Lugar Público, de José Agrippino de Paula
?Temos orgulho em saudar um criador que vem à arena tão bem-dotado, apresentando não uma hipotética promessa, mas uma rea-lidade cujos contornos, em breve, a crítica e o público deverão consagrar.? Assim relatou Carlos Heitor Cony no prefácio da edição original de Lugar Público, em 1965 ? a última vez que esse livro foi publicado (capa no detalhe). Embora guru da Tropicália ? é o nome mais citado em Verdade Tropical, de Caetano Veloso ?, Agrippino continua ignorado pelo grande público e pela pequena crítica do Brasil.
O autor, que, sozinho, influenciou toda a literatura brasileira contemporânea, vive hoje monasticamente: praticamente só come arroz integral, solitário em sua casa no Embu (Grande SP), onde vive desde o fim dos anos 70, quando surtos de esquizofrenia o afastaram do convívio social (ou terá sido o contrário?). Sua ocupação atual é um livro bizarro e gigantesco (já tem uns 30 cadernos escolares anotados), intitulado Os Desfavorecidos de Madame Estereofônica.
Neste texto de estréia, porém, o que poderia parecer bizarrice saída da mente de um esquizóide na verdade é pura invenção. Um grupo de amigos ? Napoleão, Pio XII e Goering ? perambula por uma São Paulo fantasmática, enquanto um sujeito demora o livro inteiro para se suicidar, e um terceiro busca compreender a morte do pai. A narrativa, obsessiva, literal, repetitiva, é visual ao extremo. Um pesadelo; um exercício radical de linguagem. A própria vida. (Ronaldo Bressane)
Editora Papagaio (www.editorapapagaio.com.br), 272 págs., R$ 32