Enrique Vila-Matas lança O Mal de Montano e é uma das estrelas da Festa Literária Internacional de Parati
A profissão de escritor antecipou a crise de empregos contemporânea. O artista é o freelance avant la lettre, preso em seu escritório, doente de literatura. Afinal, mais árduo do que conviver com as idiossincrasias do escravo operário na máquina ao lado da sua é coabitar a mesma casa que os seus demônios.
Em O Mal de Montano, de Enrique Vila-Matas - a ser lançado pela CosacNaify no início de julho, quando o autor catalão estará em Parati, na terceira edição da Flip - essa condição, digamos, "caseira" do escritor é diagnosticada como enfermidade.
Num tempo em que a maior parte dos acidentes trabalhistas são provenientes de lesões por esforço repetitivo e depressões, a visão de Vila-Matas faz sentido.
Um homem preso em seu castelo, envolvido com diários, cartas, textos e leituras, dia após dia, minuto a minuto, é o mais perfeito retrato do homem pós-moderno [ou pós-humano, como preferirem], circunscrito à prisão do lar, de onde conecta-se com o mundo e produz. O Mal de Montano atualiza a visão de Walter Benjamin em seu histórico ensaio O Autor como Produtor num romance metaliterário que não prima pela presunção e muito menos por ser enfadonho.
Joca Reiners Terron é escritor, autor de Curva de Rio Sujo, editora Planeta - tel. (11) 3087 8888