Nas areias de Ilhabela, é como se ela fosse a atriz perfeita para tudo o que diz respeito aos nossos desejos mais íntimos de praia.
Nós, os que vamos à praia, vamos sempre atrás mais ou menos da mesma coisa: das marcas do que o mundo era antes que a mão do homem decidisse reescrevê-lo”, anota o argentino Alan Pauls em suas memórias de verões à beira-mar, A vida descalço. Passar dias em Ilha Bela na companhia de Bianka Fernandes é um pouco voltar a esse estado natural, selvagem. Bianka tem 28 anos, nasceu em Santos, litoral de São Paulo.
Há 13, como modelo publicitária, sua vida é feita de constantes idas e vindas, começos e recomeços. Já esticou temporadas na Itália, Espanha, França, Grécia, México, Turquia, entre outros sítios. Os trabalhos se alongam, e Bianka gosta de se sentir íntima dos lugares. "Morei em mais de dez países, foram experiências intensas de amadurecimento. Até na Índia e na China eu vivi", diz a morena. “Falo inglês, italiano, espanhol, arranho turco. Aprendi sozinha, perguntando, vivenciando."
O biotipo "brasileira típica" abriu muitas portas, ela admite. É como se meio mundo já tivesse se deliciado com a brasilidade da moça, que, claro, adora praia. Se Ilhabela fosse cenário de um filme do francês Eric Rohmer, o mais praiano deles, Conto de verão, Bianka teria papel central no enredo de acasos, coincidências, encontros e desencontros.
Conversa-se muito nos filmes de Rohmer, e Bianka adora falar, contar, narrar suas histórias e experiências. Com os pés na água, a Mata Atlântica emoldurando tudo, Bianka diz que até os 15 anos só queria saber de jogar futebol na Praia do Gonzaga, em Santos, onde cresceu. Chegou a disputar campeonatos amadores pelos times de várzea da cidade. Por pouco não se tornou profissional. "Queria levar o futebol a sério", lembra. "Eu era muito moleca. Fui fazer curso de modelo para ver se conseguia me arrumar melhor, usar salto alto." Então, como num filme, a vida deu uma guinada. Aos poucos, o futebol foi dando lugar à vida de modelo, às viagens – o acaso decidindo seus passos. Logo os dois ofícios se tornaram inconciliáveis. "Parei de jogar porque não podia mais me machucar. Atrapalhava as sessões de foto se eu aparecia de joelho ralado ou com hematoma", sorri.
Dois anos depois do primeiro flash, Bianka estava de malas prontas rumo à Itália, primeiro país que a acolheu. "É o lugar com que mais me identifiquei. Morei em várias cidades, falo sem sotaque", conta. Alguns carimbos no passaporte depois, enquanto Bianka vivia no México, bateu a vontade de ser atriz. Em mais uma reviravolta, decidiu voltar ao Brasil. "Me mudei para o Rio de Janeiro, fui fazer a oficina de atores.” Em seguida, participou de Gabriela, da Rede Globo. Quando chegou à Globo, encontrou uma atriz homônima: foi aí que nasceu o "k" em seu nome – originalmente, "Bianca". Agora, com k, se prepara para entrar em cena em Os dez mandamentos, novela da TV Record. "Quero estabelecer uma carreira sólida, fazer cinema e chegar a Los Angeles!", ri. Para isso, não se importaria em interpretar latinas. "É como a Penélope Cruz ou a Salma Hayek, ora”, brinca. "Elas superaram qualquer estereótipo." Nisso ela está certa: a beleza praiana de Bianka supera qualquer clichê, estereótipo, lugar-comum de corpos bronzeados e verão como invenção midiática.
"Agora o eu quero mesmo é ficar no Brasil, trabalhar por aqui, fazer teatro, correr na praia, curtir a natureza", diz. Maravilha. Por isso, devolvemos a caiçara à sua paisagem original: o sol, o mar. Para Bianka, no entanto, a nudez ainda é tabu, apesar da intimidade que tem com as lentes. "O que mais curti neste ensaio é que não precisei fazer pose de gostosa, não me pediram caras e bocas. Fui eu mesma, e amei."