Eles não podem nos enganar

por Alê Youssef
Trip #185

Enquanto Kaká e Robinho estiverem desfilando na África, é impossível gerar debate político

Como tem acontecido desde 1994, as eleições gerais acontecem em ano de Copa do Mundo. Enquanto Kaká, Robinho e cia. estiverem desfilando na África, é impossível gerar debate político

Terminamos 2009 com a sensação de que 2010 promete. Recarregadas as baterias, chegou a hora de encarar o novo período e seu grande desafio: em outubro teremos a chance de renovar o Congresso Nacional, que contaminado por escândalos vive um dos seus períodos de maior impopularidade. Além disso, elegeremos os novos governadores e o futuro presidente da república.

Mas, da mesma maneira que se mostra importante e decisivo, 2010 parece também perigoso para quem sonha com um ambiente político saudável e com o voto consciente da maioria da sociedade. Como tem acontecido desde 1994, as eleições gerais acontecem em ano de Copa do Mundo. Enquanto Kaká, Robinho e cia. estiverem desfilando na África, é impossível gerar debate político capaz de prender a atenção da população, o que inevitavelmente vai encurtar o período eleitoral.

Os picaretas de plantão, donos dos currais eleitorais que tanto combatemos neste espaço, torcem para que o tempo de campanha seja o mais curto possível. Sabemos que, quanto menos tempo para a informação correr, maior a chance de manutenção do poder deles. Para as candidaturas majoritárias, o impacto do tempo menor não interfere tanto, pois a visibilidade dos candidatos será brutal no pós-Copa. Mas para o Congresso Nacional o tempo para reflexão, formação de opinião de mudança e voto renovado é fundamental.

O problema é tão sério que em 2006, por exemplo, ainda chorávamos o gol do francês Thierry Henry, quando Collor, Sarney, Maluf, Temer, Clodovil, Frank Aguiar e outros baluartes foram muito bem eleitos.

Fanfarrões
Não é novidade que o câncer do Brasil é justamente uma corja instalada no Congresso Nacional, que nunca sai de cena e chantageia governo após governo. Em troca de apoio na Câmara ou no Senado, os eleitos para o poder executivo têm que saciar a fome de deputados e senadores por cargos e verbas. Se não mudarmos essa situação e não arrancarmos boa parte do PMDB, DEM, PP e outros fanfarrões fisiológicos de lá, não há Serra, Dilma, Marina ou qualquer outro que dê jeito.

Tomara que a seleção traga o hexa pra casa e que a ginga do futebol-arte faça bonito. Mas que o apito do juiz desperte, além da celebração por mais um caneco, a atenção para o voto consciente. É possível vibrar com a Copa e termos responsabilidade eleitoral para renovarmos o Congresso Nacional. É possível termos um país que cresce, inclui socialmente e ao mesmo tempo busca ética como um dos pilares da sociedade.

Armando a zaga com transparência, tocando a bola com simplicidade e aproveitando a cabeça aberta para o novo dos nossos atacantes, encontraremos outra política. Não terá bando de coroné capaz de vencer nosso time.

Desta vez eles não podem nos enganar. Feliz 2010.

*Alê Youssef, 33, é sócio do Studio SP e foi um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br

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