Sua casa fica onde?

por Paulo Lima
Trip #251

Para nós e para quem pensa, vive e vê o mundo de maneira semelhante, a casa jamais se limitará a um lugar físico que possa ser delimitado por paredes e fechado com portas e janelas

Nas primeiras reuniões de planejamento desta Trip, as conversas apontavam numa direção consideravelmente diferente do resultado que se apresentou no final. O processo do fazer determinar a fórmula não é algo exatamente estranho ao que fazemos. Ao contrário, nesses quase 30 anos, colecionamos poucas certezas. Uma delas é saber que os planos existem mesmo para fazer os deuses rirem enquanto os viram do avesso.

Mas aqui parece haver uma explicação bastante evidente. Quando inicialmente pensamos que uma edição sobre “Casa” da Trip mostraria imóveis diferentes vividos por gente “descolada” ignoramos um dado crucial: para nós, e consequentemente para quem acaba atraído pelo que fazemos pelo simples fato de pensar, viver e ver o mundo de maneira semelhante, a casa jamais se limitará a um lugar físico que possa ser delimitado por paredes e fechado com portas e janelas. Claro que a relação que temos com o espaço físico que escolhemos para viver é algo muito nobre e pode certamente merecer uma edição da Trip.

Mas, como muitas vezes acontece, o caminho se desenhou naturalmente em outro rumo. Conforme as ideias fluíam, centenas de pessoas interagiam e as teorias do caos, da interdependência e outras tantas faziam seu trabalho, foi se configurando com clareza que para todos os que de alguma maneira compõem esta comunidade formada ao longo de quase três décadas, a noção de casa precisa ser muito mais flexível e ampla, se estendendo para os lados e muito especialmente para dentro. E para além de onde a vista alcança.

Assim, você vai ver, por exemplo, que para o surfista Derek Rabelo, em que pesem suas raízes capixabas e seu amor pelo Brasil, ou mesmo o fato de ter escolhido a Austrália para viver pela forma eficiente e inteligente como o país trata os portadores de necessidades especiais como ele, sua casa de verdade, sem medo dos clichês, é o mar. O lugar do planeta no qual se sente mais vivo e inteiro e onde seus sentidos se aguçam a tal ponto que permitem que sua cegueira se torne um detalhe com o qual ele brinca e se diverte.

Nessa e em todas as matérias contidas aqui, está um extrato poderoso da nossa visão do mundo. Ele e todas as suas potencialidades, em especial as que guardamos dentro de nós, são a casa que precisamos (e queremos) compartilhar da forma mais inteligente e amorosa com tudo e todos os que nela habitam.

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