Nem artista nem milionária, a musa do Hipopotamus namorou de Roberto Carlos a Mick Jagger
Como convidada ou penetra, Laura Giannoni sempre deu um jeito de estar perto dos artistas. Ela garante ter colecionado romances com Roberto Carlos e Mick Jagger. Hoje, aos 59 anos, luta para sobreviver em Nova York
“A gente tinha o mesmo ritmo. Encaixava. Ele era como o outro lado da minha moeda. Foi o melhor homem que já tive. O outro era minha paixão, eu amava de verdade, mas, nesse departamento, não era lá essas coisas.”
Isso é Laura comparando a performance na cama de dois homens que ela jura terem sido antigos casos seus.“Ele”, aqui, atende por Mick Jagger; “o outro”, por Roberto Carlos. Ela faz o comentário esbanjando naturalidade, do mesmo jeito que conta como virou amiga de Prince, David Bowie, George Michael, Rod Stewart e de várias outras personalidades que parte considerável dos mortais faria qualquer coisa para conhecer. Laura só precisou ser Laura.
Sem ser artista, milionária ou herdeira de um sobrenome importante, circulou por anos pelo cobiçado universo dos ricos e famosos. “Para mim, ser barrada não existe”, gaba-se. Com seu carisma – ou apelando para a cara de pau quando preciso –, ela dançou nas pistas mais exclusivas, dormiu nos hotéis mais luxuosos e provou dos cardápios mais requintados. “Laura se dá bem com todo mundo, dos porteiros ao dono da boate. Fica íntima de qualquer um em 5 min”, conta o economista Hélio de Souza, seu amigo e membro de uma tradicional família paulistana.
Trip descobriu a personagem por meio de um documentário que leva seu nome concluído este ano, dirigido pelo carioca Fellipe Barbosa. Diretor e personagem conheceram-se dez anos atrás, em Nova York, quando Fellipe ainda era um estudante de cinema de 19 anos. “Vi Laura pela primeira vez numa festa. Ela me cativou imediatamente. Sentia nela uma contradição, algo de misterioso. Foi desse mistério que nasceu o desejo de fazer o filme”, ele conta.
Laura Giannoni nasceu há 59 anos em Buenos Aires. Aos 12, migrou com os pais e o irmão para São Paulo. Já adulta, mudou-se para Nova York “por causa de um grande amor” – não para encontrá-lo, mas para fugir dele. Laura diz ter se envolvido com Roberto Carlos, que supostamente já estaria namorando Myrian Rios na época. O caso foi parar na revista Manchete, onde Laura disse que os dois “eram apenas amigos”. Três edições mais tarde, a capa da publicação trazia o cantor e a atriz em traje marinheiro saindo de um iate e o título: “Roberto e Myrian assumem relação”. Trip tentou entrar em contato com Roberto Carlos para escutar sua versão, mas sua assessoria alegou que ele estava sem tempo para responder qualquer coisa.
R.C.F.C. desde criancinha
O pai de Laura era fã do Rei, escutava seus compactos à exaustão. Enquanto “O calhambeque” de Roberto Carlos ressoava na vitrola da sala, o calhambeque de Roberto Carlos estacionava na porta da residência dos Giannoni. Era o cantor indo visitar a casa de Antônio Augusto Amaral de Carvalho, sócio da TV Record, que ficava do outro lado da rua. Todo fim de semana, Laura vestia a saia Saint-Tropez, ajeitava o cabelo à la Beatles, amarrava na perna as tiras da sandália grega e ia assistir à gravação do programa Jovem guarda, onde tinha cadeira cativa. Com 16 anos, venceu um concurso nacional de beleza, cujo prêmio era uma ponta no filme Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967). Completando a ironia do destino, o cantor tem uma música intitulada “Lady Laura”, composta em homenagem a sua mãe.
Depois de tantos cruzamentos e coincidências, os dois começaram a se falar, mas não passaram disso. A fábrica de farinha de trigo da família de Laura abriu uma filial em Curitiba, o pai foi ser gerente e ela, contra a vontade, foi junto. Depois das faculdades de administração e comércio exterior, casou-se – virgem – com um piloto de Fórmula Super Vê, sobrinho do governador do Paraná. Falava ao telefone com Roberto escondida no banheiro. “Ele dizia que meu marido era maluco, que ele é que era homem de verdade.” A sogra acusava Laura de infidelidade, mas ela jura que não era verdade. Um dia chegou em casa e não tinha mais marido, móveis, roupa, nada. “Nossa separação dividiu a cidade, virou escândalo municipal. Inventaram que eu era prostituta, traficante e colocaram até um jagunço atrás de mim.”
