Ele fala sobre dinheiro, sucesso, plásticas, depressão, álcool, crise econômica, mudanças na alta sociedade e atesta: “Vivemos a pior época para festas”

Amaury Jr. mal chega e já acende o primeiro cigarro. Senta-se próximo ao ar-condicionado, a cadeira fica num balanço constante, acompanhando seu corpo inquieto. “Ansioso? Eu sou a ansiedade!”, ele ri, numa manhã de novembro no escritório da sua produtora, no Jardim Europa, em São Paulo. “Sou ansioso pelo próximo lance. Hoje à noite, vou dar uma outra entrevista, por exemplo. Depois, vou fazer a reportagem de um jantar. Então eu já estou lá, na entrevista, nessa festa. Isso faz mal.”

É essa mesma ansiedade, porém, que faz com que Amaury persevere no ofício, a que ele se mantém fiel há mais de 40 anos: ir atrás de boas histórias. “Quando fico um período sem fazer um barulho, uma espuma, uma entrevista relevante, me dá ansiedade demais”, diz. “Só vou largar essa coisa quando não puder mais andar.”

Essa “energia inesgotável” de Amaury – que, aos 65 anos, está na TV de terça a sábado – é um dos aspectos destacados pelo premiado jornalista José Hamilton Ribeiro, em depoimento à Trip sobre o apresentador com quem fundou o jornal Dia e Noite, em São José do Rio Preto, na década de 70. “Quando tudo em volta indica que algo vai dar errado, ele diz: Venha. Sorria. Você está comigo”, conta. E, para quem acha que só de champanhe Cristal vive Amaury, José Hamilton, repórter de guerra e veterano da TV, é categórico: “Ninguém fará uma história bem-feita da televisão no Brasil sem contar a história dele”.

A semana anterior a esta entrevista foi mais agitada do que o normal para o colunista de televisão mais famoso do país: no dia 13 de novembro, Amaury ganhou uma biografia, A vida é uma festa, escrita pelo jornalista Bruno Meier. “O livro está alcançando uma bela repercussão”, conta. “Ontem à noite, o editor da Harper Collins, minha editora, me ligou e disse: Tenho uma notícia para você: o livro já entrou na lista dos dez mais vendidos.”

A vida é uma luta

Filho de professores, Amaury Jr. nasceu em 1950 e começou a carreira de jornalista aos 14 anos, escrevendo sobre os estudantes de São José do Rio Preto – espaço que, logo, virou uma coluna social da cidade paulista. Foi nas festas rio-pretenses que conheceu Celina, sua mulher, com quem está casado há 40 anos e tem dois filhos, Amaury e Maria Eduarda. Lá, também se formou em direito, apresentou uma gincana televisiva – na qual descobriu, em uma prova de sósias de Brigitte Bardot, a jovem Ana Maria Braga, que virou sua assistente de palco – e lançou o jornal Dia e Noite, que foi sucesso de público, mas não funcionou como empresa.

Projeto abandonado, rumou para a capital. “Vim com os dois filhos debaixo do braço, vim ferrado para cá”, conta, sobre sua mudança, no fim da década de 70, quando veio trabalhar na TV Tupi. “Era repórter de rua, cobrindo enchentes e tudo. Foi um momento muito importante para o telejornalismo.” O primeiro emprego paulistano, entretanto, não durou muito: a TV Tupi fechou em 1980. Depois do fim da emissora, Amaury Jr. conseguiu uma coluna no Diário Popular, “por recomendação do Audálio Dantas, que era o presidente do sindicato [dos Jornalistas de São Paulo]”, e um programa de rádio na Gazeta em “um horário maravilhoso, 6 da tarde”.

Foi na Gazeta que, em 1982, apresentou sua ideia para o departamento de televisão: levar as colunas sociais para o audiovisual. “Me deram 5 minutos. E eu: Cinco minutos? Em 5 minutos, a gente vai e faz um flash. Nasceu assim o nome Flash”, conta. “Em menos de um mês eles me deram 10 minutos, em menos de seis meses eu estava com quase 15, e em um ano a TV Record, que ainda era uma emissora interestadual, me contratou.” No ano seguinte, novo contrato: estreou em rede nacional na Bandeirantes. O nome mudou para Programa Amaury Jr em 2003, quando passou para a RedeTV, mas a ideia ainda é a mesma. “Quem continuar tendo o melhor conteúdo vai seguir ganhando o jogo, não tem segredo”, diz.

