiu tanto em fazer dele um exemplo? Por que mesmo depois do site JSTOR ter desistido de mover qualquer ação contra ele, os procuradores seguiram em frente?
A tese defendida pelo documentário é de que a internet redistribuiu o poder na sociedade. E que garotos como ele, que dominam não só as redes, mas também o código de programação, conseguem influenciar todo o sistema social e provocar mudanças nos poderes estabelecidos. Por isso, os procuradores se empenharam tanto em passar um recado duro, na tentativa de dissuadir essa possibilidade.
E era exatamente isso o que Aaron queria: mudar o mundo. Com 17 anos, ele percebeu que conseguiria facilmente ficar rico com a internet. Com essa idade, ele cofundou o site Reddit, que foi vendido para um dos maiores grupos de mídia do mundo por milhões de dólares.
ALÉM DE ZUCKERBERG
Só que esse não era o objetivo de Aaron. Ele não queria ser outro Mark Zuckerberg. Queria usar suas habilidades para melhorar o mundo em que vivia e aperfeiçoar o sistema político americano. Uma de suas principais lutas era pela reforma do modelo de financiamento de campanha nos EUA. Aaron se incomodava com a facilidade com que é possível trocar dinheiro por poder. Quem financia campanhas eleitorais americanas praticamente domina o Congresso. Na visão dele, isso era ao mesmo tempo uma usurpação da democracia e uma situação antirrepublicana. Dinheiro não deve ser convertido automaticamente em poder político.
Aaron trabalhou até a sua morte para criar novos modelos que permitiriam consertar essa distorção. Lutou pelo financiamento público de campanha por modelos de crowdsourcing aplicados à política. Se Aaron tivesse ficado conosco, continuaria sendo uma usina de ideias com grande potencial de gerar mudanças.
Apesar de o foco do trabalho dele ser os EUA, acompanhava as batalhas que ocorriam no Brasil. Chegou a visitar Belém do Pará e o Rio de Janeiro, onde ficou hospedado na minha casa. Fico sempre pensando que nunca tive a oportunidade de explicar a ele como funciona o sistema político brasileiro e o financiamento de campanha em nosso país. Tenho certeza de que ele encontraria aqui similaridades muito grandes com sua batalha em sua terra natal.
*Ronaldo Lemos, 37, é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu Twitter é @lemos_ronaldo