Eu sou terrível

por Luara Calvi Anic
Trip #191

É com espada em punho que Ivan defende sua candidatura a deputado federal

A principal avenida da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, coleciona lojas de eletrodomésticos, barracas de espetinhos de carne, alguns puteiros e um homem chamado Ivan, o Terrível.

Desde a década de 80, Ivan Anic Filho – que não tem nenhum parentesco com esta repórter, apenas a mesma Croácia dos antepassados – sonha em ser eleito. Presidente, vereador, deputado federal, qualquer cargo.

Seu objetivo é “salvar o Brasil de 510 anos de escravidão”.

Ivan usa duas gravatas ao mesmo tempo, carrega consigo uma espada de ferro medindo cerca de 1 m e diz estar devendo US$ 320 mil para pessoas que o apoiaram em campanhas políticas.

Aos 62 anos, também se considera “o libertador do Brasil” e afirma ter vindo de “um planeta extinto há milhões de anos”. Todo esse repertório rendeu a ele 2.655 votos nas eleições de 2008, quando concorreu a vereador.

Este ano, disputa o cargo de deputado federal. Seus eleitores logo são revelados quando Ivan assume o posto diário: em pé no meio da avenida doutor Eduardo Cotching, com o rosto branco de protetor solar e abanando uma cartolina com o número de seu partido, o PRP (Partido Republicano Progressista).

Ali ele é famoso, carros buzinam e os passantes berram seu nome.

O paulistano filho de imigrantes mora com os pais num sobrado da região. Aos 18 anos, entrou como voluntário para o exército, se jogava de aviões na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro. Praticante de esportes desde a infância, na juventude deu aulas de musculação em uma academia da Vila Formosa.

Foi Mister Brasil, Mister São Paulo, Mister Capital de halterofilismo. “Pratiquei todos os esportes que existem: boxe, karatê, jiu-jítsu, taekwondo, corrida, luta greco-romana.” Na vida espiritual, também rezou de tudo. “Frequento todas as religiões. As ordens secretas e ultrassecretas, maçonaria, Rosa Cruz, gnóstica”, se orgulha.

Enquanto escreve na cartolina do dia, em voz baixa ele faz uma oferta à repórter: “Se eu ganhar a eleição, você vai ter um cargo no meu gabinete. É só registrar no cartório, vou assinar de próprio punho. Se quiser, continua no seu serviço em São Paulo, nem precisa ir para Brasília”. Melhor não, Ivan. Vão achar que é nepotismo.

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