“Vivemos a pior época para festas. As festas espontâneas acabaram, tem muita festa comercial. [...] Cascata de champanhe Cristal, sabe? Acabou isso”

E a vida, Amaury, é mesmo uma festa? “Não”, reflete. “A vida é uma luta. É uma luta diária. É uma luta durante o dia para podermos ir a uma festa à noite.”

 

Trip. Em 2015 se falou muito em crise econômica no Brasil. Chegou em você?

Amaury Jr. Não foi só falar, não! Eu estou em crise. Ontem conversava com o Ratinho, e ele disse que o programa dele estava passando ao largo. O meu não está. É mentira de quem fala que o mercado de luxo brasileiro está acima da crise. Está nada! Está complicado.

Diminuiu o faturamento do programa? Muito. Não só do meu. De todo mundo. Até da Globo. Está todo mundo enxugando. O mercado publicitário está ruim. Para mim está ruim. Desde a Copa do Mundo estou ganhando para pagar conta. Não guardo um dinheirinho na gaveta. Não dá para guardar. [Hoje, o faturamento da produtora do programa de Amaury é de cerca de R$ 800 mil.]

Mas você ganha muito dinheiro com o seu programa. Eu tenho um contrato com a RedeTV que todo faturamento é fifty-fifty. Eles vendem, eu vendo, e a gente divide. Mas eu que banco minha produção. Não é fácil. O que me dá uma sustentabilidade boa são os trabalhos paralelos. Recheiam o orçamento. A Publicis me contratou para fazer aquele viral em que me fantasiei de Hebe, de Chiquinho Scarpa, de Donald Trump. As pessoas às vezes também me contratam para eu estar numa festa, ser mestre de cerimônia. Isso é um dinheiro que é só meu, não preciso dividir com a televisão.

Você é rico? Sou um cara de ambições comedidas, tudo que sempre ambicionei consegui ganhar dinheiro para comprar. Então, acho que sou um cara rico. Milionário? Não sou. Tenho um belo apartamento, confortável, que eu adoro. Tenho outros imóveis que me dão uma garantia, se amanhã eu ficar desempregado. Não sou dinheirista: acho que dinheiro é bom para gastar. E deixar uma reserva para uma merda qualquer. O que mais tenho medo na minha vida é de doença.

E as festas, estão menores? Elas estão sendo prejudicadas. E alguém vai dizer: grande porcaria! Mas, olha, as festas têm um peso fundamental na economia. Se acabarem as festas, é como se cortássemos muito mais do que todo o dinheiro do Bolsa Família, porque elas dão empregos diretos e indiretos para muita gente. Além disso, todos precisamos de abstração. A noite foi feita para você apagar as mágoas do dia. Hoje você não tem mais festas espontâneas, tem muita festa comercial. Antes não era assim. Sou oriundo da década de 70, da época do Gallery [casa noturna paulistana].

E essa foi a melhor época de festas no Brasil? Sim, eu acho. Não eram só festas no Gallery, no Ta Matete, no Regine’s. Não era só isso. Todo mundo dava festas em casa: tinha uma explosão de comemorações. Hoje o que sobrou são festas comerciais. Tudo decaiu. É uma época de menos bebida boa, menos convidados, menos propósito, tudo menos. Essa pode ser manchete: “A pior época para festas” [risos]. As festas espontâneas acabaram. E as poucas que acontecem não querem deixar eu gravar. A violência teve a ver com essa transformação de 70 para cá. O [publicitário Washington] Olivetto foi sequestrado [em 2002], o [publicitário Luiz] Salles foi sequestrado [em 1989]. As pessoas não querem se expor. Teve uma época que tinha, por dia, três festas importantes para cobrir. Três festas faustosas, bacanas, com gente de conteúdo, explosão de elegância. Cascata de champanhe Cristal, sabe? Acabou isso. De três anos para cá, foi um debacle. Fico deslumbrado com uma festa bem-arrumada.

