Fotógrafo registra São Paulo deserta durante a quarentena

por Fernanda Nascimento

Numa madrugada de março, Rodrigo Fonseca saiu de casa com sua câmera para documentar as ruas de uma cidade vazia

A cidade que nunca dorme dormiu. No mês passado, comércios fecharam as portas, empresas dispensaram seus funcionários do escritório e, quem pôde, ficou em casa. À noite, uma São Paulo diferente se revelou para aqueles que circularam pelas ruas desertas da cidade. E foi numa madrugada de março que o fotógrafo Rodrigo Fonseca pegou o carro para registrar esse cenário quase distópico com sua câmera analógica. "Sempre andei muito pelo Centro da cidade e pensava em fotografar aquelas ruas vazias. Imaginava que faria isso numa final da Copa do Mundo, mas a oportunidade surgiu nessa situação", diz. "Era meu aniversário e, sozinho na madrugada, resolvi sair de casa para fazer esse registro".

Às duas da manhã, ele caminhou pelas ruelas desertas nos arredores da Praça do Patriarca e da Rua do Ouvidor. "Foi muito chocante não ver ninguém num espaço que está sempre tão cheio. Você percebe a cidade de outra maneira, quase como se estivesse em outra época. Aquelas luminárias do Centro, que ficam dispostas na metade do poste, deixam tudo com um ar meio noir. Na frente da Secretaria da Fazenda, na Sé, você consegue se imaginar na São Paulo dos anos 50 ou 60 que vê nos filmes antigos", conta. A única pessoa que Rodrigo encontrou caminhando pelas ruas naquela madrugada do dia 23 de março foi um policial que se aproximou para perguntar o que ele estava fazendo ali. 

"Para um fotógrafo, que gosta de observar a cidade, a vida, estamos num contexto atraente para sair fazendo foto. Eu não fico saindo à toa na quarentena. Fui ao Centro nessa madrugada do meu aniversário, mas era o começo do isolamento, a gente ainda estava entendendo como que ia ser", diz. Desde então, Rodrigo aproveita as oportunidades em que precisa sair de casa, como quando teve que devolver um equipamento, para fotografar de sua moto os lugares vazios por onde passa, em registros digitais e analógicos. Foi assim que fez retratos da mesma São Paulo deserta pela zona norte e em lugares como o túnel que dá acesso à Ligação Leste-Oeste.

O trabalho de Rodrigo, que além de fotógrafo é vídeorrepórter no canal de televisão Arte 1, não pode ser feito remotamente. Enquanto espera a quarentena acabar respeitando ao máximo o isolamento, ele usa esses trajetos para exercitar seu olhar, que sempre quer enxergar um pouco além.

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Créditos

Imagem principal: Rodrigo Fonseca @fonsecarodrigo

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