”A Trip já nasceu sensual. Retratamos pessoas que amamos. E isso, definitivamente, imprime no trabalho”
A sensualidade está marcada na identidade da Trip desde a sua formulação. Ainda que os ensaios fotográficos que a refletem de forma mais direta só tenham surgido algumas edições depois, desde a primeira, em meados de 1986, sua presença era visível e sensível em cada expressão. Do logotipo, inspirado na música africana e na diversidade dos recortes inúmeros da vida, à maneira de retratar, de entrevistar, de ilustrar, de desenhar as páginas. Na escolha de papéis, tintas especiais, recursos e materiais gráficos pouco comuns, sempre apostando nas sensações táteis menos óbvias, nos prazeres dos olhos, dos dedos, da alma...
Acho mesmo que a Trip já nasceu sensual. Assim, foi absolutamente natural ver brotar logo em seguida uma linguagem nova, um jeito próprio e original de documentar a beleza humana. Já ouvi de fotógrafos, editores experimentados de outras publicações relevantes, de leitores, de mulheres e homens fotografados, e mesmo de “observadores neutros”, que a Trip inaugurou um outro olhar para a sensualidade no Brasil. E não só a feminina.
Enfrentando todos os riscos de soar piegas, aqui vai o segredo revelado: a diferença é o amor.
Na gênese do grupo das pessoas que se uniram para levar adiante o projeto, na formulação de sua receita editorial, na direção de arte, na fotografia, nos textos... Em tudo havia – e há – um amor enorme pela natureza humana. Mais do que o interesse profissional ou a exploração de uma atividade empresarial, havia – e há – um genuíno e infinito interesse amoroso pela condição humana e por tudo o que nos define como animais desse tipo.
Assim, não fotografamos apenas mulheres, homens, magros, gordos, negros, amarelos, brancos, héteros, homos, trans, velhos, moços ou outras tipificações que não cabem aqui mas sempre couberam nas nossas páginas.
Na verdade, retratamos pessoas que amamos. E isso, definitivamente, imprime no trabalho. Como amamos, temos interesse verdadeiro em cuidar, em ouvir, em enxergar e valorizar as belezas (todas elas), em gostar dos defeitos, em atrair, em manter por perto e, muito especialmente, em trocar. E isso fica muito claro não só para quem está naquela lista do expediente com os nomes de quem faz a revista, mas para todos aqueles que, entendendo e sentindo essa força amorosa, se sentiram e se sentem irresistivelmente atraídos por ela.
Para desespero de quem não acredita ou tem vergonha dessa palavra, aqui vai mais uma vez entregue, nua, escancarada e desprotegida, a chave da sensualidade da Trip. O segredo do nosso tempero é o mesmo recitado ao longo dos séculos pelos artistas de todas as cepas e cantado e decantado pela dupla sertaneja naquela propaganda da era pré-meme:
É o amor.
Créditos
Imagem principal: Paulo Rocha