O que é uma festa bem-arrumada? Uma festa com decoração primorosa, de bom gosto. Que seja coerente. Que seja feita num espaço correspondente ao número de convidados. Pode ter 500 convidados, mas tem que ser aconchegante. O anfitrião precisa saber receber. Já vi festa que ninguém conhecia ninguém: vira um velório. Todo mundo deslocado, ninguém conversa. Esse é maior o pecado de uma festa.

Existe uma geração nova de festas como as do tempo do Gallery? O Rei do Camarote, você está falando? [risos] Não tem. Essa nova geração começou a se esboçar, os caras estavam fazendo festa até em Cannes, alugavem iates em Saint-Tropez. Mas você contava nos dedos, também.

Desde esse auge na década de 70, o que mudou? Era uma época faustosa, que ninguém tinha vergonha de exibir, de ostentar. Ao contrário, as pessoas faziam questão, fazia parte do jogo, e isso conferiu um glamour para a noite que jamais voltará no Brasil – e o Ricardo Amaral [empresário da noite carioca] concorda comigo. Não vai voltar mais. Mudou, também, no mundo inteiro. Não que seja pior, mas é outro formato. E entrou a internet. O advento da internet é uma coisa maluca: todo mundo tem direito a falar, se manifestar, publicar a sua opinião. Essa diversidade é muito boa. Daquela época para cá mudou absolutamente tudo.

A internet também muda a nossa relação com as celebridades. Antes não tinha o narcisismo de hoje. As pessoas se fotografam de todas as formas possíveis. A gente sabia que todo esse narcisismo existia, mas agora aflorou.

Ainda existe espaço na televisão para o tipo de colunismo que você faz? Tem, e eu acho que não só para o que eu faço. Hoje as pessoas veem televisão como quiserem. Pode ver pelo telefone, montar sua programação. Isso para mim está sendo muito bom, porque meu programa é meia-noite e meia. Tenho um site onde o programa que foi exibido ontem à noite está disponível. A pessoa me vê no dia seguinte. O que não mudou é o conteúdo: quem tiver o melhor conteúdo vai continuar ganhando o jogo. Não tem segredo.

E você assiste TV? Eu não consigo ver muita televisão. Na hora que os programas estão no ar eu estou fazendo o meu. Às vezes não vejo nem o meu.

Quem seleciona a trilha sonora do seu programa? Eu mesmo. Não desde sempre, mas hoje eu faço. “Keep it comin’ love”, do KC and the Sunshine Band, que, a gente brinca, é o hino nacional do programa, está lá há mais de 30 anos, e todo mundo gosta. O próprio KC esteve no Brasil e queria me conhecer. Entrou no ar, me agradeceu. Eu escolho as trilhas. já lancei sete CDs com elas. Somados, vendi 1 milhão de cópias. O primeiro deles tem aquela música do Jesse Green, “Nice and Slow”, ô-ô-ô [canta], que virou até buzina. 

Você sempre gostou de música? Ouço música o dia inteiro. Minha vida tem trilha sonora. Tenho um motorista que me acompanha há dez anos e me ajuda a encontrar as músicas. Às vezes, ouço uma música 50 vezes para ter certeza de que vai sensibilizar o meu público. Eu não toco nenhum instrumento, não sei cantar, mas acho que sou um bom selecionador. Tenho personalidade musical. O que eu gosto é da fase mais criativa da música, que foram os anos 70 e 80.

Fora ouvir música, o que você faz no tempo livre? Eu leio. Meu pai era filólogo, professor de português. Muito rígido, ele respeitava a língua tanto quanto a Deus – e ele foi seminarista. Falar errado fazia mal para a alma dele. Em casa, nos almoços, eram próclises, mesóclises, frases, citações, trechos. Era um puta saco, eu e meu irmão, adolescentes, querendo cair fora. Ele fazia a gente ler um livro por mês. Quando não dava para ler, a gente sublinhava trechos do livro para poder enganar na hora de contar a história para ele, mas não passava, porque ele era muito esperto. Eu odiava, mas essa obrigação acabou me dando subsídios. Não que eu seja um Schopenhauer, mas pelo menos aprendi a falar e a escrever – eu sempre fui de mídia impressa, a televisão aconteceu na minha vida. O que eu mais gosto de fazer hoje é ler. Eu estou mais comprando do que lendo, não dá tempo, mas nas minhas férias tiro o atraso. E todo livro que leio, eu sublinho e faço um resumo no computador.

