“O Acaso irá me proteger enquanto eu andar distraido...”
Estava sentado na pista de skate, abaixo da quadra da escola, conversando com a Dany, minha comadre, quando recebi o impacto.
Na hora perdi a noção de tempo e espaço, fiquei tonto e rodei o corpo defendendo-me instintivamente. Alguém havia me atacado, e na cabeça. Mas não havia ninguém próximo a não ser a amiga com a qual conversava olho a olho. A lucidez sumiu e um zumbido forte tomou conta, dominante. Percebi que fora atingido por uma pedra. A mãe de minha afilhada limpava os estilhaços da pedra que despedaçara no centro de minha testa.
Alguém atirara da quadra. Subi correndo, escorregando no barro, caindo e xingando, à caça do autor da proeza. Quando alcancei a escada vi que era a molecadinha da turma de Jorlan, meu filho mais novo, que estava na quadra. Estava tonto, não conseguia parar para pensar. Passei a mão e melequei os dedos do sangue escorria pelo meu rosto. Os meninos abandonaram a quadra correndo em fuga. Então a consciência voltou completamente. Parei ao perceber que estava assustando as crianças. Mudei a atitude e chamei-os de volta. Como alguns até freqüentam minha casa, voltaram aos poucos. O agressor ficou de longe, olhando.
Enquanto eu lavava a cara e a cabeça na torneira da quadra, os meninos olhavam curiosos e contaram. Estavam limpando a quadra para jogar e um dos garotos jogou uma pedra de concreto que estava no chão, para baixo. Não era endereçada a ninguém, estavam apenas limpando a quadra. Chamamos o menino, conversei sobre o acidente e eles formaram os times para jogar.
Sai com o lenço da Dany estancando o sangue do pequeno buraco que ficou. Por sorte, estava frio e eu estava de toca de lã. Como a pedra foi apenas jogada e não atirada, o impacto provocou choque e desconectou, mas não feriu muito. Restou apenas um tremendo galo a cantar na testa, sem consequências maiores.
Mas, voltando para casa, fiquei pensando no acontecido. Eu estava sentado abaixo do que equivaleria ao meio da quadra. Havia uma abertura de mais de 180 graus para a pedra cair. O que devemos fazer ou pensar quando ocorrem situações estranhas assim? Acaso? Quantas chances em um milhão de vezes havia de aquela pedra cair no centro exato de minha testa? Talvez fosse um aviso. Aviso de que? Que não ando bem? Mas nunca andei bem, sempre fui meio torto. Nasci assim. Devo modificar o trem de vida, desacelerar (mais desacelerado que já estou?), fazer o que?
Nada. Apenas ficarei mais atento e, não fico mais abaixo de nenhuma quadra!
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Luiz Mendes
19/05/2010.