Fugiu para o Rio de Janeiro. Desquitada e com os negócios da família mal das pernas, ficou sem dinheiro. Mas dava seu jeito de aparentar o inverso: os modelitos exuberantes com que desfilava eram cópias de peças de grandes grifes que ela mandava fazer em costureiras; as joias, vistosas bijuterias; os endereços nobres onde morava, casas de amigos do jet set carioca que a hospedavam. Um deles era o fotógrafo Marco Rodrigues. “Pedi para casar com Laura no momento que a conheci. Ela morou lá em casa seis meses. No início era divertido. Depois quis dar-lhe uma bofetada, um murro e, finalmente, estrangulá-la e jogá-la pela janela, para que daquela boca não saíssem mais impropérios. Ela foi ficando muito arrogante”, ele conta.
Laura era musa da Hippopotamus, boate mais fervida do Rio daqueles tempos. Um corte novo de cabelo que fazia virava notinha de jornal no dia seguinte. Hildegard Angel, colunista social da época, explica o fenômeno: “Na boemia, as pessoas eram mais abertas, divertidas, afáveis. Era comum celebridades se relacionarem com desconhecidos que ninguém sabia de onde vinham, o que faziam, quem eram. Havia várias Lauras na vida noturna”. Seus 15 min de fama renderam um convite para participar da novela Coração alado (1981) e do filme O incrível monstro trapalhão (1980), com Didi e sua antiga trupe. Durante o Rock in Rio I, foi nomeada cicerone de Rod Stewart.
“Os artistas simplesmente me amam, não sei por quê”
O sonho de infância se realizaria pouco depois. Trabalhando como guia no Paraguai, trombou com Roberto Carlos no aeroporto, depois de anos sem vê-lo. “Dessa vez”, ela garante, “rolou mesmo.” Laura conta que aceitou o convite para conhecer a cobertura em que ele estava hospedado. “Estava um belo entardecer em Assunção, o hotel dele ficava em frente ao lago de Ipacaray e a lua estava cheia. Foi mágico, tipo conto de fadas”.
A colecionadora
Mesmo separados, Laura acompanhava os passos do Rei. Esperando por ele no saguão de um hotel em Madri, na Espanha, teve de se “contentar” com Mick Jagger, que estava lá com o resto dos Stones. “Não queria ficar com ele, mas falaram que iam me matar se eu não comesse o homem”, desdenha. Do affair de uma semana, guarda um souvenir: uma foto de Jagger de pijamas Issey Miyake, “que ele me fez ajoelhar prometendo que nunca divulgaria”. Diz ter namorado ainda o ator Tony Curtis, morto em setembro último, e Christopher Lambert, famoso pelo papel de Highlander. Seu currículo amoroso constelado fez uma amiga dar-lhe o apelido de “colecionadora de porra famosa”.
Ela diz que não precisou correr atrás de nenhum deles. “Os artistas simplesmente me amam, não sei por quê.” A psicóloga Monica Lacerda, sua amiga, confirma: “Eu a vi dando um tapinha na bunda do Leonardo DiCaprio e ele virando cheio de amor: ‘Laaaura!’. Outra vez, em Los Angeles, o interfone tocou e eu atendi. Era o George Clooney”.
“Laura nunca ligou para homens, sexo ou dinheiro. Ela se alimenta da noite, do glamour”
Desde que chegou a Nova York, Laura mora no mesmo quarto de hotel, onde tem que dividir banheiro e cozinha com o resto dos moradores – incluindo imigrantes ilegais e prostitutas. “Aqui é Manhattan, baby. Só preciso de um lugar para colocar minhas coisas e repousar meu rabo. Minha casa é em Curitiba”, diz. Essa casa, no entanto, ela não visita há mais de 15 anos.
Mesmo não badalando na madrugada como antes, ainda acorda tarde, por volta das 14 h. Vai para a rua arrastando uma mala de rodinhas, onde guarda maquiagem, secador de cabelo, roupas e um laptop velho. Foi atropelada por um táxi dois meses atrás e, desde então, tem que carregar uma muleta também. Come e cuida das madeixas de graça em estabelecimentos de amigos. Laura irrita-se quando perguntada de onde tira seu sustento, mas revela que recebe uma pequena ajuda da mãe de 80 anos.
Groupie? Tiete? “Nem pensar”, ela rebate. Linda Conde, socialite esposa do biliardário Pedro Conde, sai em defesa da amiga de mais de 30 anos: “Ela nunca ligou para homens, sexo ou dinheiro. Só quer sair, ver pessoas bonitas, ser vista. Ela se alimenta da noite, do glamour dela”. Laura não persegue as estrelas, mas sim o brilho delas.