Seu pai era rígido com outras coisas também? Era rígido com tudo. Por exemplo, nunca experimentei droga.

Nunca? Não, nem maconha.

Nem maconha? Morro de vontade de provar, mas desisto. Não entrei até agora, não é agora que vou entrar. Até porque vi muitos amigos se perderem.

Na década de 80, cocaína era muito comum. Você viu muito isso? Muito comum. Quando eu era adolescente, meu pai chegava a revistar minhas coisas. Eu ficava muito bravo, mas talvez tenha sido por isso que eu nunca usei drogas. Até brinquei outro dia: bom mesmo era o lança-perfume. O que é que falta nas festas? Falta lança-perfume. Mas lança perfume é só uma viagem intermunicipal, não é interplanetária [risos].

Era comum nos Carnavais. Nossa! Uma vez nós fizemos um bloco de enfermeiros, era o bloco dos enfermeiros, mas era só para espirrar o lança direto na máscara [risos]. Foi um exagero, uma transgressão que eu fiz, mas eu adorava.

Sua mãe morreu recentemente. Como era sua relação com ela? Ela era muito festeira. Foi um baque para mim. Eu acabei dizendo: deixa ela descansar, é melhor, ela não está mais aguentando. Mas isso não é consolo, não. Ver a minha mãe no caixão. Linda! Estava bonita, sabe? Tão bonita. Rebobina aquele filme dela me estimulando, dela me corrigindo. Ela era professora, também. Sempre tive medo do crivo dela. Meus pais tinham uma lousa em casa, quando eu já estava em São Paulo, e todo erro de português que eu cometia, eles anotavam. Era uma patrulha linguística. Ninguém dizia que eu estava bonito, com a gravata boa. Eram só críticas.

Você já fez análise? Fiz e faço. É bom. Melhor coisa do mundo. Você fala tudo na análise, arraca o tutano do teu osso. E eu tenho caras ótimos. Faço com o Luiz Altenfelder, que é o meu psicanalista. E já fiz com o Flávio Gikovate.

Como você começou a escrever? Eu fazia uma coluna sobre o meu colégio, uma vez por semana. Depois, comecei a fazer no jornal, sobre o universo colegial de Rio Preto, e essa coluna foi se transformando em coluna social, nem eu sei como. Comecei a noticiar coisas da cidade, dar opinião, publicar fotos de mulheres bonitas. Em um momento, já em São Paulo, tive uma ideia: por que a gente não mostra isso na televisão?

“Meu pai era filólogo, professor de português. fazia a gente ler um livro por mês. [...] Não que eu seja um Schopenhauer, mas pelo menos aprendi a falar e a escrever”

Já tinha trabalhado na televisão? Eu tinha, em Rio Preto [apresentava uma gincana intercolegial]. Depois, quando vim para São Paulo, fui para o telejornalismo da TV Tupi, como repórter de rua. Quando fechou a Tupi, virei colunista no Diário Popular e fui também para a Rádio Gazeta. Lá, vendi minha ideia de um programa de festas para a TV Gazeta. Me deram 5 minutos. Nasceu assim o Flash, que depois virou revista, virou um monte de coisas [o programa foi ao ar em 1982]. Quando a Bandeirantes me convidou para entrar em rede nacional [em 1983], eu já estava mais seguro, mais conhecido. No começo ninguém queria falar. O meu primeiro entrevistado, na televisão, foi o Antonio Bivar, que estava lançando Verdes vales no fim do mundo. Eu me lembro como se fosse hoje. Como o tempo passa! E a primeira entrevistada foi a Maria Zilda, ótimos.

Você se sentiu muito enganado no caso do impostor que se dizia herdeiro da Gol? Não. Porque não fui só eu. Foi todo mundo enganado. E outra coisa: os caras falam que eu paguei mico porque entrevistei ele duas, três vezes, lá. Mas é que ele não largava de mim. Até andei de helicóptero com ele pilotando. Se fosse um psicopata podia ter jogado o helicóptero no mar. E tinha um filho meu comigo. Sabe quando começou a cair minha ficha? A hora que ele foi me dar o embarque. Ele foi me dar o embarque, 7 horas da manhã. Esse cara é dono da Gol, vai me dar o embarque 7 horas da manhã? Está um pouco exagerado. Fiquei sabendo da história quando aterrissei em São Paulo. Ainda não tinha colocado a entrevista no ar. Podia vetar. Mas entrei no ar e falei: “Gente, vocês não sabem o mico que eu paguei”. Contei. Coloquei a entrevista no ar.

