Documentário SOSEK, de André Ferezini, apresenta o trabalho e a viagem existencial do artista visual Kadu Doy a.k.a. Sosek, que iniciou sua trajetória no grafite
As grandes cidades não são mudas. Elas falam, muitas vezes gritam, e as palavras nem sempre são belas. Para a maioria das pessoas, o que a cidade nos diz, através de seus problemas, nos revela um ambiente em que emergem sentimentos dos mais diversos: frustração, medo, ansiedade, tristeza… Incômodo. Começa aí uma viagem existencial para o artista Kadu Doy, que atualmente assina seus trabalhos como Sosek. "Um incômodo interno e externo também. A gente trabalha nas duas esferas. O incômodo é interno e também como você interage com o externo", diz, sobre a forma como seu trabalho nasce a partir de sua experiência urbana. "Essa vida na cidade é o alimento. Utilizo esse combustível para criar. Minha energia criativa vem tanto da minha relação com o mundo exterior como com o meu mundo interior, dos meus questionamentos internos, da minha evolução, do que eu acredito ser o humano", completa.
Essa percepção de mundo a partir da arte e da sensibilidade de escutar os ensinamentos do dia a dia emergem no documentário SOSEK, de André Ferezini — diretor também de um documentário sobre o tatuador Jun Matsui e de um videoclipe da banda de grindcore Test.
No retrato que Ferezini faz de Kadu aparecem as transformações pessoais experimentadas pelo artista visual que iniciou sua trajetória há mais de 20 anos mergulhado na cultura de rua, especialmente do grafite e da pichação, dos bombs e throw ups, que faz até hoje com seu nome. "Eu comecei muito moleque, 13, 14 anos, então essa escola do grafite e da pichação foi um norte para mim. Eu tinha que espalhar meu nome pela cidade e criar um estilo próprio. É competição mesmo, é o jogo do grafite", lembra.
No entanto, esse ritmo de espalhar o próprio nome de maneira mais agressiva deve seguir caindo, processo que começou nele quando ainda trabalhava como designer e começou a não ver tanto sentido niso, embora ainda goste e faça. "Em 2007, eu saí andando por aí, eu fui pro Japão, e desde esse momento, desde aquela viagem, eu me voltei pra dentro. Já pensei em parar de escrever meu nome várias vezes. Estou escrevendo meu nome, mas pra quê? Mas eu consegui ressignificar essas coisas para mim. É uma prática e também um descarrego", reflete.
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Essa maneira de perceber o mundo fez seu trabalho se desenvolver nessa direção e o levou reflexão existencial constante em que vive e trabalha e que é o fio condutor de SOSEK — o filme é rodado no Glicério e na região central de São Paulo, acompanhando a rotina de Kadu.
Ferezini conseguiu criar uma narrativa interessante a respeito do próprio pintor e das origens de sua obra, suas principais referências e a evolução do seu traço, além de, claro, mostrá-lo trabalhando em suas criações.
A primeira exibição do filme ocorre na Matilha Cultural, dia 24 de agosto, a partir das 19h, com três sessões. O evento ainda conta com apresentações musicais, como a do rapper Rodrigo Ogi. Abaixo, confira o trailer do documentário.