Gabriel Reis se prepara para o verão

por Caio Ferretti
Trip #210

É hora do troco: colamos nos principais paparazzi do circuito Barra-Leblon

Diz aí, mermão! Mermão! Tu é paparazzo?” O fotógrafo Alessandro Fidalgo está com sua câmera apontada para dentro de um bar em Copacabana quando ouve a pergunta feita por um guardador de carros. “Eu não! Tá maluco?! Nem quero esse rótulo. Paparazzo é ele ali dentro, ó, tá vendo? Tô tirando foto dele”, aponta. Sentado dentro do boteco, assistindo ao derradeiro jogo do Flamengo pela Copa Libertadores da América, está Gabriel Reis. Há dez anos seu trabalho é seguir e fotografar famosos, não importa a situação, em restaurantes, cachoeiras ou filas de embarque em aeroportos. Mas agora, já pelo terceiro dia seguido, é ele quem está na mira de uma lente. No caso, a nossa lente. Bastava sair de seu apartamento e lá estava alguém – a pedido da Trip – para começar a fazer as fotos. E por quê? Bem, é que decidimos inverter a ordem das coisas. Faríamos com os paparazzi o que eles fazem com as celebridades.

A ideia soava bem, mas antes de tudo era preciso decidir quem iriamos seguir. São dezenas de paparazzi no Rio de Janeiro. Trinta somente na principal agência de fotos de celebridades, a AgNews. Na concorrente direta, a Photo Rio News, são mais seis escalados exclusivamente para flagrar “famosos” – gênero que inclui alguns nem tão famosos assim. Rapidamente, elegemos um dos perseguidos: Gabriel Reis. Luana Piovani, João Gordo, Camila Pitanga, Sérgio Maroni e Cássio Reis são apenas alguns que já entraram em conflito – assumidos por ele – durante o trabalho. Reis ainda estrelou por longos sete anos um quadro no programa SuperPop, de Luciana Gimenez, no qual fazia flagras em vídeo.

Aí surgia o primeiro verdadeiro problema. Onde encontrar Gabriel para começar a perseguição? Não dava pra simplesmente ligar e perguntar do nada onde ele estava, então essa busca consumiu dias de esforços. Depois de alguns dias, Alessandro, incumbido da caça e dos cliques, descobriu um conhecido em comum com Gabriel. Era Julio Mello, também fotógrafo, que ajudaria muito a reportagem. Foi ele quem “dedurou” o quarteirão onde mora o paparazzo – não sabia, contudo, o número exato do prédio. Fomos, repórter e fotógrafo, ao local e, após tocar alguns interfones e conversar com porteiros, veio a informação: “Gabriel? Um grandão que faz fotos, flamenguista roxo? Mora naquele prédio ali”, disse um. Pronto, já tínhamos de onde partir.

“É detetive particular?”

Era terça-feira à tarde e o informante Julio Mello avisou que Gabriel sairia de seu apartamento. “Fui pra lá e me posicionei”, lembra Alessandro. “Ele saiu e foi pra um café bem ao lado. Sentou-se e começou a ler um livro sobre o apocalipse. Convenci o porteiro de um prédio do outro lado da rua a me deixar entrar pra fazer umas fotos. O cara ficou meio bolado, mas me deixou passar.” Pouco depois, Gabriel saiu caminhando. Passou em uma papelaria e folheou uma revista de celebridades numa banca. “Nessa hora pensei ‘essa é a foto’”, conta Alessandro. “Eu não sabia o momento exato de começar a fotografar, tentava me esconder tanto que não clicava. Mas aí pensei ‘foda-se!’ e fui pro meio da rua fazer a foto. Até perguntaram se eu era detetive particular.”

“O que fazemos é invasão de privacidade mesmo”, diz o fotógrafo Clayton Militão

No dia seguinte Gabriel saiu de tarde com seu personal trainer para malhar na praia. “Encontrei os dois a caminho da orla”, diz Alessandro. “Fiquei posicionado em um quiosque do calçadão, fiz umas fotos dele chegando, mas o cara foi comprar água bem onde eu estava! A adrenalina foi a mil, me escondi atrás do balcão”, lembra Alessandro. “Ele seguiu até um desses aparelhos de ginástica. Atravessei a avenida e me escondi num posto de gasolina para fotografar. Nessa hora o frentista disse pra mim: ‘Vai tirar foto até o cara emagrecer?! Isso aí é parada errada, hein!’.”

Dias mais tarde, quando perguntamos a Gabriel Reis se ele não gostaria de ser fotografado em alguma situação, escutamos como resposta: “Eu entenderia se um artista ficasse chateado por ser fotografado sem camisa quando está gordinho. Eu devo ter sido fotografado assim por vocês e não gosto. Mas vou fazer o quê?”

Enquanto isso na Barra...

Era a hora do rush e o trânsito na avenida das Américas, na Barra da Tijuca, estava tumultuado. Sentado na garupa de uma mototáxi está Bruno Leão, outro fotógrafo a serviço da Trip. Na moto à frente, está o paparazzo Clayton Militão, da agência Photo Rio News, nosso segundo alvo. Bruno havia descoberto Clayton horas antes na praia da Reserva, quando ele fotografava o lutador de MMA Anderson Silva durante a gravação do reality show The Ultimate Fighter. Esteve na cola do paparazzo a tarde toda, mas sem conseguir grandes imagens. “Queria que ele fosse almoçar, entrasse numa farmácia, qualquer coisa que não fosse trabalhar”, lembra. Por isso Bruno tentou seguir de moto no final da tarde. Assim descobriria onde vive Clayton e teria por onde começar no dia seguinte. Mas aí o trânsito caótico da avenida das Américas atrapalhou tudo. Perderam o alvo. “Sentia que estava a ponto de ser descoberto. Por falta de experiência, eu estava com uma bermuda e capacete laranja, que chamavam demais a atenção.”

Dias depois, com o telefone de Clayton em mãos, Bruno marcou um encontro com a desculpa de que gostaria de ser paparazzo e queria umas dicas. Assim poderia voltar a seguir seu alvo. Clayton apareceu, mas conseguiu ser mais rápido que os cliques de seu perseguidor. “Não consegui ser a pessoa que armava a isca e ainda fazia as fotos”, assumiria Bruno depois.

Hora da verdade

“Onde vocês me fotografaram, rapaz?”, pergunta, às gargalhadas Clayton Militão ao saber da matéria. “Não percebi! Tá vendo, eu fico fotografando os outros e não percebo quando fazem comigo.” O paparazzo não se importou em saber que fora seguido. “Seria até sacanagem eu esquentar a cabeça. Talvez não me incomode porque não sou uma pessoa pública, mas acho normal que os famosos não gostem. 
O que fazemos é invasão de privacidade mesmo.”

Clayton é responsável por fazer a chamada “ronda da Barra”: circula diariamente pela orla atrás dos famosos. “Meus informantes são barraqueiros, bombeiros, guardadores de carro, seguranças de restaurante... E placa de carro. Vou te dizer, hoje eu tenho a placa do carro de 90% dos artistas que vão ali.” E se algum deles pede para não ser fotografado? “Eu fotografo. Procuro não ter vínculo de amizade com nenhum artista justamente pra não ter esse risco. Prefiro a foto à amizade.”

Gabriel, mesmo achando que havia sido fotografado sem camisa, também não se incomodou quando soube da matéria. “Não ligo, os artistas é que se incomodam extremamente, não entendo o porquê. Aqui no Brasil a coisa é mais light, os editores não têm coragem de publicar certas fotos. Cansei e agora só faço gringo, pra vender para o exterior. Lá eles publicam tudo. Sempre fui o único aqui a trabalhar parecido com os caras dos Estados Unidos.” E o que isso significa? “Significa que sempre fui mais invasivo mesmo.” E, pouco antes dessa conversa e já sabendo da reportagem, Gabriel me envia um SMS mostrando mais uma vez o quanto gosta de se expor: “Viu a coluna do Léo Dias, no jornal O Dia de hoje? Querem que eu esteja no A fazenda 5. A intenção seria expor a privacidade de um paparazzo”.

As perseguidas:
O que as celebridades têm a dizer

“Não acho um trabalho digno. Não é certo uma pessoa ganhar a vida atormentando a vida dos outros, isso não é digno de admiração, de respeito, de nada. Como eles se sentem orgulhosos disso? Dizer que é paparazzo é quase como dizer que rouba. Como podem dizer de boca cheia que vivem de roubar imagens privadas da vida alheia? Acho uma intenção ótima a de vocês tentarem fazer com que eles sintam a mesma coisa, mas nunca será igual. Eles não estão nem aí se sair uma foto do filho deles no jornal, ou uma foto mais indiscreta na praia, já que eles não têm muito a perder, o que não é o nosso caso. Acho que deveria ser proibido tirar foto da vida privada das pessoas.” Luana Piovani

“Geralmente me dou bem com eles. Em 
São Paulo não existem muitos, só nos eventos, mas o Rio de Janeiro se tornou um Big Brother, né? Uma vez eu estava no Rio e disse pra direção do Pânico que ficaria lá mais um dia, para terminar uns trabalhos, e pedi pra faltar numa reunião do programa em São Paulo. Aproveitei uma hora livre, coloquei um biquíni e fui pra praia. Aí apareceu um fotógrafo e começou a tirar foto de mim. Falei pra ele: ‘Não tira foto minha hoje não, por favor! Eu tinha que estar trabalhando lá em São Paulo!’ [risos]. É complicado. Mas acho que é o trabalho deles, é o ganha-pão, eu consigo entender isso.” Sabrina Sato

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