O que pensa do formato do seu programa hoje? Sempre achei, e acho até hoje, que o formato que acabei inventando, que não foi nenhum puta golpe de genialidade, é uma revistona variada de fim de noite. Propósito: mostrar o que sobrou de bom no país. Arrancar receitas de sucesso das pessoas. Porque, no Brasil, todo mundo que é rico parece que é ladrão. Tem gente que ganhou tudo à custa do seu suor. Mas eu já entrevistei tanto ladrão e não sabia que hoje fico perplexo.

Ladrões tipo quem? Entrevistei todo mundo do mensalão, do petrolão, do cacetão. Todo mundo. Estou com 35 anos no ar, em um programa diário. Então todo mundo já passou pelo meu programa. Na semana passada, no Rio, fui na exposição do Juarez Machado – que é meu querido amigo e um dos maiores artistas plásticos deste país – e entrevistei 27 pessoas. Entrevistei mais de 50 mil no total. Eu falo e ninguém acredita. Depois da Bandeirantes voltei para a Record [em 2001], e quando saí fui para a RedeTV [em 2002, quando mudou o nome de Flash para Programa Amaury Jr]. Estou há 13 anos na RedeTV, nessa toada. Todos os dias. Ontem foi até meia-noite, hoje vai de novo, amanhã, que é feriado, de novo.

Não cansa, depois de todos esses anos, ficar trabalhando até de madrugada, todo dia? Cansa. Mas, quando descanso, sinto falta. Um break de três dias para mim e eu fico louco para voltar. Eu gosto mesmo do que eu faço! Gosto de conhecer pessoas, de me inteirar do universo de cada pessoa. Só lamento que tenho que fazer um pouco apressado isso. Gostaria, hoje, de fazer um programa semanal de 2 horas, mais bem elaborado, mais bem pensado. Eu vou até fazer essa proposta para a RedeTV, queria fazer um programa semanal, o ano que vem. Quem que assiste a um programa todo dia? A gente não assiste nem aos telejornais, que são obrigatórios.  

Já pensou em parar? Não vou. Só se me derrubarem. Eu rezo todos os dias para não ficar doente. Cuido da minha saúde. De dois anos para cá, tirei um tempo para mim, faço ginástica, tenho personal trainer. Sou meio hipocondríaco, confesso.

Você toma remédios? Tomo 30 por dia. E tomo dois antioxidantes que são fundamentais, e pouca gente conhece no Brasil. Um é o Resveratrol, que já está mais conhecido. É a substância boa do vinho, o resto é álcool. Dizem que tomar um copo de vinho tinto por dia faz bem. Porra nenhuma. Você tem que tomar 300 copos de vinho por dia para que tenha essa ação antioxidante. O outro, um novo, que saiu agora, chama-se Thurmeric, que é de cúrcuma. Ele é antitumoral e é um puta antioxidante. Tenho um médico cubano, Sérgio Menendez, que mora nos Estados Unidos, a gente tem uma amizade muito boa. Ele disse: “Esse tem que tomar”. A única coisa que ele não conseguiu é me fazer largar de fumar. Mas esse fim de ano vou sair de férias e vou largar.

Tentou muitas vezes? Já tentei cem vezes. Sou fumador de piteira eletrônica, que só tem nicotina. A nicotina não faz mal. O que faz mal são as 300 outras substâncias. Aqui no Brasil é proibido. Fui o primeiro cara no Brasil que descobriu esse negócio. A nicotina, o meu médico cubano falou, é que nem a cafeína, é a substância que te vicia. Portanto, é a substância que a tua cabeça pede. Então, a piteira eletrônica te atenua. Claro que o cigarro é muito mais gostoso, mas esse é perigoso, e está na hora de eu tomar uma decisão de parar para sempre.

