Droga é ruim quando usada como forma para alienação, mas pode ser boa para despertar
Droga é ruim quando usada para alienar, entorpecer. Mas pode ser boa para despertar a consciência
Caro Paulo,
Não é por acaso que drogar significa remediar, curar, consertar.
Por isso, sou a favor do uso de droga como remédio e sou contra o uso de droga como alimento. Pode ser maconha, cocaína, consumo, sexo, religião, álcool, trabalho, causa social, jardinagem, maternidade, esporte ou coleção de selos. Sou contra o uso de qualquer tipo de droga quando ela se torna alimento.
Droga não é boa nem má. Mau ou bom é o uso que fazemos dela. Droga se torna ruim quando é usada para alienar, para entorpecer os sentidos e dar à vida do indivíduo um brilho que ela não tem. É algo que vem de fora para dar um realce, para levantar o astral, para animar a pessoa, a festa ou o clima da empresa. Como se a vida como ela é fosse chata, desanimada, sem graça e sem chance de ser diferente.
Ao contrário, droga é bom quando é usada para acordar, para despertar consciência e provocar a ambição do indivíduo de querer tirar mais da vida do que aparentemente ela oferece.
Dinheiro e poder
Por exemplo, pegue o trabalho, uma atividade comum a todos nós.
Quem trabalha apenas pelo dinheiro e pelo poder em geral julga o trabalho um mal necessário para vencer na vida e, com certeza, nunca vai esperar tirar dessa atividade um significado que dê realce e anime o seu dia a dia. Sua satisfação pessoal nunca será plena porque sempre dependerá de mais dinheiro e mais poder, que são infinitos.
Assim, eternamente insatisfeito, ele se tornará presa fácil para fazer do trabalho um vício ou procurará outras drogas para compensar, como o consumo, a cocaína, a causa social ou a coleção de selos (ou dependerá do endomarketing para ser motivado no trabalho).
Esse é um cara drogado, alienado, infeliz, uma presença nefasta na sociedade porque seu estilo de vida reforça a manutenção do status quo e impede a nossa evolução como indivíduos e sociedade.
Porque se ele for mais ambicioso e quiser tirar do trabalho mais do que dinheiro e poder, com certeza usará seu talento para questionar por que as coisas são como são. Fará perguntas inconvenientes para mentes entorpecidas que ainda não tiveram oportunidade de buscar propósito e significado no básico e no cotidiano da vida, como o trabalhar, o ganhar dinheiro, o amamentar, o praticar esporte ou o consumir.
É o significado do que fazemos que nos deixa satisfeitos, e não o que fazemos. E o significado está dentro, não está fora.
Sem significado, a droga vira alimento porque serve à fome física que nunca se sacia. É viciante porque sua medida é a quantidade. Com significado, a droga é instrumento: cura, promove, aperfeiçoa, resgata equilíbrio, amplia consciência, eleva a qualidade de vida, nos põe para frente. Mas isso depende da atitude de quem a usa, e não da droga.
Enfim, nada de novo. É nóis na fita.
Meu abraço, Ricardo.
*Ricardo Guimarães, 61, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimaraes@trip.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus