Esaú, Jacó e o prazer no sexo

A história Bíblica dos gêmeos ensina sobre necessidade de conciliar naturezas conflitantes

Caro Paulo,


Estou chegando do Bar Mitzvah do Victor, filho dos queridos Renata e Daniel, sento ao computador para escrever a coluna e me dou conta do tema desta edição: sexo e consumo. Ainda estou sob o efeito da emoção e do significado do ritual judaico. As figuras intrigantes de Esaú e Jacó, leitura da cerimônia, dominam a minha cabeça. Que história incrível: os irmãos gêmeos, filhos de Isaac e Rebeca, têm perfis opostos. Esaú é caçador, tem um instinto selvagem de sobrevivência. Jacó é civilizado e estuda nas tendas.

O aprendizado que o rabino Nilton Bonder concluiu da história é que o homem maduro deve integrar essas duas naturezas que conflitam em nós. “Somos um: pele de Esaú e voz de Jacó”, o que, na minha compreensão, fica assim: “pele” é o corpo físico, o natural, e “voz” é a linguagem, a fala, a consciência do civilizado. Eureca! Encontrei o nexo entre sexo e consumo, Esaú e Jacó e o Bar Mitzvah do Victor.

Vamos lá: o Bar Mitzvah fala do início da maturidade do homem. Amadurecer é integrar estas duas naturezas: instinto selvagem e consciência civilizadora. Fazer sexo e consumir são duas atividades naturais e selvagens do homem que devem ser amadurecidas via consciência civilizadora. Conclusão: a evolução e o amadurecimento do homem passam pela prática do sexo e do consumo com consciência.

Desprazer

Mas acho que estão deturpando a mensagem. Sexo consciente hoje remete ao desprazer do sexo com camisinha e consumo consciente remete ao desprazer de consumir menos por causa das futuras gerações que não terão o que consumir. Isso não é evolução! Desse jeito, duas das maiores fontes de prazer do homem – sexo e consumo – estão sendo colocadas em risco por essa evolução. Que horror! Não acredito e não concordo. Sexo consciente e consumo consciente não são sexo e consumo com menos prazer.

Concordo com a história do Gênesis sobre o desafio da integração de nossas duas naturezas. Mas não concordo com o rumo da nossa história quando associa esse processo de conscientização com menos prazer no sexo e no consumo. Isso acaba com a credibilidade do processo civilizatório e nos estimula a sabotar essa evolução que promete mais nos aborrecer do que nos divertir. Precisamos acreditar que mais significado no sexo e no consumo aumenta o prazer do mesmo sexo e do mesmo consumo. Portanto satisfaz mais. Mas falar de significado está no plano do design do ser humano e não no do ser selvagem. E, nesse caso, sem desqualificar o rabino, peço ajuda ao amigo Darwin.

Quem viver verá.

*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus

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