Falando em cigarro, tem uma história de que você fumou escondido no Palácio de Versalhes. No livro está errado! Quem fez a transgressão, e eu fui atrás, foi o Paulo Coelho. O Paulo era fumante, nem sei se ele fuma até hoje. Era o jantar da dona Lily Marinho, lá no Palácio de Versalhes, quando teve o Ano do Brasil na França, em 2005. E fui gravar, a pedido da Dona Lily. Naquele tempo já não podia fumar lá. Fomos procurar um lugar para fumar e acabamos num quarto da realeza. Tinha um janelão semiaberto. Sentamos na cama. Demos risada pra caralho [risos].

Você teve depressão há alguns anos, em 2008. Foi difícil? Foi. Uma depressão fodida. Tomo ansiolítico até hoje. Se você tiver depressão, os médicos vão te dar um remédio sem saber se ele vai pegar. É que nem lei no Brasil, ou pega ou não pega. Remédio para depressão também, ou pega ou não pega. Aí, você fala: não está acontecendo nada. Muda. Passa um tempo. Muda de novo. Eu tomei 18 remédios. Aí, Cymbalta, pá! Me deixou legal. Tenho que continuar tomando, porque sou hiperativo. Todos os dias. Acho que vou tomar pelo resto da vida.

Na TV, você está sempre alegre, feliz. Isso é um personagem ou você mesmo? Os dois. Eu sou, normalmente, muito alegre. Mas na época da minha depressão, não parei de trabalhar. Tinha que armar o sorriso no automático. Ia para os eventos e sorria do mesmo jeito. Se você vê as minhas reportagens dessa época, não vai dizer que estava depressivo. Daí chegava em casa e cama. Mas acho que depressão é um sintoma de pessoas que refletem o mundo. O cara que não tem nenhuma depressão, hoje, está insensível. O que aconteceu em Paris é muito emblemático. O que está acontecendo no Brasil, política e economicamente, também. É um puzzle. Liguei para o [José] Serra, que é meu amigo, e falei: “Senador, o que é que vai rolar?”. Ele falou: “Olha, se eu soubesse, ia dar consultoria”. Ninguém sabe o que vai acontecer. Mas você também tem que confiar. Torcer, fazer figa. O pensamento positivo tem uma força maravilhosa.

Você bebe muito? Hoje, não. Mas já fui de beber em volume industrial. Nunca no ar.

Mas o álcool, no fim, é um pouco importante nessa relação de conversar nas festas. Tenho uma teoria: nessas minhas leituras, encanei de ler biografia de todo mundo. E encontrei um ponto em comum entre os grandes malfeitores da história: eram abstêmios. Hitler não bebia porra nenhuma, Mussolini não bebia. Idi Amin Dada idem. Todos cometeram atrocidades. Na minha percepção, o cara que não bebe, que é abstêmio: tome cuidado com ele. O bom é o sujeito que é lubrificado – não bêbado, lubrificado. Ele é melhor pai, marido, amante, melhor empregador. Ele é melhor tudo. Até brinco: o [ex-presidente] Lula jamais será um ditador. Ele gosta de uma cana.

Muita gente tem essa impressão: de que, às vezes, você está bêbado durante o programa. Falam, né? Já aconteceu, uma ou duas vezes, não mais que isso. Mas foi o suficiente para falarem para sempre. Uma vez eu fiz entrevista com a Bebel Gilberto e ela estava mais do que eu. Ela não falou coisa com coisa, e nem eu.

Você acaba de ganhar uma biografia. Como foi isso? Um dia, o Bruno Meier, da Veja, teve uma conversa comigo, para ver se dava uma matéria. Ele falou: “Se você contar tudo o que você sabe ao longo desses 35 anos, dá uma belíssima
reportagem”. Eu disse: “Cara, se eu contar tudo, vai dar um livro. Por que você não faz um livro?”. Foi um comentário despretensioso. E ele falou: “Eu topo”.

