Durante palestra no Festival Path 2019, Paulo Lima, fundador da Trip, falou sobre como o interesse genuíno pelo “drama humano” pode ajudar as marcas a se reconectarem com sua essência
Há mais de três décadas, a Trip se debruça sobre os mais variados aspectos do comportamento humano, conversando com as personalidades mais interessantes do país, algumas conhecidas, outras nem tanto. Quem começou essa história em 1986 foi Paulo Lima, que bateu um papo com o público de cerca de cem pessoas num dos auditórios do Festival Path 2019, num domingo chuvoso (2 de junho), sobre a trajetória da empresa e como ela vem ajudando marcas importantes a resgatarem contato com algo muito valioso: o olhar humano.
Paulo acompanhou várias mudanças no mercado de comunicação desde que criou o Trip FM, programa de rádio que vai ao ar semanalmente há 35 anos, e a revista Trip impressa, há 33. Viu a marca se desdobrar em site, canal no YouTube, eventos e podcast, entre outros suportes, acompanhando não só a evolução da tecnologia e o modo como as pessoas consomem a informação como também as mudanças de comportamento que alimentam os conteúdos. “A Trip já mudou centenas de vezes, mas a essência continua a mesma. O que a gente faz é prestar atenção em gente, estudamos como as pessoas funcionam, o que exatamente as move e comove”, explica Paulo.
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O olhar genuinamente curioso e atento para as questões humanas resultou na criação da revista Tpm, em 2001, pioneira na forma mais contemporânea de ver e lidar com o feminino no Brasil, numa época em que as revistas disseminavam conteúdos que hoje podem parecer absurdos. “A ideia de empoderamento era uma ficção. As chamadas de capa eram coisas como ‘17 maneiras de amarrar seu homem’ ou ‘como se livrar da celulite em minutos’. Sabíamos que já havia uma quantidade gigantesca de mulheres no país que não se enxergavam e não pensavam daquela maneira obtusa e resolvemos discutir isso”, relembra.
“Para poder acompanhar o mundo de 2050 você vai precisar não só inventar novas ideias e produtos – acima de tudo, vai precisar reinventar a você mesmo várias e várias vezes”, foi a frase que o escritor israelense Yuval Noah Harari usou para enfatizar a importância da renovação de ideias, para além da busca por soluções tecnológicas, quase imperativa no mundo dos negócios. “Não adianta ter uma tecnologia de ponta sem história pra contar”, comenta, lembrando de quando foi chamado para visitar e trocar ideia com os sócios de uma premiada empresa norte-americana focada em realidade virtual: “Eles eram capazes de teletransportar você para mundos distintos, mas depois de alguns minutos em que a surpresa passava, não sabiam bem como criar narrativas capazes de manter as pessoas interessadas e longe do tédio”.
No divã
“De 20 anos para cá, algumas empresas vêm procurando a gente. Elas querem isso [um olhar humano] para suas marcas, querem sacar antes as mudanças de movimento”, relembra Paulo, sobre os primeiros projetos de branded content desenvolvidos pela Trip, com marcas ligadas ao mercado de comunicação e moda. “A primeira revista que fizemos foi a da Jovem Pan, em 1997, e a segunda foi a da Daslu, em 1999. Era como ir visitar outro planeta e voltar”, conta.
Marcas dos mais diferentes setores se tornaram parceiras da Trip, que, para além de conteúdo, passou a vender inteligência, ajudando empresas e personalidades a entenderem melhor quem de fato são, clareando suas identidades para, a partir daí, ajudá-las a expressar suas verdades nos mais diversos formatos e finalidades. O gosto por “observar gente”, como diz Paulo, serve de base para o trabalho desenvolvido junto a empresas de prestígio, como a rede de restaurantes Madero e a Gol Linhas Aéreas Inteligentes, que estão entre as clientes. “Nos últimos anos, a gente vem funcionando como uma espécie de terapeuta de marca. Não inventamos o que você tem que ser, só ajudamos a revelar sua identidade, enxergá-la por ângulos diferentes. A partir do momento em que você ilumina isso, consegue se expressar melhor.”
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