Você participou do processo? Eu assinei um contrato com a Harper Collins – uma editora que está chegando agora ao Brasil, uma parceria com a Ediouro –, de que pelo menos eu deveria estar presente nas noites de autógrafos [risos]. Às vésperas de mandar o livro para o prelo, eu queria ler e eles falaram: “Não, você não vai ler. Se cedermos a esse pedido, a coisa vai ficar sem credibilidade”. “Como assim eu não vou ler o livro?”, falei. Foram 50 sessões de entrevistas! Eu fiquei chateado, mas entendi. Mas agora eu li, às vésperas da noite de autógrafos. Comprei o livro, porque sou amigo do Pedro Herz, da Livraria Cultura. Falei: “Pedro, escala um cara da tua equipe, na hora que o livro baixar aí, me avisa que eu quero comprar”. Tem algumas coisas distorcidas. Mas, de forma geral, o texto é maravilhoso. E o livro está dando uma bela repercussão.

Um dos trechos da biografia diz que você perdeu a virgindade num puteiro e pegou gonorreia várias vezes. Ah, não me importei com isso. Primeiro porque não fui o único que perdeu virgindade em puteiro. Segundo, gonorreia era que nem resfriado. Eu tive sete. Tem cara que teve 25, 30. Era um negócio absolutamente normal. É que a geração de hoje não sabe o que é. Ou sabe? Não sabe. Pensa que é Aids.

O seu arquivo de vídeo, como é? É um tratado sociológico, pô! O Marcos Mendonça, da TV Cultura, me disse que eles ganharam um canal novo e me perguntou se tenho meu arquivo. Eu tenho quase tudo. Conversamos numa festa e ele falou: “Amaury, eu quero o teu arquivo”. Eu falei: “Claro, pô! Com o maior prazer!”. Mandei copiar tudo em DVD e quando posso, em casa, revejo umas coisas do arco da velha, como o [advogado e político] Bernardo Cabral me contando do episódio com a Zélia, do “Besame mucho”.

Como é essa história? Ele ficou apaixonado pela ministra Zélia, aquela que sequestrou o nosso dinheiro, e ele deu uma pegada nela. Começou com ele dançando “Besame mucho” com a Zélia. O romance ficou público, eles viajaram para Paris etc. E um dia, num restaurante, encontro o Bernardo. E estou com a câmera. Sentei, eu já o conhecia, e ele falou tudo. Eu entrevistei. É que nem o João Gilberto: falou e não falou mais! [Amaury conversou com João Gilberto em 1991, uma das raríssimas entrevistas do cantor baiano]

Você entrevistou a presidente Dilma Rousseff? Entrevistei quando ela era candidata. Depois não entrevistei mais. Só me encontrei com ela no casamento do Roberto Kalil, que é médico dela e meu também, do coração. E encontrei com o Lula, inclusive estive na mesa deles. Mas não pude levar minha câmera lá. O Roberto falou: “você é meu convidado especial, mas você, sem câmera”. Eu até entendo quando a pessoa não quer. Temos um passado juntos, vamos só festejar. Mas eu fico puto, quero gravar tudo, não posso perder tempo. Quem faz um programa diário tem que andar com a câmera pendurada no pescoço.

Como é que foi a sua vida em família, assim, trabalhando na noite? Olha, acho que fiz um dobrado, mas eu consegui. Sempre que podia levava minha família nas viagens internacionais, pagava do meu bolso. É muito fácil perder a tua referência familiar, num trabalho desse tipo, que exige 24 horas. Mas sempre me virei muito bem. A minha mulher trabalha comigo. Eu não queria dissolver a família. Estou casado há 40 anos.

Quarenta anos de casado é bastante tempo. O casamento tem fases, tem a fase da paixão, que é uma merda. Paixão é uma merda. É avassaladora, arrebenta com você. Tem a fase do companheirismo. Tem a fase da confiança, da preocupação. Não dá para descrever quanto a família te serve como base. É, no fim, só em quem você pode confiar cegamente. Então, sabe, eu sempre tive juízo de enxergar bem esse lado.

“Bom mesmo era o lança-perfume. O que é que falta nas festas hoje? Falta lança-perfume. lança-perfume não é uma viagem interplanetária [como outras drogas]”

Como vocês se conheceram? A minha mulher era de Catanduva e ela ia para Rio Preto nas festas, porque uma amiga de classe era de lá. Eu conheci e me apaixonei. Eu me casei em Catanduva, foi legal, foi um casamento tradicional, normal.

Uma das fofocas mais recorrentes sobre você é de um suposto relacionamento com a Ana Maria Braga, na juventude. As pessoas querem falar que eu comi a Ana Maria Braga. Eu falei, eu falo: “Oxalá tivesse comido!”. Ela começou no meu programa em Rio Preto. A Ana Maria foi minha amiga. Nesta foto [na página anterior], a minha mulher está grávida do meu primeiro filho. Era um Carnaval de Rio Preto, com a Ana Maria Braga. Cortaram a foto e falaram: “O Amaury comeu a Ana Maria Braga”. Ela ficou puta! A Ana Maria é muito comedida. Ela fica puta porque ela é muito amiga da minha mulher. 

Você disse uma vez que odeia festas. Mentira. Me entenderam mal. Eu falei: “Não gosto mais de ir em festas só para trabalhar. Eu gostaria de ir para me divertir. Estou de saco cheio de festa”. Era uma fase que eu estava cansado de festa. É cansativo, cara. Não é mole. Mas eles distorceram. No livro saiu um outro negócio terrível também: eu teria dito que existe muito “garçom safado”. No livro saiu que todos os garçons são safados. Como em todas as atividades, têm os safados e têm os ótimos. Agora estou arriscado a ir num restaurante e o cara botar estricnina ou cuspir no meu prato. Os garçons são meus melhores amigos. E são grandes informantes.

Os garçons sabem tudo. Sabem. No Diário Popular, minha coluna era feita falando com garçom, porteiro, manobrista. Eu me orgulho de ser próximo deles, eles gostam de mim. Agora, de repente, sai um negócio desse. Queimou meu filme de verdade.

Você não é mais dono do Club A? Não. Eu vendi para o meu sócio. Eu não conseguia dormir sabendo que a ebulição estava lá, que o meu nome é que estava na reta. Negócio de drogas, de brigas. Você vê a quantidade de coisas que já aconteceu em casas noturnas que foram catástrofes internacionais. Peguei o meu sócio, Rubens Amaral, e falei: “Rubens, fica para você”. Eu não aguento mais vir aqui. Eu bebi o clube inteiro, fumava pra cacete e não fazia o programa direito. Não foi bom.

“Há algo em comum entre os grandes malfeitores da história: eram abstêmios. Hitler não bebia Mussolini idem. bom é o sujeito lubrificado”

Já fez plástica? O José Simão fala que eu faço uma por dia. Eu só fiz uma vez. Com o Pedro Albuquerque. Eu tinha emagrecido 14 quilos e fiquei com o pescoço muito solto. O Pedro Albuquerque falou: “Você está parecendo plissado, na minha casa você não vai entrar mais com esse pescoço!”. Ele fez um lifting. Só isso. E tomo umas injeções de botox duas vezes por ano, porque tenho rugas de expressão muito fortes. Mas o José Simão escreve: “O rei da plástica, Amaury Jr. Plástica agora vai entrar no plano de saúde. Uau! Amaury deve estar festejando. Marta Suplicy deve estar festejando”. Pode falar. Quero aparecer na coluna dele, faz bem para a saúde da minha audiência. Mas não é verdade.

Você emagreceu fazendo regime? Eu emagreci com o Mauricio Hirata, fazendo aquele regime que você só come proteína. Que corta os carboidratos. Para mim funcionou. Emagreci em um mês e meio. Depois tentei fazer de novo, mas não funcionou mais. Eu tive sempre um problema com a balança. Eu vou almoçar em casa todos os dias. Não abro mais mão disso.

E essa história injeção de células de embrião de carneiro, na bunda, para rejuvenescer? Tem uma clínica conhecida internacionalmente, a clínica La Prairie, na Suíça. A Sophia Loren frequenta. O Roberto Marinho frequentava. É uma clínica que tem um tratamento de uma semana com injeções de embrião de carneiro, de rejuvenescimento. Tem tudo a ver com o Resveratrol e com o Thumeric. Me convidaram. Sabe quanto custa para ir para essa clínica, para ficar uma semana lá, hoje? Vinte mil dólares por pessoa.

E você foi convidado? Sim e falei: “Claro que eu vou”. Passagem aérea na mão. Pode aplicar embrião de carneiro, pode fazer o que quiser. A clínica é um primor. 

 

Créditos

Imagem principal: Rodrigo Marques

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